Há 10 anos, foi ao ar um dos capítulos mais aguardados pelos noveleiros do Plim-Plim. A novela Amor à vida exibiu um beijo entre os personagens Niko (Thiago Fragoso) e Félix (Mateus Solano) e balançou as estruturas da família tradicional brasileira, colocando a novela no centro das discussões.
O tal “beijo gay” foi um grande sucesso e abriu caminhos para uma maior representatividade nos folhetins da Globo, possibilitando que outros casais surgissem e pudessem também beijar em horário nobre - inclusive meu personagem Zaquieu, no remake de Pantanal, que finalizou sua trama beijando outro peão.
O que poucas pessoas sabem é que o beijo entre Niko e Félix não foi o primeiro da TV brasileira. Muitos anos antes, em 1963, as atrizes Vida Alves e Geórgia Gomide protagonizaram o primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo da história da nossa televisão, no teleteatro A Calúnia, da extinta TV Tupi. Sim, foram duas mulheres que iniciaram a saga da representatividade.
Já o primeiro romance entre dois homens foi na novela Panorama com vista para a ponte, com Lima Duarte e Cláudio Marzo, também em 1963. Depois disso, veio a primeira grande lacuna: o próximo ato de carinho entre pessoas do mesmo sexo só aconteceu em 1990, na minissérie Mãe de Santo. O beijo entre os personagens Lúcio (Raí Alves) e Rafael (Daniel Barcellos) causou um grande alvoroço não só pelo ato em si, mas por se tratar de um casal interracial.
Em 2005, a novela América emplacou dois personagens gays que se apaixonaram de forma muito delicada. Bruno Gagliasso (Junior) e Eron Cordeiro (Zeca) chegaram a gravar a tão esperada cena do beijo, mas ela não foi ao ar, frustrando muita gente que torcia pelos dois.
No SBT, em 2011, um beijo entre Luciana Vendramini e Giselle Tigre, na novela Amor e Revolução, foi ao ar, mas obteve uma repercussão super negativa. Entre outros beijos, recordo agora do final feliz de Giovanna Antonelli e Tainá Muller, na novela Em Família, em 2014, e do beijaço de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, em Babilônia, logo no primeiro capítulo.
Nos últimos 10 anos, a TV aberta brasileira exibiu alguns outros beijos e romances, mas a questão é que até hoje, em 2024, um simples ato de carinho gera sempre muito bafafá dentro e fora das produções, seja na análise interna de como um beijo pode repercutir ou nos comentários nas redes sociais.
E eu me pergunto: até quando? Quantos beijos mais serão dados em novelas até um “beijo gay” se transformar apenas em “beijo”?
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor