Disputa pela liderança do PDT na Assembleia Legislativa pode ser pivô de novo impasse no partido

Os dois grupos que antagonizaram crise interna no PDT em 2023 podem ter novo embate no legislativo estadual

Novo impasse pode se instalar dentro do PDT, desta vez alcançando a bancada do partido na Assembleia Legislativa do Ceará. Com a situação interna pacificada e o grupo liderado pelo senador Cid Gomes (PDT) de saída para o PSB, o presidente da Comissão Provisória do PDT Ceará, o ex-senador Flávio Torres (PDT), indicou que pretende escolher um novo líder para o partido no Legislativo. 

Atualmente, a liderança do PDT na Assembleia é ocupada pelo deputado Guilherme Landim (PDT), um dos que busca a saída do partido por meio de ação no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará. Junto a ele, outros 12 parlamentares pedetistas pedem a desfiliação à Justiça — nove titulares e três suplentes que estão no exercício do mandato. 

Ainda sem decisão da Justiça Eleitoral, os parlamentares permanecem, por enquanto, no PDT e não pretendem abrir mão da liderança do partido na Assembleia Legislativa. Eles argumentam que, segundo o regimento da Casa, a indicação é feita pela maioria dos deputados que integram a bancada — hoje, dos 12 deputados estaduais do PDT, apenas três estão alinhados com a direção do PDT Ceará. 

"Temos uma situação sui generis: o líder é escolhido pela bancada, e a maioria da bancada pretende sair do PDT. Então, eu entendo que nenhuma dessas pessoas aceitaria ser líder do PDT, porque não fala mais pelo partido", argumenta Flávio Torres.

A intenção, segundo ele, é passar a ter "um líder que represente o que o novo partido está pensando". Segundo Flávio Torres, a intenção é que haja uma reunião ainda em fevereiro para retomar a conversa com os parlamentares e tentar construir um entendimento sobre o assunto. 

Atual líder do PDT na Casa, Landim reforçou, no entanto, que a defesa será para que "a maioria seja sempre representada" na decisão sobre a liderança do PDT no Legislativo estadual, mas reforçou que, por enquanto, não recebeu nenhum comunicado oficial da presidência do PDT Ceará. 

"Nós não vamos aceitar que a maioria seja atropelada. Então, nós não imaginamos que o partido, mais uma vez, queira fazer alguma coisa de maneira açodada, sem discussão e passando por cima da maioria. Estou aguardando aqui qualquer sinalização oficial, porque até agora não recebi nada", ressaltou. 

'Incoerência'

Hoje, três deputados estaduais do PDT estão alinhados ao diretório estadual do partido no Ceará: Antônio Henrique, Cláudio Pinho e Queiroz Filho. Os três integram, desde o início do Governo Elmano de Freitas, a oposição na Assembleia Legislativa. Para Antônio Henrique (PDT),  é uma "incoerência" que a liderança do PDT permaneça com alguém que "não seja realmente defensor da bandeira partidária". 

"Nós vamos conversar, ver qual é a melhor forma de negociar, entendendo eu que o mais coerente é que a liderança fique, pelo menos, com um dos três deputados que desde o início volta a dizer que está aqui defendendo o projeto do PDT", ressaltou o parlamentar.
 
Cláudio Pinho (PDT) tem posição semelhante. "Não é justo que os saintes continuem com a liderança do partido", pontua o parlamentar. "Se estou saindo de um partido, tenho que chegar e entregar a liderança, entregar os cargos que pertencem ao partido", argumenta. 

O caminho para isso, concordam os dois parlamentares, é o diálogo com os demais integrantes da bancada do PDT, já que a regra regimental da Assembleia Legislativa do Ceará determina que a escolha das lideranças de bancada são feitas a partir de documento "subscrito pela maioria absoluta dos integrantes da representação", conforme o regramento.

Uma reunião com a bancada pedetista e também com a Executiva estadual deve ser marcada ainda em fevereiro, apontam os parlamentares. "Nós vamos conversar. Eu acredito que tudo não pode partir antes de um bom diálogo. Depois da conversa, a gente vai tomar outros posicionamentos se necessário", pontua Antônio Henrique.

"Vamos compor isso, porque não adianta a gente estar atrás de desavenças. Pelo contrário, nós temos que construir a harmonia, a paz, respeitando todas as diferenças. (...) Agora temos que respeitar as decisões partidárias", completa Pinho.

Saída para o impasse

"Uma coisa que o PDT poderia fazer que daria de imediato a liderança a eles seria permitir a nossa saída sem a perda do mandato, que aí seria muito tranquilo", sugere a deputada estadual Lia Gomes (PDT). Uma das deputadas que busca a desfiliação do PDT, ela ressaltou que o grupo que hoje tem maioria na bancada do PDT na Alece não vai abrir mão da liderança. "Se tiver que brigar, vamos continuar brigando", pontua.

Líder do Governo Elmano de Freitas na Alece, Romeu Aldigueri (PDT), tem visão semelhante à da colega de bancada. "Como é que uma minoria de três pode ter uma liderança de 12? Isso não existe", ressalta. O deputado aponta uma "solução simples" para o impasse: "Por que não dar as cartas de anuência, permitir a saída harmoniosa e pacífica? Nós já tivemos tanto problema, tanta discussão, desgastes emocionais e pessoais desnecessários. Por que não conceder, inclusive para encerrar essa questão judicial que tramita no TRE?", questiona o parlamentar

Para ele, uma eventual tentativa de retirar a liderança do grupo majoritária da bancada do PDT pode caracterizar "mais uma perseguição" sofrida pelos deputados ligados ao grupo do senador Cid Gomes.  

A defesa, portanto, é pela permanência de Guilherme Landim no cargo de líder, conforme a escolha da bancada no início do mandato, em 2023. Decisão apoiada, na época, pela Executiva estadual, ainda sob comando do presidente nacional interino do PDT, André Figueiredo. Landim já tinha, inclusive, ocupado o posto na legislatura anterior, entre 2019 e 2022. 

"Eu, ao longo desse ano que passei na liderança, assim como fiz nos últimos quatro anos, assegurei posições para todo mundo. Então, nós temos uma divergência dentro da bancada, mas todos os deputados são presidentes de comissão, todos os deputados fazem parte de comissões, das maiores e das menores. Em nenhum momento nós quisemos atropelar a minoria que pensa diferente dessa maioria. Por isso que nós defendemos a permanência e nós não vamos aceitar que a maioria seja atropelada", ressaltou.  

Para Sérgio Aguiar (PDT), mesmo que estejam pleiteando a desfiliação, por enquanto eles permanecem filiados e maioria na bancada do legislativo estadual, por isso querem ver respeitada a escolha que fizeram dentro da casa legislativa. 

"Acredito eu que, em nome da democracia, muito embora estejamos pleiteando na Justiça Eleitoral que seja nos dado a justificação partidária de causa para que nós possamos sair do partido, que seja respeitada isso (a escolha de Landim) até lá", pontua.