“Perder é difícil, ganhar é mais, e saber ganhar é ainda mais, porque é quando mostramos a humildade”. A frase é de Marcelo Paz, atual presidente do Fortaleza. Eleito para um novo triênio até 2024, o gestor tem a própria história entrelaçada com o clube, mesmo um sendo centenário. Nos rumos do ineditismo da relação de amor, esteve à frente da gestão na classificação à Libertadores.
É o representante de um vasto grupo de pessoas que “fazem do time uma fortaleza”. E isso ocorre desde 2017, quando viu o time deixar a 3ª divisão e depois ficou no posto para ser campeão da Série B, conquistar Copa do Nordeste, conseguir a vaga na Sul-Americana, na Liberta e ter campanhas recordes no Brasileirão.
A modéstia não o permite esse título, mas os feitos não escondem: é o maior presidente da história do clube. Com a missão de vida de completar uma década de serviços prestados ao clube após o fim do mandato atual, incluindo trabalho como diretor de futebol, Paz se renova em busca do novo.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, o dirigente comenta sobre o legado que pretende deixar no Leão, as escolhas da próxima diretoria executiva e os planos sobre elenco para 2022. Até o momento, o Leão anunciou o zagueiro colombiano Ceballos e o lateral equatoriano Landázuri. O time também efetuou as compras do zagueiro Benevenuto e do volante Jussa.
Entrevista com Marcelo Paz
DN: O Fortaleza está na fase de grupos da Libertadores. Já caiu a ficha, presidente?
"Está caindo. Acho que vai caindo à medida que as coisas vão acontecendo, quando forma um elenco para o ano que vem, a proximidade do sorteio… Acho que a concretizar isso quando chega de fato para jogar. Falo baseado nas experiências que tivemos nos últimos anos, quando saí da C para B, da B para A, na Copa Sul-Americana, com jogo na Argentina. Então se materializa na competição, Será um grande desafio, mas falo disso com muito orgulho".
DN: Hoje, você tem mais de 1.500 dias como presidente do Fortaleza. Com a eleição para o novo triênio, pode completar 10 anos de dedicação ao clube no fim do período. Como percebe todo esse tempo de vida dedicado ao clube?
"Eu considero que é uma missão de vida, completando 10 anos, temos três pela frente, mas na vida de qualquer pessoa, 10 anos é uma parcela muito significativa de tempo e no meu caso específico, um período de muita produtividade, principalmente nessa faixa de idade, entre 25 e 45 anos. E eu estou dedicando quase todo esse tempo ao Fortaleza. Eu sou apaixonado por futebol e a minha vocação profissional é ser gestor, então consegui juntar as duas coisas, a paixão pelo futebol, do time que eu amo, com a gestão. Lá eu me realizo. Não são só flores, tem dias difíceis, dias mais difíceis e dias muito bons. Conversei com muitas pessoas e pensei que poderia ser bom esse novo triênio, com um espírito de aprendiz, de dar os melhores três anos, uma vontade de quem está apenas começando. Hoje, a minha vida é totalmente ligada ao Fortaleza. Veja a missão com alegria e fico me imaginando com 80 anos, olhando para trás, e feliz pela minha história no Fortaleza”.
DN: Dentro dessa missão de vida, quais os legados que quer deixar hoje no clube?
“O primeiro ponto é consolidar o Fortaleza na Série A, isso é primordial. Acho que precisa evoluir mais nas categorias de base, é um processo que deu um salto, que a gente passou a disputar a competições nacionais, mas que devemos continuar. Quero que a gente consiga revelar e usar o jogador no profissional. Na estrutura, tem muito para melhorar, coisas para evoluir, e o clube como um todo está em um padrão de crescimento alto, isso é um legado, o legado estrutural. Também o legado de gestão, de perceber a gestão como moderna, transparente, inovadora e vencedora. E quero deixar o Fortaleza mais próximo do torcedor, se reconhecendo como um clube de massa. Em cada pedaço da cidade, com menor poder aquisitivo, tem também torcedor do Fortaleza. A gente precisa encontrar mais caminhos para incluir esse torcedor, lotar o estádio com todos, deixar o clube mais popular, avançar ainda mais no interior, que cresceu muito, e ter mais ações de inclusão”.
DN: A Libertadores surge como a consolidação da ascensão dos últimos anos, com 2022 marcando também o 4º ano seguido do clube na Série A. Quais as marcas da sua gestão?
“Eu me dedico 100% do tempo ao Fortaleza, consigo atender a imprensa, os jogadores e todo dia falo com os torcedores, respondo mensagem e tiro dúvida, porque o torcedor é a razão do clube. Então é uma gestão profissional, com dedicação exclusiva, com planejamento estratégico acompanhado ao longo do ano, metas definidas para cada setor, diretoria com conhecimento técnico na área e de muita ação, que tenta cumprir os objetivos e ouvir o torcedor, acho que a torcida se sente atuante no Fortaleza. E tenho outro ponto que é delegar muito, confiar no trabalho da equipe, por isso a escolha (dos diretores) é muito importante, de ter valores e conhecer o que irá fazer no Fortaleza. O Marcelo Paz não trava no processo, ele delega e quer participar e entender os pontos”.
Objetivos do Fortaleza em 2022:
- Campeonato Cearense: conquistar o título.
- Copa do Nordeste: avançar no mínimo às semifinais.
- Copa do Brasil: avançar no mínimo às oitavas de final.
