Febre baixa em alguns casos, em outros não; garganta “arranhando”; nariz entupido; tosse. O quadro é, via de regra, de uma gripe comum, mas tem sido frequente entre pacientes com Covid no Ceará após festas de fim de ano.
O advogado Átila Alves, 35, por exemplo, chegou a confundir a doença com “uma crise alérgica”, já comum para ele. “Sábado (25/12) fui a uma festa, domingo fui a outra. Na segunda-feira (27), tava com a garganta ardendo muito, e pensei que ia gripar”, relata.
Dois dias depois, ele foi ao médico, “que tava lotado”, e buscou fazer o exame para diagnóstico do coronavírus em um laboratório privado de Fortaleza. Deu positivo, pela primeira vez desde o início da pandemia, em 2020.
Muita gente que foi pra esse pré-réveillon em que eu estive testou positivo. Muitos estão com sintomas, acham que é só uma gripe, não fazem o teste e ficam passando pros demais.
Nesta terça-feira (4), uma semana após o início dos sintomas – tosse, dor de garganta, febre baixa e perda de olfato e paladar –, o advogado afirma que “é como se estivesse assintomático”, o que atribui à imunização contra a doença.
“Estou com as duas doses da vacina da Covid e tomei também a da gripe. Estou bem, não sinto cansaço, trabalhando em home office normal. Vou fazer outro teste pra voltar às minhas atividades”, descreve Átila.
Testagem no Ceará
De 1º de dezembro de 2021 até essa segunda-feira (3), foram realizados 56.711 testes de Covid no Ceará, entre RT-PCR e rápidos. Quase 5 mil deles (4.936), o correspondente a 8,7% do total, deram resultado positivo, conforme dados da Secretaria da Saúde (Sesa).
Para fins de comparação, entre 1º de dezembro de 2020 e 3 de janeiro do ano passado, foram feitos mais de 141 mil testes para diagnóstico do coronavírus no Estado. Do total, 37 mil positivaram, cerca de 26% do total.
Onde fazer teste de Covid gratuito em Fortaleza
- Centro de Testagem para Viajantes no Aeroporto de Fortaleza;
- Centro de Testagem para Viajantes na Rodoviária de Fortaleza;
- Praça do Ferreira (antigo Excelsior Hotel), sem necessidade de agendamento;
- Drive-thru no Hospital Geral (HGF) e no RioMar Kennedy, com agendamento;
- 116 postos de saúde da cidade.
Também imunizada com duas doses da vacina anticovid e prestes a tomar a dose de reforço, a jornalista Julyana Silveira, 37, testou positivo para a doença na primeira segunda-feira do ano (3), dois dias após aparecerem a coriza, a tosse e o quadro febril leve.
“Não sei como peguei nem de quem, porque não fui pra nenhuma aglomeração. Passei o réveillon na casa de uns amigos, e todos se resguardaram uma semana antes, para evitar exposição”, declara.
Ao receber o resultado do teste confirmando a primeira infecção pelo coronavírus, a jornalista se isolou e comunicou aos amigos com quem teve contato. Duas outras pessoas apresentaram sintomas depois da comemoração de fim de ano.
Estou de máscara N95 em casa, dormindo em outro quarto, e isolei copo, prato, talher, fiz o que pude. É impossível me isolar 100%, porque tenho duas filhas pequenas que me requisitam.
Para a estoquista Luciana Araújo, 28, ver a palavra “reagente” no teste que realizou após uma reunião de amigos no réveillon, em Fortaleza, foi “um baque”. “Dia 2, amanheci com a garganta arranhando, o nariz meio entupido, e já me assustei. Mas não imaginei que era Covid, pensei que poderia ser influenza”, conta.
Com o resultado positivo para coronavírus, veio o isolamento total dos pais, que vivem na mesma casa, e o repouso. Assim como Átila e Julyana, Luciana aposta que a não gravidade dos sintomas é conferida pelas duas doses do imunizante.
“Ano passado, vários amigos meus adoeceram, alguns graves. Então apesar de ter começado a sair mais, depois da vacina, eu ainda tinha medo de pegar, mantinha os cuidados. Mesmo assim, peguei. É importante manter o alerta e fazer o teste”, finaliza.
Perigo da alta transmissibilidade
Especialistas em saúde observam que os sintomas causados pela variante Ômicron, que já tem transmissão comunitária em Fortaleza, são aparentemente mais leves, mas que a alta capacidade de disseminação dela representa um risco.
“Não sabemos se podemos estar criando novas variantes com esse exagero de transmissão. Vírus quando se replica muito pode gerar isso. A pandemia não acabou. E se quisermos acabar com ela, temos que impedir o vírus de se replicar”, alerta a epidemiologista Lígia Kerr.
Na última quinta-feira (30), o Coletivo Rebento – Médicos e Médicas em Defesa da Vida, da Ciência e do SUS publicou texto recomendando uma série de providências a serem adotadas pela população e pelo poder público diante da epidemia gripal e da pandemia de Covid no Ceará.
Um dos alertas dos médicos foi para o fato de que “uma doença mais transmissível costuma causar mais estragos que o contrário”. “Numa quantidade gigantesca de casos, uma menor proporção de complicações ainda será um grande dano”, pontuou o coletivo.