Pelo menos 16 cidades cearenses podem ver nas urnas, em 2024, rostos já conhecidos por gestões passadas nas prefeituras. Levantamento do Diário do Nordeste mostra que, até março, 17 ex-prefeitos anunciaram pré-candidatura para o pleito de outubro. Há casos como o de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, que tem dois ex-prefeitos pré-candidatos, Naumi Amorim (PSD) e Zé Gerardo (PDT).
Entre as estratégias divulgadas, o PSD é o partido que lidera na estratégia de apostar em ex-prefeitos, com 10 dos 16 ex-prefeitos. MDB, PSB, PDT e PT também já anunciaram que entrarão em disputas municipais com nomes conhecidos da população.
Um dos anúncios mais recentes é o do ex-prefeito do Cedro, Nilson Diniz (PSB). Além da tentativa de retorno para o terceiro mandato, Nilson chega para a disputa apoiado pelo atual prefeito, Joãozinho de Titico, seu indicado em 2020, mas que desistiu de tentar reeleição para se dedicar à família, segundo o gestor.
"Tivemos uma reunião com as nossas lideranças, amigos, aqui, em Cedro, e nós tomamos uma decisão. Tomei a decisão de que, nesse momento, eu preciso me dedicar à minha família, preciso ter um tempo para mim e, nesse sentindo, não irei concorrer à reeleição nesse pleito de 2024. Apresento aqui, em ato contínuo, o meu pré-candidato a prefeito, Dr. Nilson Diniz", declarou João de Titico.
Até agora, são 16 os municípios cearenses que devem ter figuras políticas já conhecidas tentando voltar ao poder na eleição deste ano. São eles:
- Fortaleza, com a ex-prefeita Luizianne Lins (PT);
- Caucaia, com os ex-prefeitos Naumi Amorim (PSD) e Zé Gerardo (PDT);
- Eusébio, com o ex-prefeito Edson Sá (PSB);
- Solonópole, com o ex-prefeito Webston Pinheiro (PSD);
- Cruz, com o ex-prefeito Adauto Mendes (MDB);
- Baturité, com o ex-prefeito Ivo Júnior (PSD);
- Tejuçuoca, com o ex-prefeito Edilardo Eufrásio (MDB);
- São Gonçalo do Amarante, com o ex-prefeito Cláudio Pinho (PDT);
- Alcântaras, com o ex-prefeito Eliésio Fonteles (PSD);
- Jaguaretama, com a ex-prefeita Luzia Saldanha (PSD);
- Nova Russas, com o ex-prefeito Marcos Alberto (PSD);
- Amontada, com o ex-prefeito Edivaldo de Jesus (PSD);
- Paraipaba, com a ex-prefeita Joana D'arc (PSD);
- Santa Quitéria, com o ex-prefeito Fabiano Lobo (PSD);
- Pacoti, com o ex-prefeito Kiko Santos (PSD);
- Cedro, com o ex-prefeito Nilson Diniz (PSB).
Outro município onde o nome de um ex-gestor também é lançado como pré-candidato da situação é Solonópole. Lá, a prefeita Ana Vládia (PSD), eleita em 2020, não vai disputar a reeleição para apoiar a candidatura do ex-prefeito Webston Pinheiro (PSD). Ele esteve à frente do município de 2013 a 2020, sendo o primeiro gestor da cidade a ser reeleito, em 2016.
"Com grande respeito e responsabilidade, venho compartilhar uma decisão significativa sobre o futuro do nosso amado município. Desde o princípio, sempre compartilhei com meus familiares a convicção de que meu projeto de gestão seria restrito aos quatro anos de mandato. É com confiança e convicção que anunciamos o nome do ex-prefeito, Webston Pinheiro, como pré-candidato à Prefeitura de Solonópole", declarou Ana Vládia nas redes sociais.
Oposição
Nos demais municípios, esse cenário nem sempre se repete. Com foco em aumentar o número prefeituras com candidaturas de oposição ao grupo local, o PSD é o partido que tem mais ex-prefeitos como pré-candidatos: dez, até o momento. Além da sigla, também há pré-candidaturas de ex-gestores cearenses no MDB (2), PDT (2), PSB (2) e PT (1).
