As Olimpíadas são o maior festival esportivo do Mundo. Indiscutivelmente, a diversidade esportiva é apresentada ao público em geral. Como resultado, horas e horas, na televisão e na internet, são destinadas à cobertura das competições por modalidade. Durante o evento, a cidade-sede é exibida ao público, e nisso, Paris tem expertise, buscando a simbiose entre espaço urbano e as práticas esportivas.
Há, entretanto, explicações a ratificar. Primeiramente, as Olimpíadas são sim um grande produto midiático, onde marcas, corporações e países fazem propaganda dos seus produtos, sejam eles materiais ou intangíveis. Em segundo lugar, o evento reúne atletas de alto nível de rendimento físico e técnico, constituído uma acirrada competição, por vezes, sem o chamado “espírito olímpico”.
Por fim, o conjunto de competições e o quadro de medalhas reflete menos a popularização dos esportes nos países e mais a capacidade que cada nação tem de preparar uma equipe de elite para cada modalidade ou para algumas em específico.
Na organização das Olimpíadas Rio 2016 apostou-se em duas estratégias que, a meu ver, não foram exitosas. Inicialmente, entendeu-se o megaevento esportivo como oportunidade para resolver os problemas urbanos do Rio de Janeiro (sobremaneira, a mobilidade e segurança pública). Na mesma linha de equívoco, imaginou-se o momento de exposição e sua possibilidade de ampliar a imagem positiva do país e, com isso, atrair mais turistas estrangeiros. Infelizmente, os estudos demonstram que nem uma nem outra se realizaram.
Listados os problemas, nem tudo é negativo. Para as cidades e sua população, as Olimpíadas lembram o quanto o esporte é bonito e lúdico. Boa utopia é a cidade capaz de oferecer aos seus habitantes um conjunto de espaços esportivos, abertos e públicos, com vitalidade urbana, usados por todos e todas que assim desejarem. A ideia não é formar essencialmente atletas para ganhar medalhas e sim criar ambiência urbana agradável.
A partir desse princípio, as condições de vida dos mais pobres sempre serão o indicador preponderante. Eles merecem os itens básicos da vida nas cidades (habitação, trabalho, qualidade no ir e vir, direito à natureza...) e precisam de mais. O esporte amador, não competitivo, o esporte enquanto prática de lazer, é outra das necessidades a serem incorporadas fortemente ao cotidiano do povo.
Quando olho para as cidades cearenses, especificamente, para as metropolitanas, verifico o quanto longe estamos da utópica cidade dos esportes. Lógico que, historicamente, o futebol e seus derivados são a preferência nacional e isso se reflete nas prioridades nas intervenções nas cidades. Quadras de futsal, campos e areninhas para futebol são os equipamentos em maior número. Isso não é ruim. Terrível é verificar a falta de diversidade de equipamento. Por que não temos quadras de tênis públicas? Onde estão os centros de atletismo para os jovens? E as piscinas públicas? Nossos parques e praças estão preparados?
Incorporamos o tempo integral nas escolas públicas e essa é meta a ampliar, contudo, será que a prática esportiva está estruturalmente incluída nessa carga horária estudantil? Há nas escolas estruturas variadas para atrair o interesse dos jovens?
A ciência médica e os estudos das humanidades são claros a apontar os benefícios da banalização do esporte e das atividades físicas, falta aos governantes e aos técnicos do planejamento urbano entenderem que não precisa sediar as Olímpiadas para fazer o óbvio. As areninhas são bem-vindas, mas queremos e merecemos bem mais.