- Série A: conseguir posição que classifica para torneio internacional.
- Libertadores: avançar na fase de grupos ou conseguir a Copa Sul-Americana (ficar em 3º no grupo).
DN: Como o Fortaleza encerra 2021 em termos financeiros?
“Vai terminar o ano no azul. A projeção de 2021 era ficar no vermelho, um déficit de R$ 14 milhões, mas a gente arriscou ao formar um time competitivo. Com muita criatividade nas contratações, mas de bom nível, e esse time deu o retorno financeiro em Copa do Brasil e Série A. E ainda vamos encerrar o ano sem vender jogador e comprando o Edinho. Priorizamos o lado esportivo, mas claro que teve proposta, só que iriam mudar a nossa história, a gente apostou na manutenção dos atletas”.
DN: E sobre o elenco para a próxima temporada? Quais as definições do Fortaleza?
Eu posso falar que nós queremos um elenco melhor que o de 2021, mais qualificado. Esse nosso elenco é bom, deu resultado esportivo, mas que, em alguns momentos, a gente não conseguiu ter a reposição. Tivemos quedas de qualidade porque algumas peças juntas não podiam jogar, então queremos ter um time sem essa perda. O nosso time considerado titular ia muito bem. Então a gente vai qualificar. Quero que o torcedor olhe o time e pense: ‘Poxa, melhorou o elenco’. Vamos tentar rejuvenescer de novo o elenco, o mesmo movimento que a gente fez entre 2020 e 2021, de jogadores vitoriosos no clube, importantes, mas que a gente percebe que estava no momento de mudar, e quase todos tinham mais de 30 anos. Então a gente vai querer jogadores mais jovens, com mais força para a temporada e, naturalmente, teremos algumas saídas”.
DN: No momento, há atletas com vínculos sendo encerrados no fim de 2021. O clube já tomou a decisão sobre quais são os atletas que irão deixar o elenco?
“Eu vou dizer uma frase do Enderson Moreira, inclusive ele merece ser lembrado porque foi o treinador da virada, da manutenção na Série A e da montagem deste elenco, e ele me disse naquele momento: “Presidente, tão importante quanto trazer bons jogadores e saber o momento que eles tem de sair, isso é muito importante dentro de um time de futebol”. Eu aprendi muita coisa com o Enderson, e a gente ainda vai tomar essas decisões, sempre de forma tranquila, respeitando os atletas. Isso, o clube vai divulgar a partir de cada decisão. O Vojvoda vai participar ativamente disso tudo, das saídas do elenco e também das contratações para o ano de 2022”.
DN: Para um novo triênio, mudanças na diretoria executiva. O que pode falar sobre as escolhas?
“É um grupo grande, composto inclusive de pessoas que não estão na diretoria, mas são parte desse grupo ajudando. Irão ficar na memória os jogadores, os treinadores, sobretudo Rogério Ceni e Vojvoda, mas também precisam ficar as pessoas que fazem a direção do clube hoje. A gente tem uma junção rara de muita gente, que se qualquer pessoa quisesse contratar todas, não conseguiria porque eles têm outra atividade, mas estão juntos pelo Fortaleza".
"E vou simbolizar isso nos novos vice-presidentes, o Geraldo Luciano, que tem mais de 40 anos de contribuição, sobretudo nos momentos difíceis, mas sempre pediu anonimato no Fortaleza. É um executivo de sucesso, admirado e respeitado no país. E o Alex Santiago, um perfil diferente e mais jovem, com muita inteligência, fala cinco idiomas e é um profissional de muito trabalho. Está comigo pra tudo, fez vários projetos para o clube. Mas são várias pessoas, um grupo enorme de gente junta e querendo ajudar o Fortaleza”.
DN: O Fortaleza entra no ranking de clubes da CBF de 2022 como o melhor nordestino, na 11ª posição. Como você recebeu essa evolução nos últimos anos?
“Eu fui para o sorteio da Copa do Nordeste em 2019, com o ranking de 2018. e nos éramos o 10º do Nordeste dos times que iriam participar. Como o Sport não participou, ficamos em 9º. E mesmo no Pote 3, nós fomos campeões. Então é um salto muito significativo para hoje. Está no Top-20 é muito importante porque garante competições da base, mas o sonho é conseguir ficar no Top-10 e já estamos em 11º. A gente nunca pode achar que está no topo, porque depois disso só tem descida”.
DN: Há uma última mensagem que gostaria de deixar?
“O Fortaleza respeita os seus adversários e às vezes nós não somos respeitados, e a gente não dá resposta. Quando ganha bem, celebra com a nossa torcida. Nós também respeitamos a arbitragem, o Fortaleza não busca retirar responsabilidade, se a gente ganha, tem os méritos, se a gente perde, tem as falhas. E o Fortaleza procura trabalhar temas sociais ao longo desses anos como combate ao racismo, ao feminicídio, prevenção ao suicídio. Então a gente entende que o clube tem função social e ela vai nas atitudes, não basta dizer, quando a gente respeita o adversário, trabalhamos o tema respeito, por exemplo. São valores nas ações, porque a gente passa isso ao torcedor, tem gente que diz que o Marcelo Paz é besta, tem que brigar mais, mas essa não é a minha forma de trabalhar. E acho que está dando certo, né? Então de alguma forma as pessoas podem falar em ser feliz com diálogo, respeito, perdão, sem brigar toda hora, é um recado que deixa no dia a dia e nas ações”.