De homicídio a furto, PMs réus por Chacina da Messejana são investigados por crimes após matança

A Chacina, que deixou 11 vítimas na Grande Messejana, em Fortaleza, completa 7 anos nesta sexta-feira (11) e segue sem julgamento

Policiais militares acusados de participarem da Chacina da Messejana, em 2015, voltaram à ativa e, anos depois, passaram a ser investigados por outros crimes, como homicídio, furto e falsidade ideológica. A matança, que deixou 11 vítimas na Grande Messejana, em Fortaleza, completa 7 anos nesta sexta-feira (11) e segue sem julgamento.

Um dos 34 PMs réus pela Chacina, o soldado Eliézio Ferreira Maia Júnior responde a outra ação penal por homicídio, datado de 2020. "O processo encontra-se em andamento na 1ª Vara Criminal de Maracanaú, porém é sigiloso, por isso não podem ser repassadas mais informações", informou o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).

Já o soldado PM Antônio José de Abreu Vidal Filho responde a processos por furto, falsidade ideológica e deserção, na Justiça Estadual, conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste. No primeiro caso, o militar é acusado de furtar uma motocicleta, em Fortaleza, em outubro de 2017. A ação penal, que tramita na 13ª Vara Criminal de Fortaleza, tem a primeira audiência de instrução marcada para novembro de 2023.

No segundo episódio, Antônio José é réu na Auditoria Militar do Ceará, junto de um tenente-coronel da Polícia Militar do Ceará (PMCE), por falsificação de atestados médicos, que o permitiam permanecer de licença médica do serviço público, entre 2018 e 2019.

O soldado ainda passou a responder, na Auditoria Militar, a um inquérito por deserção, aberto em janeiro de 2020, quando ele não se apresentou ao seu comandante, após o término da licença médica.

A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD) também abriu investigações administrativas-disciplinares contra o policial, relacionadas ao furto e às faltas ao serviço, conforme consultas ao Diário Oficial do Estado.

Outro soldado PM, Marcilio Costa de Andrade é réu por porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. No dia seguinte à prisão do policial pela denúncia de participação na Chacina da Messejana, em 1º de março de 2016, a Delegacia de Assuntos Internos (DAI), da CGD, realizou uma abordagem a familiares do servidor, em que apreendeu uma pistola calibre 380, munições de calibres diversos e um par de algemas. Uma audiência de instrução está marcada, na 13ª Vara Criminal de Fortaleza, para 22 de novembro próximo.

Por fim, o cabo PM Luciano Breno Freitas Martiniano é réu na Auditoria Militar do Ceará pelo crime militar de concussão (isto é, utilizar-se da função para exigir, direta ou indiretamente, vantagem indevida), junto de outros dois policiais militares. Duas audiências de instrução já foram realizadas, no processo.

A equipe policial é acusada, pelo Ministério Público do Ceará (MPCE), de exigir R$ 3 mil de suspeitos, em uma abordagem realizada no bairro Granja Portugal, na Capital, em dezembro de 2015 (um mês depois da Chacina da Messejana).

Chacina da Messejana segue sem julgamento

Os três processos criminais originados pela morte de 11 pessoas, na Grande Messejana, em Fortaleza, entre a noite de 11 de novembro e a madrugada de 12 de novembro de 2015, seguem sem julgamento na Justiça Estadual.

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policiais militares foram pronunciados (isto é, levados a julgamento) pela Chacina da Messejana, por decisão da Primeira Instância. 8 PMs foram impronunciados e outros 2 militares, tiveram a conduta desclassificada para crimes de menor gravidade.

O Tribunal de Justiça do Ceará e o Ministério Público do Ceará confirmaram, em notas, que os policiais militares pronunciados recorreram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que ainda não julgou os pedidos.

Maria Suderly Pereira de Lima, mãe de uma das vítimas da Chacina da Messejana, Jardel Lima dos Santos (morto aos 17 anos), afirma que se sente "frustrada" com a falta de julgamento do caso. "Há sete anos de uma chacina tão cruel como essa, onde 11 vítimas tiveram suas vidas ceifadas. É muito triste".

As Mães do Curió, como ficaram conhecidas as mães das vítimas da Chacina, realizam um ato para lembrar o caso e pedir por justiça, no dia em que a matança completa 7 anos, às 9h desta sexta-feira (11), no Anfiteatro do Cuca Jangurussu, em Fortaleza.

Todo ano, a gente faz um movimento para falar dessa chacina. Mas, infelizmente, nada tá acontecendo. Essas pessoas que fizeram isso continuam sem punição. Nós, hoje, lutamos por justiça, para que isso não aconteça com mais ninguém. Nós não queremos vingança."
Maria Suderly Pereira de Lima
Mãe de vítima da Chacina