Ceará registra 4 mortes e 56 casos de meningite neste ano; veja sintomas e como prevenir

Doença causa inflamação na região cerebral e atinge principalmente os bebês menores de 1 ano

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Bebê vacinado contra meningite
Legenda: Bebês são grupo mais vulnerável à doença grave e devem ser imunizados contra a meningite
Foto: Shutterstock

Uma doença grave, transmissível e que pode deixar sequelas ou levar à morte tem atingido pelo menos 5 cearenses por semana, em 2024: a meningite. Até o dia 9 de março, 56 casos foram confirmados no Ceará – e 4 pessoas morreram em consequência da infecção.

Do total de confirmações, 3 foram de doença meningocócica (causada por bactérias) e 53 de outras meningites (por vírus, parasitas, fungos ou outros agentes). Estas últimas foram a causa de todos os óbitos do ano no Estado, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).

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A meningite é uma inflamação das membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, e tem quadros mais graves em bebês no primeiro ano de vida – embora possa acometer qualquer pessoa não vacinada, como alerta a médica pediatra Vanuza Chagas.

É uma doença extremamente grave, e a faixa etária com maior incidência é a de menores de 1 ano. Mas qualquer pessoa que não esteja com o esquema vacinal em dia para se proteger do meningococo está vulnerável. 
Vanuza Chagas
Médica pediatra

A médica destaca ainda que, “quando o meningococo ganha a corrente sanguínea, ocorre a meningococcemia, que é um quadro extremamente grave e atinge praticamente todos os órgãos e sistemas do corpo”.

Até o início de março, pelo menos 22 municípios cearenses tiveram pacientes atingidos pela meningite. Mais da metade dos casos, porém, se concentram na capital, com 29 notificações. Uma das mortes também ocorreu na cidade.

Os outros 3 óbitos por meningite neste ano ocorreram nas localidades de Quixadá (1), Viçosa do Ceará (1) e Crato (1).

Quais os sintomas da meningite?

Os sintomas iniciais da meningite se assemelham aos de uma síndrome gripal, incluindo febre, dor de cabeça, dor de garganta, dores no corpo, perda de apetite, náuseas e vômitos, conforme lista Vanuza Chagas.

Entre 9 e 15 horas da doença, explica a médica, eles começam a evoluir, e incluem:

  • Rigidez na nuca;
  • Mãos e pés frios;
  • Manchas na pele;
  • Fotofobia (sensibilidade à luz).

Após cerca de 16 horas ou um dia inteiro do adoecimento, a meningite pode gerar manifestações mais graves, causando convulsões, perda de consciência, choque séptico e levando a óbito.

O Ministério da Saúde descreve ainda os sintomas das meningites causadas agentes além das bactérias, todos semelhantes:

  • Sintomas de meningite viral: febre, dor de cabeça, rigidez de nuca, náusea, vômito, falta de apetite, irritabilidade, sonolência ou dificuldade para acordar, letargia, fotofobia (aumento da sensibilidade à luz).
  • Sintomas de meningite por parasitas: dores de cabeça, rigidez de nuca, náuseas, vômitos, fotofobia (sensibilidade à luz) e/ou estado mental alterado (confusão).
  • Sintomas de meningite por fungos: febre, dor de cabeça, rigidez de nuca, náusea, vômitos, fotofobia (sensibilidade à luz), e status mental alterado.

Meningite é transmissível?

A depender do agente causador, a doença pode, sim, ser transmissível. O Ministério da Saúde lista as possíveis formas de transmissão da meningite:

  • Meningite bacteriana: as bactérias se espalham de uma pessoa para outra por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Outras bactérias podem se espalhar por meio dos alimentos;
  • Meningite viral: a transmissão muda a depender do vírus. Se for enterovírus, os vírus passam ao tocar ou apertar as mãos de alguém infectado; tocar em objetos ou superfícies com o vírus e depois tocar nos olhos, nariz ou boca sem lavar as mãos, trocar fraldas de uma pessoa infectada, beber água ou comer alimentos crus que contenham o vírus. Se for arbovírus, ocorre pela picada de mosquitos contaminados;
  • Meningite por fungos: não é transmitida de pessoa para pessoa. Os fungos são adquiridos pela inalação dos esporos (pequenos pedaços de fungos) presentes em solos ou ambientes contaminados com excrementos de pássaros ou morcegos. Um outro fungo, chamado Candida, geralmente é adquirido em ambiente hospitalar;
  • Meningite por parasitas: não são transmitidos de uma pessoa para outra, e normalmente infectam animais. As pessoas são infectadas pela ingestão de produtos ou alimentos contaminados que tenham a forma ou a fase infecciosa do parasita.

Vacina da meningite

O Brasil não tem atingido, nos últimos anos, a cobertura mínima de 95% do público-alvo para a vacinação contra a meningite. 

No Ceará, até outubro de 2023, 87,9% haviam tomado a primeira dose e 89,3% acessaram o 1º reforço, segundo os dados mais recentes disponibilizados pela Sesa. O consolidado do ano passado não foi informado.

Em anos anteriores, o Ceará também não atingiu a meta, conforme o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI):

  • 2020: 91,9% tomaram a meningocócica C, e 87,9% o 1º reforço;
  • 2021: 75,1% tomaram a meningocócica C, e 70,8% o 1º reforço;
  • 2022: 85,9% tomaram a meningocócica C, e 85,6% o 1º reforço.

Como prevenir a meningite

O médico Robério Leite, que é infectologista pediátrico, observa que a chegada da vacina contra meningite ao Sistema Único de Saúde (SUS) reduziu os casos de forma expressiva: mas o Ceará segue com uma “letalidade alta” pela doença.

“A vacina não impede que ocorra a doença, mas ocorrendo é preciso um sistema de saúde atento pra identificar o paciente e promover o que ele precisa. É uma doença desafiadora pra qualquer sistema do mundo, com letalidade alta, mas infelizmente estamos acima da média”, frisa

A prevenção da doença deve ocorrer por meio da vacinação correta e atualizada das crianças. Para adultos infectados, a recomendação é o isolamento, uso de máscara e acompanhamento médico obrigatório.

Nos postos de saúde, estão disponíveis a vacina meningocócica C, para aplicações em bebês de 3 meses, 5 meses e 1 ano de idade; e a meningocócica ACWY, voltada para o público adolescente.

Já a meningocócica tipo B está disponível apenas na rede privada, para a faixa etária de 2 meses a 50 anos de idade.

Robério Leite reforça que, ao se vacinar, “você não vai deixar espaço pra que a bactéria colonize os indivíduos e seja transmitida a alguém não vacinado”: então, “se você tem aumento da cobertura vacinal, você fecha o ciclo de transmissão”.

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