O jovem Matheus Bezerra da Costa, acusado de matar duas adolescentes em um "tribunal do crime" por morarem em um bairro considerado rival à organização criminosa dele, foi condenado pela Justiça do Ceará a quase 30 anos de prisão. O crime ocorreu em setembro 2022 no bairro Mondubim, após ele e comparsas "desconfiarem" da presença das vítimas na região.
No total, ele foi sentenciado a 29 anos e seis meses de reclusão pelos crimes de homicídio qualificado, cárcere privado e organização criminosa, segundo sentença proferida pela 5ª Vara do Júri de Fortaleza. A condenação foi dada pelo Tribunal Popular do Júri no último dia 22 de março, quase dois anos após as mortes das jovens Ana Clara Lopes de Sousa, 14 e Naiara da Silva Lima, 16.
A pena de Matheus poderia ter sido ainda maior, mas ele teve atenuantes, pois tinha menos de 21 anos à época dos delitos e ainda confessou o crime. Segundo a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), ele não agiu sozinho e apontou o nome de outras quatro pessoas como participantes do duplo homicídio.
O juiz Raimundo Lucena Neto determinou que Matheus permaneça preso após a decisão do Conselho de Sentença. O agora condenado já estava encarcerado desde o dia 20 de setembro, após ser encontrado pela Polícia Civil em sua residência, no bairro Itaperi, com pequenas quantidades de maconha, crack e cocaína, uma balança de precisão e um revólver calibre 38, que teria sido utilizado no duplo homicídio das jovens.
"Os crimes cometidos foram graves (dois homicídios), praticados em contexto de rivalidade de organizações criminosas, de modo que se faz necessária medida cautelar para garantir a ordem pública, ressaltando que a liberdade do réu fomentaria na comunidade local o aumento do sentimento de insegurança", assinalou o magistrado.
Crime foi descoberto após ligação de celular
As investigações chegaram a Matheus Bezerra por conta de uma ligação de celular, após a Justiça autorizar a quebra do sigilo telefônico. Na noite do crime, no dia 18 de setembro de 2022, um amigo de Ana Clara mandou uma mensagem para ela no Instagram enquanto ela já estava em cárcere privado.
Um dos autores do crime retornou para ele em chamada de voz, e enganou a pessoa ao pedir que ele enviasse um vídeo para confirmar que elas moravam em uma área dominada por uma facção criminosa de origem cearense. Os suspeitos, na realidade, integravam uma organização rival, de origem carioca, e por isso abordaram as adolescentes.
O amigo foi instruído a enviar as imagens a um determinado número de celular, que seria de Matheus. Após o envio, ele foi avisado pelos criminosos que, na verdade, eles eram de um grupo oposto e, por isso, as garotas morreriam.
Essa prática é conhecida como o Tribunal da Crime, quando integrantes de uma facção criminosa decide se pessoas vivem ou morrem.
O corpo das jovens foi encontrado na manhã após essas ligações. No local, próximo ao Campo de Futebol 1º de Maio, no Mondubim, foram apreendidos 14 estojos de calibre.380 e dois projéteis de arma de fogo.