Ponte dos Ingleses tem estrutura desfeita e completa 5 anos fechada com obras paradas; veja imagens

Concretagem, manutenção e restauro foram realizados, mas a retomada da obra está prevista este mês

A Ponte dos Ingleses – estrutura centenária, turística e conexão com a beleza do mar cearense –  completa 5 anos com a barreira metálica que indica uma reforma e impede sua visitação. No entanto, a obra está parada devido a um descumprimento contratual.

A promessa do Governo do Estado é que as intervenções devem voltar neste mês, mas não há um prazo divulgado para a entrega final e não há demais respostas sobre o local, um dos principais cartões postais de Fortaleza.

O fechamento aconteceu em janeiro de 2018 e, exatos 3 anos depois, a Prefeitura de Fortaleza começou a recuperar os pilares e as vigas do equipamento. Na época, a previsão de conclusão era de 6 meses, mas os processos terminaram apenas em junho de 2022.

A Secretaria da Infraestrutura de Fortaleza (Seinf) realizou a concretagem das ferragens, manutenção preventiva e restauro estrutural com investimento de R$ 4,1 milhões. Mas tanto a Prefeitura quanto o Governo do Estado atuam para recuperar a estrutura.

Desde junho do último ano, a Seinf liberou o espaço para que os trabalhadores contratados pela rede estadual pudessem atuar. Porém, isso não aconteceu como o esperado. Agora está apenas a estrutura de concreto sem o piso e os quiosques de madeira.

“O canteiro de obra foi desmobilizado e entregue oficialmente para a Superintendência de Obras Públicas (SOP), órgão responsável pelas obras de urbanização do equipamento e que deveria ter iniciado os serviços na época”, informou a Seinf.

Contudo, o Governo do Estado rescindiu o contrato com a empresa responsável pela recuperação estrutural, com orçamento de R$ 2,6 milhões do contrato de março de 2022.

Ocorreu um descumprimento contratual por parte da empresa, com isso foi rescindido o contrato, explicou a SOP sobre o encerramento do acordo. Então, afinal, como deve ficar a Ponte dos Ingleses?

“O processo para a contratação de uma nova empresa está em fase de conclusão e a obra deve ser retomada em fevereiro de 2023”, respondeu a Superintendência de Obras Públicas.

O Diário do Nordeste procurou a SOP em busca de entrevista com o superintendente para entender o que ainda precisa ser feito na estrutura e quanto tempo vai levar para a conclusão de fato, mas o pedido não foi atendido.

Antes do contrato com a empresa, o Governo do Estado fechou um acordo com outra empresa, em outubro de 2020, no valor de R$ 1,5 milhão para a recuperação da Ponte dos Ingleses. O prazo estabelecido era de 6 meses a partir do recebimento da ordem de serviço.

Interdições na Ponte dos Ingleses

A Ponte dos Ingleses ficou 60 anos sem manutenção e, por representar risco de desabamento, teve o acesso proibido na década de 1990, como registram reportagens da época analisadas pelo Núcleo de Pesquisa do Diário do Nordeste.

Mesmo com o bloqueio, a população ainda frequentava o espaço e a Câmara Municipal aprovou um projeto determinando a recuperação da estrutura, mas que nunca saiu do papel. Em 1994, a readequação foi concluída em 60 dias.

Em outubro daquele ano, a reinauguração aconteceu com apresentação de orquestra, uma regata de 50 jangadas e revoada de pombos. Famílias, ciclistas e surfistas lotaram o espaço para conferir o resultado da estrutura que passou tanto tempo sem manutenção.

Na época, a Ponte dos Ingleses tinha 3 quiosques-bares, um quiosque para informações turísticas, um para comercialização de artesanato e outro para passatempos. Também havia um restaurante e uma torre de monitoramento de golfinhos.

Em 1996, a estrutura voltou a ser interditada, mas dessa vez por apenas 11 dias. Naquele episódio, a ressaca do mar causou danos superficiais à Ponte. Três anos depois, em 1999, uma nova interdição.

A Ponte ficou 40 dias fechada para obras de recuperação e pintura. Uma novidade naquele momento foi a instalação do Café Estação Ambiental, que tinha livraria especializada em ecologia.

Em julho de 2012, a Ponte dos Ingleses foi reaberta após mais de um ano sem acesso do público. A população reclamava do abandono, da escuridão e da falta de segurança. A reforma foi a mais expressiva desde 1994.

A mais recente interdição aconteceu no dia 25 de janeiro de 2018, quando a obra deveria acontecer em 10 meses com investimento de R$ 19 milhões. As ações tinham o objetivo de recuperar o piso, guarda-corpos, quiosques e soluções sustentáveis para água e esgoto.

Prejuízos para a cidade

Cearenses e turistas mantêm lembranças das ondas entre os pisos de madeira, do vento forte e do pôr do Sol visto a partir da Ponte dos Ingleses. Com a interrupção, no entanto, os frequentadores da Praia de Iracema perdem a vivência da cidade.

“Eu tenho defendido que a cidade tem um corpo, mas também uma alma - o corpo é tudo que é físico e a alma são as pessoas e o que você não vê, mas estão atuando no ambiente”, reflete Ricardo Bezerra, professor aposentado da Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Quando o Poder Público vai requalificar os espaços só se preocupa com o corpo e não olha para a alma da cidade. Não se preocupa com o elemento humano
Ricardo Bezerra
Arquiteto

O professor critica a frequência com que alguns equipamentos públicos passam por intervenção naquela região num processo de “requalificar e desqualificar, que parece ficar mais rápido”, como analisa.

No caso da Ponte dos Ingleses, o especialista indica que a sociedade também deve contribuir para manter o equipamento em bom estado. “Uma construção no mar é mais delicada pelas questões de engenharia, ali embaixo tem as marés agindo, assoreamentos e tudo isso influencia”, completa.

Como surgiu a Ponte dos Ingleses

Em 1920, a Ponte dos Ingleses começou a ser construída para ser utilizada como porto de embarque e desembarque tanto de pessoas quanto de mercadorias, como registra o Mapa Cultural do Ceará. A ideia era ter 800 metros de comprimento, mas só 130 foram finalizados.

Naquela época, a Ponte Metálica (atualmente conhecida como Ponte do Poço da Draga) estava em péssimo estado de conservação. A estrutura alternativa recebeu esse nome por ter sido desenhada por engenheiros da empresa inglesa Nastor Griffts.

Mas a construção foi suspensa por falta de orçamento e ficou abandonada na gestão de Artur Bernardes (1922 - 1926). Mesmo nunca tendo servido como porto, a estrutura foi apropriada pela população.

Em 1989, a Ponte dos Ingleses foi tombada pela Câmara Municipal de Fortaleza e isso garante uma proteção da estrutura. Já em 1994, a estrutura foi reformada e ganhou uma galeria de arte e um observatório marinho da UFC.