Em menos de 2 meses, o Ceará já confirmou quase 51 mil casos de Covid, 19,2 mil deles só em Fortaleza. O número de infectados entre 1º de dezembro e 22 deste mês, porém, pode ser até 5 vezes maior, como estima Antonio Lima, gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
O epidemiologista alerta que, por causar quadros leves na maioria dos pacientes, a variante Ômicron induz uma “subnotificação muito grande”, deixando as autoridades de saúde “no escuro” quanto ao monitoramento dos casos.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, Antonio Lima falou ainda sobre quando a pandemia de Covid deve desacelerar no Ceará, as particularidades da 3ª onda que vivemos e como a rede de assistência é impactada. Confira.
Quando os casos de Covid podem se estabilizar em Fortaleza?
No momento em que a África do Sul caracterizou a Ômicron, ficou muito claro que seria a variante com maior poder de transmissibilidade, não só pelo número de mutações, mas por ter grande escape vacinal. Isso se expressou numa velocidade de transmissão muito maior do que qualquer outra forma viral já conhecida.
Alguns chamam a Ômicron de “vírus perfeito”, porque provoca doença mais leve, nas vias aéreas superiores, e não mata com frequência – tanto pelo perfil da variante como pela barreira vacinal. Ela chegou num momento em que a maioria das pessoas estão vacinadas.
Estamos, no momento, construindo alguma estabilidade, próximos do pico de transmissão. Mas os casos ainda estão em aceleração em algumas áreas da cidade.
É uma doença que, por ter formas muito leves, induz uma subnotificação muito grande, ficamos no escuro. Às vezes, temos 700 casos notificados, mas temos 4 ou 5 vezes mais doentes. A Ômicron faz isso com o mundo inteiro.
Pesquisadores projetam que o pico da 3ª onda deve ser em fevereiro. Isso é mesmo provável?
Há diferenças que tornam as estimativas mais difíceis: é uma variante que tem escape, mas a população está vacinada. Além disso, a subnotificação é muito maior do que na 2ª onda, não dá pra estimar a partir de óbitos, porque a letalidade é muito baixa.
Houve um momento em que a gente fazia predições com base nos óbitos. Mas agora esse indicador está muito descolado – o aumento grande de casos não reflete no aumento de mortes.
dias são o tempo de duração de uma “onda” da Covid. Segundo Lima, considerando que a Ômicron chegou ao Ceará na última semana de dezembro, os casos devem começar a cair em fevereiro.
Há muita subnotificação, mas se olharmos para os outros países, em tese entraríamos numa estabilização no início de fevereiro. Mas é uma projeção, apenas. Há incertezas sobre o que vai ocorrer, se teremos novas variantes, se serão mais leves, se teremos novo surto de influenza com as chuvas.
Entramos no 3º ano de pandemia. Ainda há novidades ou particularidades, no cenário atual, em relação aos anteriores?
Nas outras ondas, não havia um número grande de pacientes com outras condições e positivos pra Covid. Porque, com o isolamento social, outras situações diminuíram. Agora, como não estamos parando nada, as outras patologias e agravos continuam ocorrendo.
Temos tido a chamada ‘Covid incidental’: o indivíduo que chega no hospital por outras razões, e testa positivo para Covid. Sofre um acidente, testa positivo; tem um infarto, testa positivo. Isso é muito disruptivo. É uma situação muito particular.
Tem um número de crianças que têm se internado com Covid incidental também.
O que a Prefeitura sabe sobre o perfil de quem está morrendo por Covid?
Os óbitos ainda são eventos relativamente raros. O perfil de complicação é paciente com comorbidade, mais idosos, no caso da Ômicron. Uma fração deles sem vacina ou com esquema incompleto. Mas isso requer um estudo mais aprofundado, que estamos tentando fazer.
Tivemos um dia em Fortaleza com 106 mortes por Covid. Hoje, com a Ômicron, que estimamos que houve dias na cidade com mais de 4 mil casos, há um quarto do número de óbitos que tínhamos em 1 dia antes da vacina.
As pessoas que estão colocando a vacina em dúvida, não consigo entender qual é o ponto. Sem vacina, houve dias com mais de 100 mortes em Fortaleza. Hoje em dia, não tivemos nenhum dia com 5 óbitos. Com uma variante com 50 mutações.
A introdução da variante Delta em Fortaleza foi em agosto, é a mais agressiva do vírus, e não provocou nenhum aumento de letalidade no Brasil em pacientes vacinados. É preciso bom senso. Não faz nenhum sentido, inclusive moralmente.
A vacina aprovada não é mais experimental. Depois que ela passa da fase 3 de testes e é aprovada pelo órgão regulatório, não é mais. Isso é dito por pessoas ignorantes, e não pode fazer parte das decisões de caráter público e coletivo.
A que a população deve atentar agora, como forma de prevenção?
Primeiro, continue com a vacina: devemos reforçar a importância da 3ª dose. Tem uma parcela de pessoas suscetíveis, idosas, ainda sem a dose de reforço. Aqueles que já foram convocados, que compareçam assim que possível. Se tiverem tido Covid, que aguardem 30 dias.
Reforçar também a questão das crianças: a vacina é extremamente segura, é importantíssimo proteger nossas crianças, para que possamos superar o mais rapidamente possível essa tendência que cresce de desacreditar na vacina.
Vacinar seu filho é um ato de responsabilidade, compaixão e de sentido de coletividade. É importante pra que a gente inclusive caminhe para o fim da pandemia.