Vítimas relatam ameaças de aliados políticos de médico

Mulheres vítimas de abusos sexuais durante consultas com José Hilson de Paiva, 70, sofreram intimidações de vereadores de Uruburetama, onde o médico também atua como prefeito

Escrito por Felipe Mesquita, Kilvia Muniz e Messias Borges , metro@verdesmares.com.br

Não bastasse o atendimento constrangedor, abusivo e criminoso pelo qual as vítimas do médico e atual prefeito de Uruburetama passaram, as mulheres violentadas enfrentam, agora, o drama da perseguição. Desde que elas revelaram em entrevista detalhes dos assédios sexuais praticados por José Hilson de Paiva, de 70 anos, aliados partidários ameaçam a integridade física das ex-pacientes do suspeito.

"Fui ameaçada por alguns vereadores que estão do lado dele, porque estão dizendo que tudo que aconteceu é mentira, mas não é", revela a mulher, que pediu para não ser identificada. Ela procurou ajuda médica após sangramentos no canal vaginal, mas foi surpreendida com a conduta infeliz do profissional. "Ele pegou nos meus seios, nas minhas partes e mandou eu abrir bastante as pernas".

Além das intimidações feitas por integrantes da Câmara Municipal, a vítima amarga o sofrimento de ver a sua imagem ser motivo de chacota nas ruas e até dentro de unidades de saúde. "Muita gente fica 'mangando', apontando, é muita perseguição. Se venho para uma consulta, tem horas que ninguém me atende", lamenta, suplicando para um desfecho deste capítulo "porque tenho filhos e esposo".

Outra personagem, de identidade preservada, viu mudar a movimentação da rua onde mora depois da denúncia, em Uruburetama. Segundo conta, o irmão chegou em casa dizendo que havia um veículo de aliados do prefeito parado na esquina, causando estranhamento em sua família, já que isso não é um fato comum no entorno da residência. 

O episódio aconteceu na última quinta-feira (11), mesmo dia em que a equipe de reportagem do Sistema Verdes Mares (SVM) esteve no Município para apurar os indícios contra o prefeito José Hilson de Paiva. “O carro passou 15 minutos parado com gente dentro. Ninguém saiu e depois, o veículo partiu”, diz. Para ela, os supostos parceiros do chefe do Executivo municipal estariam “vigiando” os seus passos.

Investigações

No dia seguinte ao escândalo provocado por novas denúncias de crimes sexuais atribuídas ao prefeito, a Polícia Civil do Ceará (PCCE) iniciou investigações para apurar os fatos. O gestor é suspeito de abusos sexuais desde a década de 1980, embora nunca tenha sido punido pela prática. O Diário do Nordeste acompanha este caso desde 1994, quando duas donas de casa acusaram o prefeito de assédio sexual.

A titular da Delegacia Municipal de Uruburetama, Rogéria de Sousa, confirmou que instaurou, ontem, um Inquérito Policial mediante portaria para analisar o material que estava em posse do Ministério Público do Ceará (MPCE), que contém 63 vídeos com cenas de supostos crimes sexuais praticados.

“Tanto o inquérito aqui em Uruburetama como em Cruz já foram instaurados. Nós vamos analisar as filmagens por completo, não só o que foi divulgado na mídia, e vamos ouvir mais vítimas. Vamos ouvir as vítimas que já se disponibilizaram a falar e poderemos encontrar mais vítimas”, afirma.

A delegada irá se reunir com o promotor de Justiça do Município para traçar as estratégias de investigação acerca das novas denúncias. O MPCE já abriu investigação em Fortaleza sobre o caso. Duas vítimas se apresentaram à Delegacia de Cruz para prestar depoimento, mas nenhuma foi à Unidade de Uruburetama durante o dia de ontem.

Enquanto o caso segue em busca de uma solução, outra mulher, vítima do médico, recorre à espiritualidade para superar o que ela chama de “coisa lamentável”. “Eu estou fugindo de tudo isso, porque eu passo muito mal. Passo o dia todo deitada, a cabeça dando voltas, sem equilíbrio emocional para nada. Agora mesmo, eu estava falando com Deus, pedindo forças, porque o que eu mais quero é esquecer dessa coisa lamentável que acabou com a minha cabeça”, lamenta.

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