A Guarda Costeira dos Estados Unidos (EUA) concluiu que o submarino Titan sofreu uma implosão, segundo indicam os destroços encontrados pelas equipes de resgate nesta quinta-feira (22). Os cinco ocupantes do submersível desaparecido no domingo (18), quando iniciou uma viagem turística aos destroços do Titanic, no Atlântico Norte, morreram na implosão da embarcação.
"Os destroços são consistentes com uma perda de pressão catastrófica da câmara" do Titan, informou o contra-almirante do serviço da guarda-costeira, John Mauger, que transmitiu os pêsames às famílias.
A comunicação com o submarino foi perdida no domingo (18), duas horas depois do início da imersão.
O contra-almirante John Mauger explicou durante a coletiva que ainda não se sabe como ocorreu a implosão. Ainda será definido se a investigação terá continuidade ou se os corpos serão procurados. Acredita-se que a implosão do veículo pode ter ocorrido antes de as buscas iniciarem, pois nenhum grande barulho foi captado.
A bordo estavam o milionário britânico Hamish Harding, presidente da empresa Action Aviation; o paquistanês Shahzada Dawood, vice-presidente da Engro, e seu filho Suleman - ambos também de nacionalidade britânica; o experiente mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet; e Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions, a empresa que opera o submersível, e que cobrava 250.000 dólares por turista (cerca de 1,1 milhão de reais na cotação atual).
O que é implosão de submarino?
Uma "implosão catastrófica", como a que se acredita ter destruído o Titan, ocorre devido à esmagadora pressão da água exercida no fundo do oceano. Os destroços do Titanic repousam a uma profundidade de quase 4 mil metros.
Ao nível do mar, a pressão atmosférica é de aproximadamente um bar, conhecido como uma atmosfera.
A uma profundidade em que se encontra o transatlântico, a pressão da água é multiplicada por 400 em relação aos valores da superfície marinha. Para efeito de comparação, a mordida de um grande tubarão-branco exerce uma força de quase 275 bares, de acordo com a revista Scientific American.
Em uma implosão causada por um defeito no casco ou por qualquer outro motivo, o submersível colapsaria sobre si em milissegundos, esmagado pela imensa pressão da água. A morte seria praticamente instantânea para os ocupantes.
Nas redes sociais, o perfil "starfieldstudio" usou um modelo do próprio veículo da empresa OceanGate para criar uma animação 3D sobre o suposto acidente. (Veja abaixo)
SIMULAÇÃO DA SUPOSTA IMPLOSÃO
Ao Uol, o professor do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Universidade São Paulo (USP), Gustavo Roque da Silva Assi, explicou que implosões ocorrem quando um submarino ou submersível ultrapassa o limite de profundidade permitido ao equipamento.
Em 2018, um ex-funcionário da OceanGate já havia alertado sobre o possível risco para passageiros se ultrapassassem pressões acima de 1,3 mil metros.
A possibilidade de sobrevivência quando há uma implosão é quase nula. Conforme Assi, uma pessoa conseguiria nadar até, no máximo, 50 metros de profundidade. "Uma falha estrutural em um submarino abaixo desta profundidade já seria catastrófica, mortífera para a tripulação".
Buscas por submarino
Na manhã desta quinta, um ROV (sigla em inglês para veículo por controle remoto), encontrou a cauda em forma de cone do submersível no leito marinho, a menos de 500 metros do Titanic, explicou Mauger durante coletiva de imprensa.
Pouco antes, a guarda-costeira americana anunciou a descoberta de um "campo de destroços", que devia ser avaliado pelos especialistas.
As buscas, das quais participaram embarcações, robôs e aviões, tinha entrado em uma fase crítica nesta quinta-feira, passadas as 96 horas da reserva de oxigênio de emergência disponível no submersível Titan, da empresa OceanGate Expeditions.
O navio-tanque Polar Prince, da empresa canadense Horizon Maritime, perdeu todo o contato com o submersível menos de duas horas depois da imersão, que deveria ter durado cerca de sete horas para visitar os restos do Titanic, que jaz a quase 4 mil metros de profundidade e a 600 quilômetros da terra firme, em Terranova, no Canadá.
A detecção de ruídos subaquáticos na área das buscas nos últimos dias reacendeu a esperança de encontrar o submersível e concentrou as buscas dos navios e aviões próximo ao local do naufrágio do Titanic.
Barcos de muitos países, entre eles Canadá, Estados Unidos e França, assim como de empresas privadas e veículos por controle remoto integraram o dispositivo internacional que participou das buscas pelo submersível.
Outro robô da empresa de mapeamento de águas profundas Magellan estava programado para chegar do Reino Unido na tarde desta quinta-feira para se somar ao rastreamento do fundo do mar.
Falhas de segurança
Nos últimos dias, tornou-se público um relatório sobre as possíveis falhas de segurança do submersível.
O ex-diretor de operações marítimas da OceanGate Expeditions, David Lochridge, demitido por ter questionado a segurança do Titan, mencionou em um processo judicial o "projeto experimental e não comprovado" da embarcação. Segundo Lochridge, uma parte da frente do dispositivo foi concebida para resistir à pressão a uma profundidade de 1,3 mil metros, e não a 4 mil metros.