Quem está atento à política local na última década sabe que a definição de candidatos do grupo governista no Ceará são permeadas por desavenças, impasse de pré-candidatos correligionários, nomes surpresas, desmaio de liderança e eventos extravagantes para apresentar candidatos.
Na véspera de a aliança governista PDT-PT definir os rumos da disputa pelo Governo do Estado em 2022, vale lembrar momentos que marcaram a corrida pré-eleitoral quando o nome a ser anunciado era completamente novo, o que aconteceu em 2012, com a indicação de Roberto Cláudio, então no PSB, e em 2014, com Camilo Santana (PT). Em 2020, no cenário da pandemia, a mobilização foi menos intensa.
De lá para cá, o grupo político dos irmãos Cid e Ciro Gomes já passou por PSB, Pros e hoje está no PDT. Já o PT, desde então, protagoniza a principal queda de braço entre os aliados.
Em 2022, semelhantemente ao que aconteceu em 2012, PT e PDT ameaçam não estar juntos na disputa. A saída para o impasse, no entanto, é ainda uma incógnita, que pode ser resolvida nos próximos dias.
O PDT já entrou na reta final de discussão sobre a candidatura ao Governo, e o PT teria encontro no próximo dia 2 de julho, mas adiou o evento um dia antes, nesta sexta-feira (1°), a pedido de Camilo. Falta saber se a disputa de 2022 trará momentos que ficarão na história como os de outros anos. Vamos a eles:
Cid rompe com Luizianne
O primeiro grande desafio do grupo que atualmente ocupa o Governo do Estado e a Prefeitura de Fortaleza foi a sucessão da prefeita Luizianne Lins em 2012. Na época, o prazo para convenções era 30 de junho, mês que reuniu os principais fatos que formatariam o pleito daquele ano.
Após meses de tensão e expectativas de acordo, na noite de 11 de junho, o então governador Cid Gomes, à época no PSB, anunciou que não aceitaria apoiar o pré-candidato do PT à Prefeitura de Fortaleza, Elmano de Freitas, indicado pelo partido no dia 3 de junho. "O candidato indicado por Luizianne representa um projeto que se exauriu", disse Cid.
O episódio foi uma bomba na relação com petistas e marcou o rompimento do grupo de Cid com a ala do partido ligada à prefeita. Petistas que atuavam no governo estadual deixaram secretárias na época em protesto.
Pré-candidatos
Tanto no PT como no PSB, a lógica de apresentar diferentes pré-candidatos dentro do mesmo partido se repetia. No PT, Elmano foi o escolhido após derrotar o também pré-candidato Arthur Bruno, então deputado federal. Pouco antes, duas pré-candidaturas petistas foram retiradas: a do secretário das Cidades Camilo Santana e a do vereador Guilherme Sampaio.
No PSB, foram apresentadas três pré-candidaturas: a do então presidente da Assembleia Legislativa Roberto Cláudio, a do ex-secretário especial da Copa, Ferrucio Feitosa, e a do vereador Salmito Filho.
O candidato do grupo Ferreira Gomes só foi conhecido, no entanto, na reta final do prazo para o lançamento de candidaturas. Roberto Cláudio foi anunciado 10 dias após o rompimento de Cid e oficializado dois dias depois, em convenção partidária no dia 23 de junho.
Desmaios e nome fora da lista
Se as definições de 2012 foram intensas pela disputa entre Cid e Luizianne Lins, em 2014 a pressão foi maior ainda. A sucessão da vez era a do próprio líder político, Cid Gomes.
Os impasses começaram a ficar intensos ainda em março, com os rumores de desincompatibilização de Cid do Governo para que o partido indicasse Ciro Gomes para o Senado (devido ao parentesco, Ciro seria impedido pela legislação eleitoral), o que não aconteceu. Cid decidiu ficar, o que aumentou as especulações de que o partido desistiria do Senado para ter nome para o Executivo. Com isso veio o desgaste com o senador Eunício Oliveira (MDB), que já se viabilizava como candidato, mas tinha expectativa de ter a benção de Cid.
O peemedebista não foi o único a ser desgastado. À época, maioria do grupo governista defendia que Cid só deveria se afastar caso o vice-governador Domingos Filho, então no Pros, também deixasse o cargo. A desculpa era manter possíveis candidatos do Pros em pé de igualdade, mas Domingos Filho se recusou a deixar a função.
Saúde de Cid preocupa
Em meio à pressão sobre a sucessão, a saúde do governador começou a preocupar também. Ainda em abril, Cid anunciou afastamento do cargo para cuidar da saúde, após passar mal em um evento em Limoeiro do Norte, resultado da síndrome vasovagal, motivada por uma queda de pressão arterial.
Na época, o vice-governador Domingos Filho e o presidente da Assembleia Legislativa, Zezinho Albuquerque, rejeitaram assumir o cargo, conforme linha de sucessão, para não ficarem inelegíveis. Ambos já disputavam publicamente o cargo de Cid.
Assumiu o então presidente do Tribunal de Justiça do Ceará, Luiz Gerardo Brígido.
Cinco pré-candidatos
Nesse ínterim, o grupo lançou cinco pré-candidatos: à época, o presidente da Assembleia Legislativa Zezinho Albuquerque, o ex-ministro Leônidas Cristino, a secretária da Educação Izolda Cela, o vice-governador Domingos Filho e o secretário da Fazenda, Mauro Filho.
Na reta final do prazo para definição das candidaturas, no entanto, o nome do deputado estadual Camilo Santana começou a ganhar força em paralelo aos nomes do PDT. O nome do petista foi costurado pelo próprio Cid, colocando o deputado federal José Guimarães para escanteio em uma possível disputa pelo Senado. Cid ofereceu a cabeça de chapa ao PT e escalou Camilo.
O anúncio aconteceu no sábado, 28 de junho, mesmo dia da partida entre Brasil x Chile pelas oitavas de final da Copa do Mundo de Futebol. Entre suor e lágrimas, o Brasil segurou empate em 1 a 1 até, enfim, eliminar os adversários nos pênaltis. A tensão no futebol não deixou de gerar paralelos em discursos no dia seguinte.
"Vai ser um jogo nervoso, em que os adversários não jogam na bola, eles jogam na canela, jogam da cintura para baixo", disse o então governador, em referências às eleições daquele ano, no evento que oficializou Camilo.
O candidato à sucessão de Cid foi oficializado em 29 de junho, um dia antes do prazo final, sem definição de nomes para vice e Senado.
Como a candidatura dele foi confirmada somente sábado à noite, os banners de divulgação da campanha foram produzidos na madrugada de domingo, ilustrando uma foto do petista ao lado de Lula, Dilma Rousseff, candidata à reeleição, Ciro, Cid e Roberto Cláudio.
A situação gerou muitas arestas, principalmente com nomes como Zezinho Albuquerque e Domingos Filho, que despontavam como preferidos no grupo.
A saúde de Cid seguia preocupando também. Em 22 de junho, em convenção do PDT na Capital, Cid voltou a passar mal no evento, enquanto discursava. Ele deixou o evento carregado nos braços de Zezinho e Domingos após queda da pressão arterial. Na convenção do Pros, chegou a discursar sentado no palco "para não dar vexame".
O anúncio tímido de Sarto
Em 2020, no processo de sucessão de Roberto Cláudio na Prefeitura de Fortaleza, o grupo político, já no PDT, viveu um processo político menos conturbado pelas relações partidárias, especialmente por acontecer nos primeiros meses de enfrentamento à pandemia da Covid-19.
Em agosto, o partido anunciou cinco pré-candidatos: o ex-secretário Ferrucio Feitosa, o deputado federal Idilvan Alencar, o secretário Samuel Dias e os deputados estaduais Salmito Filho e José Sarto, então presidente da Assembleia Legislativa.
Sem eventos presenciais, o partido promoveu uma série de lives com os candidatos sobre temas como infraestrutura e educação.
Na época, havia uma movimentação de bastidores do grupo mais ligado ao então prefeito pró-Samuel Dias, nome que tinha mais proximidade com Roberto Cláudio. Já Sarto era tido como o nome preferido por Ciro Gomes.
Em 10 de setembro, também em uma live com poucas pessoas presentes, Roberto Cláudio anunciou o nome de Sarto, com Élcio Batista (PSB) como vice. A convenção que oficializou a dupla aconteceu dois dias depois.
Reta final de 2022
Com período de campanha mais curto, o prazo para definições de candidaturas é 5 de agosto. As convenções começam em 20 de julho. Por causa dos desgastes deste ano com aliados, o PDT avalia definir a chapa com alguma antecedência, até a primeira quinzena de julho. Agora é aguardar o desenrolar das conversas.