Uma fila que anda há 302 dias praticamente em um movimento ininterrupto. Salvo as exceções de quando faltou vacina contra Covid devido à ausência de repasse, a aplicação dos imunizantes em Fortaleza segue ritmo contínuo. Com quase 10 meses de campanha, a Capital aplicou, até sexta-feira (12), D1 e dose única (DU) em 93,3% da população vacinável - aquela de 12 anos em diante.
Mas, nessa conta, cerca de 146 mil pessoas ainda não receberam nenhuma dose. O que deve ser feito agora? E, quais os rumos da campanha para alcançar os 100% da população vacinável?
Na Capital, a meta, no atual momento, é vacinar, segundo a Prefeitura, 2.219.883 de pessoas. Isso, conforme a gestão, seguindo as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2020 dos residentes aptos a receberem a imunização. Portanto, de acordo com esse objetivo, 146.905 pessoas ainda precisam ser alcançadas pela campanha.
Até a última sexta-feira (12), o balanço foi o seguinte:
- D1 - 2.040.931
- D2 - 1.741.665
- DU - 32.047
- D3 - 190.128
A cidade, que já chegou a vacinar mais de 50 mil pessoas em um dia, devido à dinâmica da campanha, no atual momento, tem vacinado por dia, em novembro, em média, 1,3 mil pessoas com D1. Conforme o balanço, 79,4% receberam D2 ou DU.
Atualmente, são atendidos via agendamento a população para a D2 e D3. Para quem precisa tomar ainda a D1 a vacina está liberada nas unidades específicas para os cadastrados há mais de 24h no Saúde Digital.
A titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Ana Estela Leite, explica que “estamos entrando em uma nova fase. Temos poucas pessoas sendo agendadas porque já alcançamos um grande número de doses. Nesse momento, está liberado para buscar os centros de vacinação quem não recebeu nenhuma dose” e acrescentou “faço um apelo a quem ainda não tomou a primeira dose”.
O que deve ser feito nesse momento?
Para encontrar ainda as centenas de pessoas que não tomaram sequer uma dose, uma das estratégias adotadas, segundo a secretária, é a busca ativa. O Diário do Nordeste questionou à SMS se a Prefeitura tem algum diagnóstico de quem são essas pessoas, quais os bairros, se já estão cadastrados ou sequer se registraram.
Contudo, em resposta enviada, a secretária diz apenas que “estamos nos territórios. As equipes de saúde estão fazendo ações específicas nesses territórios em que há pessoas que precisam ser vacinadas”.
A médica pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Regional Ceará, Jocileide Sales Campos, explica que é preciso considerar que a população vacinável representa cerca de 75% da população geral. “Temos crianças menores de 12 anos que são um percentual bem elevado da nossa população. Isso já dificulta um pouco a vacinação que faz a barreira. O ideal é que a gente tenha 90% ou mais da população vacinável, vacinada”.
Para Jocicleide, o momento deve ser de atenção e investimento em campanhas que evidenciam os benefícios da vacinação. “A população precisa ter a certeza que a vacinação realmente protege. E não é difícil ter essa certeza porque todas as doenças que são preveníveis por vacina estão controladas e até erradicadas”, defende.
É possível atingir os 100%?
No Brasil, algumas das grandes cidades, como São Paulo, já atingiu 100% da população vacina com D1, mas há discussões sobre a porcentagem de cobertura vacinal que o país conseguirá atingir. Questionada se há realmente condições viáveis de atingir os 100% das pessoas vacináveis, a Prefeitura respondeu apenas que “o objetivo é esse”.
A presidente da SBIm Regional Ceará, Jocileide Sales Campos, destaca que "não é impossível, mas é mais complexo. Se as pessoas estão esclarecidas, não é impossível que isso seja alcançado. Quanto mais próximo do ideal de 100%, melhor. E que seja superior a 95%. Porque as pessoas vão realmente criar uma barreira para que o vírus não continue circulando e multiplicando a doença”.
“A vacina é a principal ferramenta para o controle da doença. Não há a menor dúvida. Isso tem se comprovado no mundo inteiro”.
Ela também reforça que quando se trata de cobertura vacinal não é adequado que uma cidade tenha 100% da cobertura e outra 80% por exemplo e que somadas atinjam 90% de média. “O importante é que todos estejam com a mesma média. O ideal é que o mínimo de vacinação de cada município, estado e do país chegue a ser de 95%. Se tem uma cobertura menor, essa localidade, que junta essas pessoas, vai ter mais chances de adoecimento”.