O Ceará está há mais de um mês com nível de alerta ‘alto’ ou ‘altíssimo’ para o coronavírus em 98,91% das cidades. Dos 184 municípios cearenses, em média 182 estão nessa situação, entre o período de 21 de fevereiro a 3 de abril, representado pelas semanas epidemiológicas 9 a 13. Os dados são do portal IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
Os índices de alerta em torno da Sars-Cov-2 vão dos níveis baixo ou novo normal (1) a altíssimo (4). Até domingo (10), a cidade que apresenta menor índice é Ererê, classificado como moderado (2). No índice alto (3), estão Jaguaretama, Jaguaribara, Pereiro, Barro, Mauriti e Granjeiro. As demais cidades encontram-se no alerta mais grave para a doença (4), com 177 localidades. Assim, 99,45% dos municípios possuem risco 3 e 4.
Conforme explica o médico infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Roberto da Justa, a segunda onda da pandemia continua com muita intensidade, com um número de mortes ainda crescente. “O cenário ainda é grave, o vírus continua circulando demasiadamente na população”.
O que tem acentuado o quadro é que o sistema de saúde - tanto público quanto privado - está trabalhando “no limite”, comenta Roberto. “Muitas vezes a demanda não consegue ser atendida, principalmente nos casos graves que necessitam de UTI. Isso porque não há números suficientes de leitos para suprir a carência atual”.
O Ceará conta com 899 solicitações de leitos até este sábado (10), a plataforma da Secretaria da Saúde. Desse total, o número de requerimentos para leitos em unidades de terapia intensiva (UTI) é de 537. São 326 pessoas aguardando leito Covid de enfermaria no Estado.
“É um cenário preocupante, são muitas vidas sendo perdidas. O sistema de saúde está muito pressionado, com os funcionários desgastados. Então, assim, é uma conjuntura dramática que realmente nos causa muita ansiedade e angústia”
O professor de medicina recomenda ainda que as pessoas, mesmo as que já foram infectadas, mantenham as recomendações sanitárias. "Não fiquem em aglomerações e ambientes fechados; procurem permanecer em casa o máximo que puder; usem sempre a máscara de proteção e façam a higienização das mãos. Além de evitar também os tratamentos precoces com medicamentos que dão uma falsa sensação de segurança”, alerta.
Cenário é de preocupação
Questionado sobre uma possibilidade futura de melhora da situação pandêmica no Estado, o especialista relata que não se sente otimista devido à alta circulação viral e à baixa cobertura vacinal.
“A velocidade de vacinação no País todo, e no Ceará também, é muito lenta ainda porque faltam doses. Nesse ritmo, acho que não conseguimos nem terminar o ano vacinando as populações prioritárias, quanto mais vacinar 80% ou 90% da população geral”, reflete o infectologista.
O infectologista explica que a velocidade da vacinação é fundamental para impedir o aparecimento de novas variantes e também não descarta até novas ondas da doença. “É uma perspectiva desoladora porque, se você não vacina rápido, acaba permitindo novas infecções e multiplicações do vírus, com novas variantes - algumas que talvez nem consigam ser vencidas com a vacinação -, o que causa a possibilidade de haver uma terceira ou quarta onda da doença”, continua Roberto.
Campanha de Vacinação
Neste sábado (10), um levantamento do IntegraSUS indica que 1.583.180 pessoas se cadastraram na campanha de vacinação contra a Covid-19. O prazo final de cadastramento é até domingo (11) e pode ser realizado, de modo virtual, pelas plataformas Saúde Digital e Ceará App. É necessário que, após efetuarem o cadastro, as pessoas confirmem a solicitação pelo e-mail informado no ato da inscrição.
De acordo com dados da Secretaria da Saúde (Sesa), até o dia 8 de abril, em média 1.324.953 doses foram aplicadas no Ceará. O Governo do Estado distribuiu 535.180 doses para os idosos com mais de 75 anos e outras 512.448 aos profissionais da saúde até o dia 6 deste mês. Além disso, 290.793 destinaram-se à segunda dose do imunizante.
Flexibilização do Lockdown
Apesar do cenário de alerta, o governador Camilo Santana anunciou, neste sábado (10), o início da flexibilização do lockdown no Estado que acontece na segunda-feira (12). O Estado continuará com isolamento social rígido aos fins de semana e terá toque de recolher, das 20h às 5h.
O governador e o secretário da saúde do Ceará, Dr. Cabeto, apontaram um cenário de estabilização com um platô elevado em número de casos e óbitos. No entanto, o governo do Estado liberou alguns setores a abrir com 25% da capacidade, em horários distintos. O primeiro funcionará das 10h às 16h e o segundo das 12h às 18h.
O comércio de rua funcionará das 10 às 16h, incluindo os restaurantes. Já os shoppings funcionarão das 12h às 18h, assim como os estabelecimentos de refeição fora do lar localizados nesses centros de vendas.
VEJA O QUE MUDA
- O Ceará continuará em isolamento social, com toque de recolher todos os dias das 20h às 5h;
- Isolamento social rígido será mantido nos fins de semana, funcionando apenas as atividades essenciais;
- Passarão a ser liberadas gradualmente algumas atividades comerciais e de serviços com 25% da capacidade, seguindo rigorosamente todos os protocolos sanitários estabelecidos pelo decreto;
- Atividades estarão permitidas em horários diferenciados: algumas irão funcionar das 10h às 16h e outras das 12h às 18h;
- Na educação, o ensino infantil, que estava liberado até os 3 anos, será ampliado, permitindo atividades presenciais para crianças de 4 e 5 anos, além do 1º e 2º ano do ensino fundamental, com 35% da capacidade;
- Igrejas estarão autorizadas a receber no máximo 10% da sua capacidade;
- Algumas atividades continuarão ainda sem liberação para avaliação do comitê;
- Todos os espaços públicos e condomínios particulares continuarão restritos.