Presidente do PSD no Ceará, Domingos Filho ressaltou que a estratégia busca reavivar na memória do eleitor uma gestão boa frente a uma que "não vai bem",
"Nós temos hoje 60 pré-candidatos a prefeito, dos quais 25 são atuais prefeitos e prefeitas, candidatos à reeleição. E há um conjunto expressivo de ex-prefeitos. (...) Normalmente, os ex-prefeitos são candidatos de oposição, e isso faz com que a lembrança do eleitor, em função de uma gestão que não vai bem, chame de volta quem já passou. Daí surge muito ex-prefeito"
Além de Solonópole, o partido também anunciou ex-prefeitos para a disputa em Caucaia, Baturité, Alcântaras, Jaguaretama, Nova Russas, Amontada, Paraipaba, Santa Quitéria e Pacoti.
Fortaleza
Em Fortaleza, a ex-prefeita Luizianne Lins (PT), atualmente deputada federal, é pré-candidata de oposição ao prefeito José Sarto (PDT). Prefeita de Fortaleza por dois mandatos, de 2004 a 2012, ela tenta voltar ao Paço Municipal desde 2016, mas sem sucesso. Nas últimas duas disputas na Capital, em 2016 e 2020, ela ficou em terceiro lugar.
Apesar de já ser considerada como um quadro tradicional do PT na Cidade, neste ano ela tem disputado a preferência da agremiação com o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, deputado Evandro Leitão (PT). Ele se filiou à legenda em dezembro do ano passado, com apoio do ministro Camilo Santana (PT) e outra lideranças da sigla, de olho na disputa na Capital. Os dois são os principais cotados para encabeçar a chapa petista, apesar do partido ter outros três pré-candidatos.
Presidente do PT Fortaleza e um dos cotados da legenda, Guilherme Sampaio defendeu um "novo ciclo" para legenda ao comentar sobre Luizianne, na live PontoPoder.
Na ocasião, ele ressaltou que tem uma relação de "proximidade pessoal e afeto" pela ex-prefeita, mas diverge da correligionária.
“Chega uma hora que a vida pede mudança, pede novos ciclos, isso vale para o parlamento e para a vida, se a gente fica resistindo a novos ciclos, a gente perde energia, então eu sinto que é importante para o PT. (...) A gente precisa construir novos quadros, e a Luizianne também dar novos saltos, galgar novos degraus na sua vida pública, iniciar novos ciclos”
O nome da agremiação para a eleição pela Prefeitura de Fortaleza deve ser escolhido até o dia 21 de abril, em encontro municipal.
Caucaia
Em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), dois ex-gestores devem disputar o comando da cidade: o ex-prefeito Naumi Amorim (2017-2020) e Zé Gerardo (1997-2000). O primeiro foi lançado pelo PSD, enquanto o segundo se filiou ao PDT para a disputa.
As pré-candidaturas deles foram lançadas em janeiro deste ano, após o prefeito Vitor Valim (PSB) anunciar que não irá disputar a reeleição por motivos pessoais. O gestor perdeu a filha em dezembro do ano passado devido à uma falência renal.
Para voltar aos holofotes, Naumi assumiu recentemente o exercício da suplência na Câmara dos Deputados, na vaga de Célio Studart — que retornou ao cargo de secretário da Proteção Animal do Ceará.
Já a pré-candidatura de Zé Gerardo tem sido endossada pelo dirigente nacional da sua agremiação, deputado federal André Figueiredo, por meio das redes sociais. Zé Gerardo, inclusive, se filiou à legenda em janeiro deste ano de olho no pleito.
"Uma pessoa que muito nos orgulha de estar no PDT e ser nosso pré-candidato à Prefeitura de Caucaia. Caucaia é o município mais importante do Interior do nosso Estado e, como tal, precisa de alguém com experiência, alguém caucaiense e que possa ter ao lado dele pessoas como o nosso ex-prefeito de Fortaleza", declarou André Figueiredo, em fevereiro deste ano, por meio do Instagram.
Os dois ex-gestores devem competir com o secretário da Articulação Política do Governo do Ceará, Waldemir Catanho. Na semana passada, o prefeito Vitor Valim declarou apoio à pré-candidatura de do petista na cidade, após diálogo com lideranças locais e do grupo governista.
Eusébio
Outro município da RMF que terá ex-gestor no páreo é Eusébio. Lá, a oposição lançou o ex-prefeito Edson Sá (PSB) como pré-candidato, que já governou a cidade por três mandatos (1989-1992 e de 1997-2004). Ele deve disputar a prefeitura com o candidato da sucessão do prefeito Acilon Gonçalves (PL), ainda a ser definido. Como está no segundo mandato consecutivo — e o quarto, ao todo —, o chefe do Executivo Municipal não pode concorrer.
