Os filhos de 19 e 22 anos mantidos em cárcere pelo próprio pai por 17 anos não tiveram contato com outras pessoas durante todas as suas vidas, segundo a tia dos jovens. A família foi resgatada na última quinta-feira (27), em Guaratiba, no Rio de Janeiro.
"Na verdade, eles nunca tinham visto ninguém. Eles só viam ela e ele. Não viam ninguém. Então, até colocar eles no convívio das pessoas é um pouco difícil", relatou ao portal G1. A mãe dos jovens também era mantida aprisionada.
Os três chegavam a ficar até três dias sem comer. Em depoimento à Polícia, a mulher confirmou que eles sofriam violência física e psicológica constantemente.
Mãe e filhos eram mantidos presos, amarrados e subnutridos, há, pelo menos, 17 anos.
Quem é o suspeito?
O suspeito pelo crime, Luiz Antônio Santos Silva, pai dos adolescentes, foi preso em flagrante. À Polícia, a mulher afirmou ainda que o marido nunca permitiu que ela trabalhasse e que os filhos frequentassem a escola.
Como o caso foi descoberto?
Foi um vizinho da família que fez a denúncia à Polícia. Sebastião Gomes da Silva, de 72 anos, sabia da situação da mulher e dos filhos — um jovem de 19 anos e uma mulher de 22, que aparentam ser "crianças" — e constantemente tentava doar alimentos para eles.
Porém, disse ao Metrópoles, Luiz jogava a comida fora e impedia que chegasse à família. "Tem pessoas aqui passando necessidade, estão em cárcere privado, isso é crime", disse Sebastião à Polícia, nesta quinta (28), sob anonimato, antes de os agentes constatarem o flagrante.
Irmã da mulher achava que ela estava morta
Segundo Sebastião, a família morava em Senador Camará, outro bairro da zona oeste do Rio, antes de se mudar para Guaratiba.
"Lá, ele [Luiz] fazia a mesma coisa com a mulher, prendia em casa. Ele precisou fugir da comunidade para não ser morto e veio morar aqui com as crianças. A irmã [da vítima] achava que ela estava até morta. A família pensava que eles estavam todos mortos", declarou o vizinho.
Vítimas estavam desnutridas
Mãe e filhos foram achados pela Polícia amarrados, sujos e desnutridos em uma casa na Rua Leonel Rocha. O local estava em condições insalubres. Sebastião disse que, além de passarem fome, eles eram agredidos por Luiz, que era conhecido na vizinhança como "DJ" devido à música alta que colocava para abafar os pedidos de socorro da família.
As vítimas foram socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e estão internadas no Hospital Rocha Faria com quadro grave, mas estável, de desidratação e desnutrição, de acordo com o G1. O caso ficou sob a investigação da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Campo Grande.
O suspeito foi preso pelos crimes de tortura, cárcere privado e maus-tratos.
Caso já era conhecido pelas autoridades
Sebastião contou, a família se mudou para aquela região quando os meninos ainda eram pequenos e que, desde então, são mantidos em cárcere privado.
“Eu tinha pena de ver aquela situação, o pessoal pedindo socorro. Vi o sofrimento deles, pedindo ajuda, batendo na porta. Foi uma alegria ter ajudado, eles passavam fome, era sério demais”, comentou o vizinho.
De acordo com o Metrópoles, tanto a Polícia Civil como o Conselho Tutelar do bairro já sabiam há dois anos sobre a situação da família. O Conselho Tutelar chegou a afirmar que tomou "todas as medidas cabíveis" à época.
“Esse caso é de conhecimento do Conselho Tutelar de Guaratiba há dois anos. Todas as providências cabíveis foram tomadas. Tanto o Ministério Público como autoridades policiais foram informadas, mas, infelizmente, somente agora estão tomando providências. Neste dois anos, o Conselho Tutelar acompanhou o caso e espera que agora a situação seja realmente resolvida”, informou, em nota, o órgão.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) também confirmou ao jornal que sabia da situação, mas que não foi informado sobre o desfecho da história.
“Conforme provocação da Promotoria da Infância e Juventude, ao tomar ciência dos fatos, em março de 2020, o Conselho Tutelar informou, que, apesar do lockdown decretado à época, havia tomado todas as medidas pertinentes", afirmou o Ministério.