João Pedro Bezerra, que tem mielomeningocele, uma má-formação congênita na coluna vertebral, esteve com o elenco tricolor e o técnico Rogério Ceni em um dia de treino da equipe, antes da decisão do Cearense contra o Ceará
João Pedro Bezerra reconheceu o escudo do time do coração, as cores branca, azul e vermelha e até uns rostinhos conhecidos. Mas não sabia as surpresas que o aguardavam. A mãe sorria. O padrasto olhava com gosto. E João? João ria, contava histórias e encantava a todos que chegavam perto.
Plateia esta formada pelos jogadores do Fortaleza, que tentam o título estadual contra o Ceará no domingo (21), e por quem faz o clube no CT de Maracanaú. João, que tem mielomeningocele, uma má- formação congênita na coluna vertebral, contagia.
O olhar inocente de criança e o riso fácil carregam uma história bem grande. Desde a barriga da mãe, Márcia Bezerra, as estatísticas estavam contra João. Foi diagnosticado aos quatro meses com a doença. "Desde o momento da gravidez já soube das necessidades dele, aos quatro meses de gestação. Os médicos pediam que eu tirasse ele. Eu fui a única que acreditou. Foram várias cirurgias, vários tempos de UTI, quarto", conta a mãe.
Márcia decidiu manter a gravidez. João nasceu com paralisia nos membros inferiores e com a coluna exposta. Assim que veio ao mundo, passou longos oito meses na UTI. Era só o início da luta da dupla Márcia e João. Depois, a mãe manteve o filho sob cuidados médicos. Durante seis anos, a rotina do menino se resumia a ficar em casa.
As pessoas com quem tinha contato eram os familiares mais próximos. Tudo para evitar infecções. "Foram momentos difíceis, mas sempre pedia a Deus para me iluminar".
Em busca de uma melhor qualidade de vida para o menino, Márcia decidiu buscar um tratamento em Curitiba. Conseguiu uma cirurgia para João. Hoje ele tem 16 pinos nas costas para segurar a coluna.
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A paixão pelo Fortaleza foi incentivada pelo padrasto, Eduardo Gomes. João acompanha o Leão em casa, pela TV, e repete os lances vendo os vídeos na internet. O amor e admiração pelos jogadores e por Rogério Ceni foram consequência disso. No jogo contra o Vitória, pelo Nordestão, ele entrou em campo com Marcelo Boeck.
O jovem torcedor do Fortaleza teve a chance de acompanhar um treino do time em Maracanaú. Lá, entrevistou os ídolos, "cornetou" e até apostou no time com Felipe Alves titular. João Pedro passou recomendações, tirou foto e ainda ganhou de Max Walef as luvas de goleiro.
Marlon e Júnior Santos responderam às muitas perguntas do menino, Osvaldo ganhou homenagem e Quintero até arranhou um português para agradecer o carinho.
"Ele é um exemplo de vida. Deus compensou toda dificuldade dele com uma inteligência. A gente vê isso claramente. No meio de nós, serve de uma motivação muito grande, porque temos a oportunidade de dar alegria muito grande a um menino de nove anos", comentou Marcelo Boeck.
Mas um reencontro especial aguardava o garoto. A ideia de rever Rogério Ceni fazia o coração de João Pedro acelerar e as palavras ficarem emboladas na boca. Estava aflito. Será que Ceni viria? Será que ouviria o que ele tinha a dizer? Na entrada do campo do CT, o menino esperou até que o técnico apareceu, ao longe. João Pedro não gaguejou, não ficou sem voz, muito pelo contrário, gritou.
Recebeu um abraço do ídolo. Trocou palavras com o treinador que seguia apressado para o treino. No fim, uma constatação: era o melhor dia da sua vida.