Depois que fui mãe, fiquei mais apegada ao tempo. Acredito que não seja um sentimento exclusivamente meu. Esses dias, Manuela adoeceu. Eu estava voltando pra Recife de um trabalho que fiz em Fortaleza.
Ao chegarmos em casa, o ar-condicionado do quarto dela estava quebrado e chovia muito. Quando chove, entra muita água no quarto dela se deixar a janela aberta.
A Manuela dorme no quarto dela desde sempre. Acostumamos lá. Quem dita o certo ou o errado? Apenas escolhemos e foi o que fizemos. Escolha acertada para nós. Mas essa semana ela tem dormido com a gente. Impraticável dormir com a janela fechada por lá.
Um desconforto, confesso. Quando a gente entrava no banheiro, tinha que ser silencioso. Trocar de roupa com luzes apagadas.
Mas aí, eu deitava. E assim que eu deitava, sentia o cheiro dela, passava a mão no cabelo dela. Percebi que o sono nem é tão leve assim e que é muito legal dormir do lado. E que daqui a pouco, ela não vai mais caber na cama com a gente.
O ar-condicionado agora voltou a funcionar. Pra gente funciona melhor que ela durma no berço dela. Ela voltou pra lá.
Mas foi tão legal.
Essa não é uma postagem sobre cama compartilhada. É sobre o tempo, o cheiro, o tamanho, o prazo, as regras.
Quem a quebra, a regra de dormir no berço? O acaso? O ar-condicionado?
Que bom que esses acasos ordinários da vida mudam um pouco o caminho e fazem a gente usufruir das pequenas riquezas que vêm de graça. Às vezes é preciso exercitar pra conseguir enxergar.
Toda noite ela dorme no berço dela. Mas a qualquer momento, ela volta pra nós. E nem vamos precisar trocar o ar-condicionado pra isso.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.