Boa parte dos cães de grande porte costuma intimidar pelo tamanho, mas esse não é o caso do Golden Retriever. Apesar de ser considerada ativa e forte, a raça traz docilidade não só no semblante, mas também como uma de suas principais características.
Conforme Caroline Moreno, criadora da raça e uma das responsáveis pelo canil Golden Fortress Kennel, em Fortaleza, o Golden Retriever é considerado por muitas pessoas o cão mais doce do mundo, sendo perfeito para companhia da família.
O cão também é muito inteligente, podendo, conforme a criadora, realizar atividades de diversas naturezas, dada a sua ampla capacidade de aprendizagem.
Entre as atividades que podem ser exercidas pelo cachorro, estão truques para alegrar crianças, guia para Pessoas com Deficiência (PcD) e até terapia, ajudando no desenvolvimento de crianças com necessidades especiais.
Além disso, segundo a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), o cão é amável, amigo, confiável e obediente, tendo "natural habilidade para o trabalho".
Tal conjunto de características, conforme o médico veterinário Breno Pinheiro*, entusiasta do meio da cinofilia, motivou a criação da raça dois séculos atrás.
Origem da raça
Conforme Breno Pinheiro, o Golden Retriever é proveniente da Escócia, no Reino Unido, tendo surgido por volta do século XIX. O animal foi criado com o intuito de ajudar caçadores no transporte de objetos.
Dadas as condições geográficas do país escocês, a raça necessitava ter força e capacidade de cruzar rios com baixas temperaturas. Dessa forma, aponta o médico veterinário, foram usados cães do grupo dos spaniels, como o atualmente extinto Tweed Water Spaniel, e do grupo dos retrievers.
Breno Pinheiro sinaliza, inclusive, a possibilidade de o Golden Retriever ter descendido também de retrievers arraçados, oriundos de cruzamentos de uma ou mais raças do grupo, além de cães como o Terranova e o Setter Irlandês, este originário do país vizinho. "Na época, no século XIX, não existiam pedigrees, então essa questão racial não era muito bem estabelecida".
Características físicas
A raça é considerada de grande porte, com, em média, 60 centímetros (cm) de altura de cernelha, segundo o médico veterinário. A medida considera a ponta da pata dianteira à base do ombro do animal.
Conforme a CBKC, as fêmeas podem ser ligeiramente menores, atingindo até 56 cm. A entidade alerta que desvios nos padrões de tamanho devem ser considerados como falta, podendo provocar efeitos na saúde, no bem-estar e na habilidade do cão na execução de trabalhos.
Breno Pinheiro pontua que exemplares da raça, considerada forte, pesam cerca de 30 quilogramas (kg) e têm olhos escuros. A trufa do animal — área do focinho com as narinas — é preferencialmente preta, segundo a CBKC.
Golden é peludo
Outro aspecto comum à raça é o pelo longo, variando de liso a ondulado. Normalmente, a pelagem chega a ser franjada na região abdominal.
O profissional avalia que o Golden Retriever é comumente confundido com outras raças, principalmente o Labrador Retriever. "Como eles são cães que têm uma base de origem 'semelhante' — eles, inclusive, fazem parte do mesmo grupo racial, que são os apontadores e cães d'água —, é comum essa confusão", considera.
De maneira geral, aponta Pinheiro, o Golden Retriever, se comparado ao Labrador Retriever, é de maior porte, mais robusto e tem pelo longo, característica distinta do Labrador.
Variações de cores
De acordo com o especialista, há variações nas cores da pelagem da raça. As mais observadas variam do amarelo ao vermelho, inclusive com cães cor de creme a tons de alaranjado, muito próximos ao vermelho. Cães brancos e pretos não são reconhecidos no padrão racial.
Os Kennel Clubs, segundo ele, reconhecem apenas as pelagens em torno do creme e do dourado, as quais vão dos tons claro a escuro, o que pode ser atestado nos padrões definidos pela CBKC. A entidade não aceita as cores vermelho ou mogno, permitindo, apenas, "alguns pelos brancos no peito".
Cuidados com a raça
Por ser criada para trabalho, não para companhia, a raça demanda alguns cuidados, os quais, de acordo com Breno Pinheiro, relacionam-se ao enriquecimento ambiental do cão.