Edson Sá já é figura conhecida de Acilon Gonçalves. Os grupos dois já rivalizaram e se uniram em disputas no município nos últimos anos.
No atual cenário, Edson Sá tem se aproximado do grupo governista, do qual Acilon tem se distanciado desde que seu partido passou a abrigar bolsonaristas no Estado, em 2022. O prefeito vive momento de 'apartheid' na sua própria legenda, tendo renunciado, em 21 de novembro do ano passado, o comando do PL Ceará por "divergência com correligionários". No dia seguinte, o presidente nacional da agremiação anunciou o deputado estadual Carmelo Neto para assumir a presidência do diretório cearense.
Até o momento, ele não anunciou um pré-candidato à sua sucessão, o que tem levantado brechas de que o nome viria de outro partido ou que poderia apoiar Edson Sá.
O cenário é cogitado porque o ex-prefeito deixou o PDT pelo PSB em fevereiro de olho na disputa no município, para contar com o apoio do senador Cid Gomes (PSB) e de lideranças do grupo governista do Estado — de quem Acilon era aliado.
Ao Diário do Nordeste, Edson Sá adiantou, em fevereiro, que seu nome é apoiado por Camilo Santana (PT) e pelo empresário Chiquinho Feitosa, presidente do Republicanos Ceará. Vale ressaltar que a vice-prefeita de Acilon era Lucinha Feitosa, esposa de Chiquinho. Ela renunciou ao cargo em 2021, ainda no início do segundo mandato do atual prefeito.
Agora, o grupo de Chiquinho se aproxima de Edson Sá, que foi o primeiro gestor do município após emancipação de Aquiraz. Como na época a reeleição ainda não era permitida, ficou por quatro anos. Depois, retornou em 1997, sendo reeleito em 2000.
Antes de terminar seu mandato, deixou a gestão para disputar à Prefeitura de Aquiraz, já que não poderia mais concorrer em Eusébio em 2004. Ainda assim, a candidatura dele foi questionada na Justiça. Apesar da tentativa, não ganhou o pleito no município vizinho. Mas, em 2008, emplacou a filha, Leca Sá, como vice na chapa de reeleição de Acilon, numa aproximação entre ex e atual gestor.
Todavia, a parceria não durou muito. Em 2012, Acilon lançou Júnior Arimatea (PSB) para a sua sucessão. Após a frustração em Aquiraz, Edson Sá foi candidato ao Poder Executivo de Eusébio naquele pleito. Porém, quem saiu vitorioso da disputa foi Arimatea.
Em 2016, Edson voltou a disputar a Prefeitura de Aquiraz, sendo eleito no município, enquanto Acilon era reconduzido ao comando de Eusébio.
No pleito seguinte, em 2020, Acilon lançou o filho, Bruno Gonçalves (PL), rivalizando mais uma vez com Edson Sá, que tentava a reeleição. Bruno Gonçalves foi eleito no município e, naquele ano, Acilon reeleito em Eusébio. Agora, com a aproximação de Edson Sá do grupo governista e o imbróglio de Acilon dentro do PL, ainda não se sabe se os dois vão rivalizar novamente.
Outros casos
Em São Gonçalo do Amarante, o ex-prefeito Cláudio Pinho (PDT), também deputado estadual, deve tentar retornar ao Poder Executivo da cidade. Lá, o ex-gestor, que já foi aliado do grupo governista do Estado, deve enfrentar o prefeito Professor Marcelão (PT). Ex-aliado de Capitão Wagner, que é opositor ao grupo governista do Estado, se aproximou do grupo governista durante o seu primeiro mandato, se filiando ao PT em janeiro deste ano para a disputa.
Agora, os apoios a cada um devem ser diferentes. Marcelão deve ter como aliado da sua candidatura o ministro Camilo Santana e o governador Elmano de Freitas, enquanto Cláudio Pinho, agora opositor, deve ficar com apoio da cúpula cirista do PDT, com Ciro Gomes, José Sarto e o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio.
Em Tejuçuoca, no Interior do Ceará, o ex-prefeito e ex-deputado estadual Edilardo Eufrásio (2005-2012) foi lançado como pré-candidato pelo MDB. Na cidade, historicamente, o partido rivaliza a disputa com o PSD, legenda do atual prefeito Britinho — que deve tentar a reeleição.
O cenário nos municípios, todavia, ainda pode mudar, já que as pré-candidaturas devem ser oficializada apenas nas convenções partidárias — a serem realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto. Depois desse prazo, as agremiações têm até 15 de agosto para registrar os nomes dos candidatos na Justiça Eleitoral.