MP pede prisão de PM que matou homem negro em mercado de São Paulo

Gabriel Renan, de 26 anos, foi atingido com 11 tiros pelas costas e morreu no local

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O Ministério Público de São Paulo (MP) pediu à Justiça a prisão preventiva do policial militar Vinicius de Lima Britto, que executou pelas costas um jovem negro em frente a supermercado de São Paulo, segundo informações do g1. O oficial, que estava de folga no dia do crime, foi afastado das funções somente um mês depois, após vídeos da ação virem à tona.

Segundo argumento da Promotoria, a liberdade do acusado "põe em risco a ordem pública e prejudicará a instrução processual", fase em que são colhidos depoimentos e coletadas provas. 

O MP diz ainda que o policial "praticou homicídio qualificado" e "efetuou diversos disparos contra a vítima pelas costas, que estava completamente desarmada e indefesa. Indicando, portanto, dolo exacerbado e brutalidade na prática do delito por ele intentado".

A Promotoria considerou o motivo do crime fútil pela reação de forma desproporcional ao furto de produtos de limpeza, além de o PM ter usado um meio que impossibilitou a defesa da vítima e ter colocado outras pessoas em risco, por ter efetuado os disparos na rua.

O Ministério Público ainda ofereceu denúncia contra o policial militar e, se for aceita pela Justiça, ele se tornará réu e responderá a processo.

Reprovado em teste psicológico

Conforme revelado pelo g1 na quarta-feira (4), Vinicius de Lima Britto foi reprovado no exame psicológico de concurso da PM em 2021, quando tentou ingressar na corporação pela primeira vez. 

Segundo o resultado da avaliação do concurso, ele apresentou "inadequação" aos critérios exigidos no perfil psicológico para o cargo de soldado nos requisitos de: relacionamento interpessoal adequado, capacidade de liderança e descontrole emocional

Cerca de três meses após a extinção do processo, Vinicius foi aprovado em um segundo concurso para soldado da Polícia Militar.

O crime

Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, foi atingido com 11 tiros pelas costas após furtar materiais de limpeza de um supermercado da rede Oxxo e sair correndo. O caso aconteceu em 3 de novembro, mas voltou a repercutir nesta semana após a divulgação das imagens de câmeras de vigilância do estabelecimento. 

Dias após o crime, o assassinato de Gabriel foi denunciado nas redes sociais pelo tio da vítima, o rapper Eduardo Taddeo, do grupo Facção Central. Na publicação, ele denuncia a violência policial contra jovens negros e periféricos e contesta a versão dada pelo PM de que agiu em legítima defesa

No boletim de ocorrência sobre o caso, Vinicius afirma que viu Gabriel roubando produtos. Ao questionar o jovem, ainda conforme a versão do PM, ele teria dito que estava armado, colocando a mão dentro da blusa, razão pela qual o PM teria atirado.  

As imagens registradas pelas câmeras de segurança contradizem essa versão. O vídeo mostra quando Gabriel entra no mercado, pega quatro pacotes de sabão e tenta deixar o local correndo, mas escorrega próximo à porta e cai já do lado de fora da loja. Vinicius estava no caixa pagando pelas compras e, quando percebe a ação, sacou a arma e atirou contra o jovem, que já corria pela rua. Gabriel morreu no local. Foram identificadas 11 perfurações no corpo dele.

O caso foi registrado como morte decorrente de intervenção policial, resistência e tentativa de roubo no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Um inquérito policial também foi instaurado.

"Está comprovado que a gente estava certo e ele mentiu em depoimento, porque ele diz que apresentou voz de prisão. Porém, quando ele [Gabriel] escorrega, ele já saiu atirando [...] Ele é um assassino", disse, na época, a advogada da família, Fatima Taddeo.

Afastamento

Na última segunda-feira (2), após a repercussão do vídeo, a SSP disse que afastou Vinicius de Lima Britto das funções e que o caso segue sob investigação pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). "As imagens mencionadas foram captadas, juntadas aos autos e estão sendo analisadas para auxiliar na apuração dos fatos", disse a pasta. 

No comunicado, a SSP afirma também que "familiares da vítima foram ouvidos e diligências estão em andamento para identificar e qualificar a testemunha que esbarrou na vítima durante sua fuga do estabelecimento comercial, momentos antes de ser alvejado. A Polícia Militar acompanha as investigações, prestando apoio à Polícia Civil. Caso as apurações apontem para a responsabilização criminal do policial militar, medidas administrativas serão adotadas, incluindo a possibilidade de processo disciplinar que poderá resultar na sua exclusão da Instituição".