Incrível! Esquerda e indústria química unem-se contra biológicos

Empresas brasileiras do agro já produzem e utilizam insumos biológicos, livres de agroquímicos, cuja indústria pressiona governo e Congresso contra projeto-de-lei que os regulamenta

Este país não é sério! Desde outubro de 2022, o lobby da indústria química vem pressionando o Executivo e o Legislativo no sentido de evitar que se aprove uma proposta que tramita no Parlamento, em Brasília, permitindo que as empresas brasileiras do agro produzam seus próprios insumos biológicos, que são isentos de agrotóxicos. 

É uma atitude completamente equivocada e que vai de encontro ao interesse da sociedade e também de seus segmentos ideologicamente mais à esquerda do espectro político, os quais, estranhamente, ainda não se manifestaram contra esse movimento.
 
Ora, os defensivos biológicos são o sonho de quem produz no campo. Os grandes, médios e pequenos produtores rurais não usam defensivos químicos porque querem, mas porque não há, ainda, em escala, os biológicos capazes de substitui-los. 

Esses defensivos modernos e “verdes” – produzidos à base de matéria prima biológica, como micro e macro organismos vivos – já estão a provocar uma verdadeira revolução na agricultura, com vantagens incalculáveis para o meio ambiente. As próprias empresas agrícolas estão a produzir para uso próprio esses insumos.

Mas, para evitar que essa revolução prospere, a indústria química, que é poderosa aqui no Brasil e no mundo todo, faz pressão no Palácio do Planalto e mais ainda na Câmara dos Deputados e no Senado Federal contra a proposta que regulamenta o uso dos defensivos biológicos.

O gabinete da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária sediou 56 encontros com lobistas ou representantes das empresas industriais do setor, segundo informa o site Metrópoles, de acordo com o qual, no gabinete do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foram registradas pelo menos 12 reuniões. A maior parte dos encontros foi realizada por videoconferência, com 232 registros, representando cerca de 30% do total.

Ainda segundo o Metrópoles, os meses com maior frequência de reuniões foram maio e abril de 2024 — aproximadamente um em cada cinco compromissos registrados no período ocorreu nesses meses. Em maio, houve 70 agendas, e em abril, 67. 

A ideia desse lobby – segundo contou ontem à coluna um grande agricultor cearense com forte liderança nacional em vários segmentos do agro – é inviabilizar a produção dos insumos biológicos, criando contra a sua produção e uso um emaranhado de dificuldades burocráticas.

A situação chegou a tal ponto que os grupos de esquerda tradicionalmente contra os agrotóxicos já se uniram à própria indústria que os fabrica. Essa inacreditável união tem um exclusivo e claro objetivo: inviabilizar a produção de insumos biológicos, os mesmos que são utilizados pelos produtores dos chamados produtos orgânicos. Acredite, que é vero.

O mais incrível desta história é o fato de que a nova Lei dos Agrotóxicos – aprovada no fim do ano passado – classifica os insumos biológicos também como agrotóxicos, pois se refere a eles como agrotóxicos químicos e agrotóxicos biológicos. Pergunta: como pode um agrotóxico ser comparado a um insumo biológico? No Brasil da insanidade ideológica, isso pode.

O agricultor brasileiro – o cearense no meio – quer produzir mais com menos química, com menos resíduos, porém enfrenta agora essa inacreditável dificuldade própria de um país cujo comando político – no Executivo e no Legislativo – não sabe que rumo tomar para promover o correto desenvolvimento econômico e social do país.