"O filhote que vai ficar do começo até a sua velhice preso, confinado, sem estímulos, vai tender a problemas comportamentais", ressalta, acrescentando que a prática diária de exercícios físicos por pelo menos uma hora é recomendada.
Dado o instinto de trabalho do Golden Retriever, o profissional enfatiza a necessidade de estímulos como treinos de obediência e agility. Além disso, os cuidados com a pelagem devem ser observados: a escovação deve ser diária. Caso isso não seja possível, deve ser feita pelo menos uma vez por semana.
O profissional ressalta que, na falta desse cuidado, problemas como a dermatite úmida aguda podem surgir. A disfunção, úmida e com formato geográfico, aparece rapidamente no pelo do animal, que pode chegar a cair.
Problemas de saúde
A raça, segundo o médico veterinário, não possui muitas doenças genéticas, mas é suscetível a uma disfunção chamada displasia. Ela pode tomar diversas formas, sendo as principais as do tipo cofemural — articulação da pata posterior na inserção no quadril — e a de cotovelo, manifestas normalmente por questões genéticas.
O profissional recomenda que, ao comprar um filhote, o tutor verifique a procedência do canil: a unidade deve realizar a avaliação da radiografia dos pais no intuito de verificar displasias, as quais são medidas em graus.
"[Os graus] são feitos, inclusive, por meio de letras (A, B, C, D e E). O recomendado é que os filhotes sejam de pais cujas chapas sejam A ou B", aconselha, pontuando, em seguida, a possibilidade de ocorrência da disfunção por fatores ambientais.
"Em pisos escorregadios, filhotes que não fazem alto estímulo motor têm maior tendência ao desenvolvimento das displasias. Cabe ficar atento, evitar pisos escorregadios e realizar o exercício físico para o fortalecimento da musculatura", assevera.
Além desses problemas, o cão pode desenvolver problemas de pele, como certos graus de dermatopatia, e cardíacos. As dermatopatias, explica o médico veterinário, não são necessariamente predispostas pela falta de escovação, mas a ausência do cuidado pode trazer certos problemas.
"O nó vem decorrente da não escovação e vai formando mais nós, e eles vão juntando sujidades, que podem, eventualmente, se o cão tiver sensibilidade, induzir a uma alergia", atesta.
Corte do pelo do animal
Apesar de muita gente retirar os pelos dos animais para reduzir sujeiras, o médico veterinário orienta que a ação seja feita de forma regular. "Não é recomendado que seja feita tosa no zero quando se está no pico do calor no estado do Ceará, pois o pelo também vai funcionar como isolante térmico", explica.
Ainda segundo ele, o animal já resiste bem às temperaturas mais quentes, dado que a raça já está bem estabelecida no País.
"Normalmente, os cães que nascem nos trópicos já têm uma maior ambientação a isso [calor], o que não quer dizer que nos momentos climáticos de maior temperatura eles não venham a sofrer".
Quanto custa um filhote
Pelo conjunto de características do animal, o preço de um filhote pode ser mais alto que o de outras raças. E há grande variação de preços: "Vai depender de onde você compra, com quem você compra e se o filhote tem pedigree ou não".
Ele recomenda que os cães da raça sejam comprados em canis que se proponham à criação da raça e sejam idôneos e reconhecidos pelos Kennel Clubs e pelas federações cinológicas. Nessas condições, diz ele, um filhote com pedigree pode ir de R$ 3 mil a R$ 6,5 mil.
A criadora Caroline Moreno afirma que as variações, em alguns locais, podem existir a depender se o cão for macho ou fêmea, embora a maioria dos canis responsáveis trabalhem com contrato de castração — o que independe do sexo do animal. Ela estima que a média de preço está entre R$ 4,5 mil e R$ 6,5 mil.
Quanto tempo vive
A média de vida de um Golden Retriever, segundo o médico veterinário, é de dez a 13 anos.
*Breno Queiroz Pinheiro é médico veterinário pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), com especialização em Oncologia Veterinária pela Faculdade Qualittas e mestre em Ciências Veterinárias pela Uece. Atualmente é professor de clínica médica dos caninos e felinos na faculdade de veterinária da Uninassau.