O número exato de casos de febre oropouche, transmitida pelo mosquito maruim, é superior aos 143 diagnósticos feitos até a última sexta-feira (16), porque nem todos os pacientes procuram um serviço de saúde para testagem. O quadro pode ser facilmente confundido com dengue, mas os profissionais da saúde começam a entender o que pode diferenciar as doenças.
Isso é importante para os cuidados com os pacientes, como foi abordado durante o seminário “Febre do Oropouche: como enfrentar a arbovirose no Ceará”, realizado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), nesta semana.
Rívia Barros, sanitarista e superintendente da Vigilância em Saúde da Bahia, foi convidada para compartilhar a experiência na Bahia, que já confirmou mais de 900 casos, sobre prevenção, tratamento e controle da doença.
“Começamos a acompanhar, porque tínhamos casos de pessoas com características clínicas de arboviroses e dava negativo para dengue, chikungunya e zika. Nesses lugares, começamos a testar primeiro para oropouche”, detalha sobre o cenário.
Os locais mais afetados são com clima parecido com o amazônico: quente e úmido, com plantações de cacau e banana, onde “o mosquito adora procriar”. As primeiras análises dos pacientes detalham os sintomas que são diferentes de outras arboviroses.
“A dor de cabeça é mais occipital (na parte de trás), a febre é muito mais prolongada do que na dengue e algumas características que, agora, precisamos treinar nossos médicos pra que possam fazer essa diferenciação”, ressalta.
O acompanhamento dos pacientes também aponta outro sintoma diferente: a perda de peso. “Outra coisa que temos notado é a perda de peso por muita falta de apetite. Temos casos de pessoas idosas que perderam de 10 a 12 kg”, frisa.
Os casos de mortes por oropouche na Bahia foram em duas pacientes jovens. “O que está sendo estudado é se os óbitos aconteceram como na dengue, que ao não cuidar dos primeiros sintomas há um agravamento”.
“Se você não cuidar dos primeiros sintomas, ficar em casa ou for pra unidade de saúde e ela mandar voltar pra casa, sem acompanhar, os sintomas podem ir se agravando, como o que acontece na dengue”, completa.
A especialista aponta, ainda, uma diferença na transmissão. “O mosquito maruim não pica através da roupa e isso ajuda (na prevenção), diferente do Aedes.”
Carlos Garcia, médico epidemiologista e orientador da Célula de Vigilância e Prevenção de Doenças Transmissíveis e Não Transmissíveis, acompanha de perto os pacientes diagnosticados no Ceará, onde há concentração no Maciço de Baturité.
“A gente observa que há queixa de diminuição do apetite muito importante, temos visto pacientes com certa perda de peso – não tão forte quanto 10 kg. Mas isso tem sido relato aqui, mas por volta de um mês o apetite retorna ao estado anterior”, pondera.
Em geral, os sintomas da oropouche desaparecem entre 7 e 15 dias. Porém, os especialistas notam um período clínico mais longo do que a dengue e os sintomas podem ter recorrência.
“Ou seja, o paciente passa uma semana adoecido, tem uns dois ou três dias de melhora, depois passa quatro ou cinco dias com os mesmos sintomas. Não se trata de uma nova infecção, mas de fato de uma ressurgência da própria doença”, completa.
Outros sintomas podem estar associados, como náusea, vômito, tontura, fotofobia, alguns pacientes podem ficar com a pele avermelhada, mas o mais comum são esses três: febre, dor de cabeça e as dores pelo corpo
Sintomas da febre oropouche
A febre oropouche pode ser diagnosticada por meio de exame PCR, feito em unidades públicas de saúde, com resultado entre 10 e 15 dias.
Os principais sintomas que têm sido relatados pelos pacientes cearenses com a oropouche são febre, dor de cabeça e dores no corpo, comuns a doenças como dengue e chikungunya. Confira o que aponta o Ministério da Saúde:
- Febre de início súbito
- Dor de cabeça
- Dor muscular
- Dor articular
- Tontura
- Dor atrás do olhos
- Calafrios
- Fotofobia (sensibilidade à luz)
- Náuseas
- Vômitos
- Meningoencefalite (inflamação no sistema nervoso), em casos graves
- Manifestações hemorrágicas, em casos graves.
Por causa da semelhança com outras arboviroses, as unidades de saúde realizam primeiro testes para essas doenças e, caso descartadas, investigam a presença do OROV.
Já os sintomas da dengue são:
- Febre alta
- Dor no corpo e nas articulações
- Dor atrás dos olhos
- Mal-estar
- Dor de cabeça
- Manchas vermelhas no corpo
- Dor abdominal intensa e contínua
- Vômitos persistentes
- Acúmulo de líquidos
- Sangramento de mucosa
- Irritabilidade
Como prevenir a febre oropouche
De acordo com o boletim epidemiológico da Sesa sobre a febre, todos os casos investigados no Ceará têm local provável de infecção em zona rural.
A melhor forma de prevenção é evitar o contato com o vetor, por meio de medidas individuais e coletivas, como:
- Evitar o contato com áreas de ocorrência e/ou minimizar a exposição às picadas dos vetores (mosquitos);
- Usar roupas que cubram a maior parte do corpo, como mangas compridas, calças e sapatos fechados;
- Aplicar repelente nas áreas expostas da pele;
- Limpar terrenos e locais de criação de animais;
- Recolher folhas e frutos que caem no solo;
- Usar telas de malha fina em portas e janelas.
O que dizem os pacientes
Em entrevista ao Diário do Nordeste, na última semana, funcionária pública Luciana Bezerra Sousa, de 27 anos, relatou quais foram os sintomas da febre oropouche. “Quando dei entrada no pronto socorro, a suspeita foi dengue. Eu estava com muita dor no corpo e, nos momentos de febre alta, tive dor atrás dos olhos. Eu não tive vômitos, mas também não tinha nenhum apetite”, detalha sobre os sintomas.
Luciana convive com dor no nervo ciático e, inicialmente, pensou que a dor tinha essa origem e decidiu tomar a medicação de sempre. Mas o quadro se espalhou pelo corpo todo. "Em vez de melhorar, em 40 minutos, eu piorei muito. Praticamente nem me mexia na cama porque estava doendo tudo e a febre contribui muito pra essa dor, era em torno de 40°C”, completa.
Ao chegar ao hospital, os exames descartaram as doenças mais conhecidas: dengue, zika e chikungunya. “A febre oropouche chegou a atingir meu fígado, o médico até chegou a pensar que seria dengue, mas descartou quando saiu o resultado do exame”, lembra.
A paciente ficou um dia internada e, dentre as orientações médicas, foi advertida sobre o uso de medicamentos para dor sem prescrição. “Fiz todo o acompanhamento, todos os procedimentos e fiquei bem. Foi em torno de 9 dias nesse processo doloroso”.