Queloide: o que é, o que causa e como cuidar

Machucados na pele podem gerar cicatrizes, no entanto, há casos em que elas podem ser anormais e se transformar em um queloide

Traumas na pele, como cortes, furos e feridas, podem gerar cicatrizes, que são o processo natural de reconstituição do tecido danificado. O cenário ideal é que esse fenômeno resulte em uma marca uniforme, suave e de cor semelhante ao do restante da derme. No entanto, há casos em que isso não acontece, a exemplo de quando existe a formação de um queloide.  

Essa condição é caracterizada pelo desenvolvimento de uma cicatrização incomum, que é rígida, volumosa e que pode ocupar uma área maior que a original do machucado. Pacientes com esse quadro podem ter diversos sintomas, psicológicos ou físicos, que diminuem a qualidade de vida

O que é queloide 

Ao sofrer um corte, uma queimadura ou passar por cirurgia, a pele automaticamente começa um processo natural para se regenerar e formar um novo tecido sobre o machucado e curar a ferida. No entanto, não é uma regra que essa nova derme seja lisa, uniforme e discreta.  

Na verdade, o processo de regeneração pode resultar em uma cicatrização anormal no local do trauma, onde há o crescimento exagerado do tecido cicatricial, formando, assim, um queloide, como explica a dermatologista Isabelle Duque*.  

Ela detalha que pessoas com pele mais pigmentada, como negras e pardas, possuem 15 vezes mais chances de desenvolver a condição. Indivíduos de origem asiática também são mais propensos, segundo o Ministério da Saúde (MS), que informa ainda que ela pode ocorrer em 5% a 15% das feridas cirúrgicas.  

 

É comum que a formação de queloides seja observada em homens e mulheres, ou seja, ambos os sexos têm a mesma chance de ter a cicatrização anormal. No entanto, como detalha a autoridade federal, é mais frequente que mulheres a tenham.   

É importante frisar que queloides são diferentes de cicatrizes hipertróficas. Apesar de ambos apresentarem vermelhidão, coceira e elevação na pele, o primeiro é caracterizado pelo crescimento anormal da derme, ultrapassando os limites do ferimento. Já a última é menos intensa e se detém ao limite do machucado, podendo reduzir com o tempo, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia — Regional Rio de Janeiro (SBD-RJ). 

Qual o perigo? 

Isabelle Duque explica que, apesar de ser uma formação anormal, o queloide é benigno e não representa uma ameaça para a saúde do paciente. Dessa forna, a regeneração incomum da pele não apresenta risco, mas pode provocar desconforto. 

Indivíduos que desenvolvem a condição podem se queixar de dor, de coceira leve ou de uma sensação de queimação ao redor da cicatriz. Ela ainda pode limitar alguns movimentos, dependendo da região em que surge e da extensão, causando incomodo físico e psicológico, conforme listado pelo MS.  

O que causa queloide? 

Se o indivíduo tiver tendência a formar o fenômeno, qualquer lesão que pode gerar uma cicatriz, desde acne a um procedimento cirúrgico, pode causar um queloide, segundo a especialista dermatológica.  

É comum que ele apareça principalmente em áreas como tórax, colo, pescoço, anterior dos ombros, braços e orelhas, mas, como detalha a médica, também é possível que ele surja em outros locais. 

O Ministério da Saúde descreve algumas situações que podem gerar a cicatriz anormal. São elas: 

  • corte simples; 
  • cirurgia; 
  • queimadura; 
  • cicatrizes de acne severa; 
  • furar a orelha, para colocar brincos, ou outras partes do corpo, para piercings; 
  • tatuagem; 
  • feridas de catapora após a cura da doença. 

Existem relatos raros em que esse tipo de formação incomum aparece mesmo sem haver um ferimento. Esse fenômeno é chamado de “queloide espontâneo” e é mais comum nas regiões do tórax, do colo, do pescoço, dos ombros, dos braços e das orelhas, mas outros locais podem ser afetados, segundo a pasta federal.  

Como tirar queloide 

Solucionar a condição pode ser complicado, já que é difícil conseguir reduzi-la ou até mesmo acabar com ela por completo, já que é possível que ela retorne ou até mesmo piore a depender do tipo de intervenção utilizada.  

No entanto, no mercado existem alguns métodos que podem ser usados para amenizar o caso. Segundo Isabelle Duque, a infiltração de medicamentos anti-inflamatórios e imunossupressores, como corticoide, é algo que pode ajudar a solucionar a condição. Outra opção é a crioterapia, que consiste em aplicar substâncias como o nitrogênio líquido para congelar o queloide.  

A remoção cirúrgica também é uma possibilidade, no entanto, a especialista alerta que é necessário levar em consideração o risco de o procedimento provocar uma nova formação ou a que foi removida retornar. Ainda é possível usar radioterapia — aplicação de radiação ionizante — e laser para tratamento.   

 

Quanto tempo demora para sair 

A dermatologista estipula que o tempo necessária para remover um queloide varia dependendo do método utilizado, mas a média é de 30 minutos a 1 hora

Como evitar 

Isabelle Duque explica que a prevenção depende que o paciente evite qualquer tipo de trauma sobre a pele.  

O Ministério da Saúde também indica que o cuidado deve ser redobrado em pessoas que possuem no histórico pessoal e familiar outros indivíduos com queloide.

Antes de realizar um procedimento cirúrgico, a autoridade afirma ser fundamental que o médico saiba da tendência à cicatrização anormal ou da história de formação de cicatrizes queloides do paciente.     

Principais dúvidas sobre a condição

Quem teve queloide pode ter sempre?

Sim. Segundo a médica, pacientes que já possuem queloides têm mais chances de desenvolver novas formações do tipo. O risco também é maior em pessoas que já possuem casos da condição na família.

É normal queloide doer?

Sim. Em alguns casos os pacientes apresentam queixas de dor, coceira leve ou uma sensação de queimação ao redor da cicatriz anormal, detalha a dermatologista.

O que faz aumentar?

A especialista alerta que mesmo depois de formado o queloide pode crescer. Fatores genéticos e novos traumas podem justificar essa evolução do problema.

Qual a relação com o piercing?

Para instalar piercing é necessário furar a pele, ou seja, promover um trauma. E, como explica Isabelle Duque, qualquer machucado pode se transformar em um queloide no processo de cicatrização. Então, é possível que pacientes desenvolvam a formação incomum no local do acessório. O Ministério da Saúde indica que pessoas procurem um dermatologista ao notar alguma irritação ao redor da perfuração. A recomendação também é válida para casos de instalação de brincos, tatuagem, feridas ou machucados.

*Isabelle Ary Duque é médica especializada em dermatologia, com CRM 7503 e RQE 2897. É graduada em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com residência médica em Dermatologia pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Possui título de especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e pela Associação Médica Brasileira (AMB). É médica do ambulatório de dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da UFC.