Ao analisar as espécies de aves existentes no Ceará, pesquisadores identificaram a extinção de 9 animais, entre flamingo, arara-vermelha e tucano, que foram eliminados levando cores, sons e uma série de contribuições ambientais. Com a perda, também vem o alerta: mais de 50 espécies estão ameaçadas de extinção no Estado.
As aves existentes no território cearense foram mapeadas no Programa Cientista-Chefe, da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema), com a divulgação da lista feita nesta quinta-feira (8). Também foram publicadas as relações de anfíbios e répteis.
No caso das aves, o mapeamento aponta que o gavião-caranguejeiro, maitaca-verde ou curica e aratinga-de-testa-azul provavelmente também foram extintos. A caça, o tráfico de animais e mudanças climáticas são os principais motivos para o sumiço dos animais.
Aves extintas no Ceará:
- Flamingo ou Maranhão (Phoenicopterus ruber)
- Pomba-galega* (Patagioenas cayennensis)
- Tucanuçu (Ramphastos toco)
- Arara-canindé (Ara ararauna)
- Arara-vermelha (Ara chloropterus Gray)
- Periquitão (Psittacara leucophthalmus)
- Ema (Rhea americana)
- Anhuma ou Inhuma (Anhima cornuta)
- Patativa, patativa-azul ou patativa-do-crato (Sporophila plumbea)
Com base em parâmetros internacionais, os animais são classificados entre espécies menos preocupantes até as extintas. Foram analisadas 461 espécies de aves no Ceará onde 10 estão “criticamente em perigo”, 24 “em perigo” e 17 “vulneráveis” em relação à extinção.
E qual o impacto disso para o meio ambiente do Ceará? “A resposta é complexa, porque para cada uma das espécies tem um impacto. Em resumo, há uma perda da nossa biodiversidade, que é a riqueza repassada para a próxima geração”, analisa Weber Silva, biólogo e coordenador do levantamento das aves.
Além da beleza natural, as aves exercem serviços ecossistêmicos, como a dispersão de sementes, que garante o nascimento de novas plantas, além do controle de animais. Com a perda desses animais, há um desequilíbrio em cadeia.
Aves criticamente em perigo:
- Uru (Odontophorus capueira)
- Guará (Eudocimus ruber)
- Gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus)
- Udu-de-coroa-azul, judu ou comboieiro (Momotus momota)
- Saripoca-de-gould ou tucaninho-da-serra* (Selenidera gouldii)
- Tovaca-campainha ou galinha-da-mata* (Chamaeza campanisona)
- Soldadinho-do-araripe, lavadeira-da-mata ou levadeiro (Antilophia bokermanni)
- Araponga-do-nordeste ou ferreiro (Procnias averano)
- Pintassilgo-do-nordeste ou pintassilva* (Spinus yarrellii)
- Saíra-douradinha (Tangara cyanoventris)
Um dos símbolos da biodiversidade cearense, o soldadinho-do-araripe, está na relação das aves criticamente em perigo de extinção. Bichos como o soldadinho e o uru são acompanhados em ações de preservação ambiental para evitar o desaparecimento na natureza.
Mas impedir que esses animais cheguem à extinção também depende do combate àquilo que ameaça o ambiente natural.
“Em geral, a perda de ambiente, caça e tráfico, que estão muito relacionados para comer ou para vender, são os principais motivos para extinção. Existem outros fatores, como aquecimento global, que acaba com a perda de habitat”, acrescenta Weber Silva.
Relevância do mapeamento
Por isso, as chamadas listas vermelhas de espécies ameaçadas de extinção são relevantes para entender a classificação dos animais e em quais lugares o cenário é mais crítico. Outros levantamentos, como o de mamíferos terrestres, já foram concluídos.
As listas devem compor o Livro Vermelho do Ceará com todas as espécies mapeadas. Essa será a primeira vez em que o Estado terá uma relação regional com as informações detalhadas sobre a fauna.
O levantamento das aves no território cearense levou cerca de 2 anos para ser elaborado e contou com a participação de 25 instituições e por volta de 30 profissionais atuantes na análise do status de conservação das espécies.
“O que temos de mais importante é a lista de espécies ameaçadas de extinção, porque determina prioridades para a gente desenvolver políticas públicas. É como classificar um paciente que chega ao hospital”, explica Weber.
Além disso, os dados serão como uma base para futuras análises com objetivo de entender a evolução da preservação ambiental.
“Tem indicadores de avanço, um acompanhamento para saber se as políticas públicas estão dando certo ou não. Como toda empresa que gere atividades precisa saber se está dando certo”, completa o biólogo.
Bichos ameaçados
O balanço divulgado nesta quinta-feira (8) também analisou 53 espécies de anfíbios existentes no Ceará. Foram identificados 3 tipos ameaçados e outros 3 como criticamente ameaçados.
Também foram mapeadas 111 espécies de répteis, com a identificação de 2 criticamente ameaçadas, 7 em perigo e 2 vulneráveis à extinção.
Há cerca de 5 anos começaram as articulações para a produção das listas vermelhas de espécies ameaçadas no Ceará. Em 2019 foram realizadas as primeiras reuniões e a portaria para a definição da análise foi publicada no ano seguinte.
Esse é um processo complexo que dá início no apanhado de publicações acadêmicas, como teses e dissertações, dos animais presentes no Ceará. Participam instituições públicas e privadas, como universidades, organizações não governamentais e institutos ambientais.