Beijo gay em novelas: esse tabu já foi quebrado?

De 1963 para 2024, por que um beijo entre pessoas do mesmo sexo segue sempre causando alvoroço?

Há 10 anos, foi ao ar um dos capítulos mais aguardados pelos noveleiros do Plim-Plim. A novela Amor à vida exibiu um beijo entre os personagens Niko (Thiago Fragoso) e Félix (Mateus Solano) e balançou as estruturas da família tradicional brasileira, colocando a novela no centro das discussões.

O tal “beijo gay” foi um grande sucesso e abriu caminhos para uma maior representatividade nos folhetins da Globo, possibilitando que outros casais surgissem e pudessem também beijar em horário nobre - inclusive meu personagem Zaquieu, no remake de Pantanal, que finalizou sua trama beijando outro peão.

O que poucas pessoas sabem é que o beijo entre Niko e Félix não foi o primeiro da TV brasileira. Muitos anos antes, em 1963, as atrizes Vida Alves e Geórgia Gomide protagonizaram o primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo da história da nossa televisão, no teleteatro A Calúnia, da extinta TV Tupi. Sim, foram duas mulheres que iniciaram a saga da representatividade.

Já o primeiro romance entre dois homens foi na novela Panorama com vista para a ponte, com Lima Duarte e Cláudio Marzo, também em 1963. Depois disso, veio a primeira grande lacuna: o próximo ato de carinho entre pessoas do mesmo sexo só aconteceu em 1990, na minissérie Mãe de Santo. O beijo entre os personagens Lúcio (Raí Alves) e Rafael (Daniel Barcellos) causou um grande alvoroço não só pelo ato em si, mas por se tratar de um casal interracial.

Em 2005, a novela América emplacou dois personagens gays que se apaixonaram de forma muito delicada. Bruno Gagliasso (Junior) e Eron Cordeiro (Zeca) chegaram a gravar a tão esperada cena do beijo, mas ela não foi ao ar, frustrando muita gente que torcia pelos dois.

No SBT, em 2011, um beijo entre Luciana Vendramini e Giselle Tigre, na novela Amor e Revolução, foi ao ar, mas obteve uma repercussão super negativa. Entre outros beijos, recordo agora do final feliz de Giovanna Antonelli e Tainá Muller, na novela Em Família, em 2014, e do beijaço de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, em Babilônia, logo no primeiro capítulo.

Nos últimos 10 anos, a TV aberta brasileira exibiu alguns outros beijos e romances, mas a questão é que até hoje, em 2024, um simples ato de carinho gera sempre muito bafafá dentro e fora das produções, seja na análise interna de como um beijo pode repercutir ou nos comentários nas redes sociais.

E eu me pergunto: até quando? Quantos beijos mais serão dados em novelas até um “beijo gay” se transformar apenas em “beijo”?

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor