Isolamento de contaminados por coronavírus termina em incêndio em campo de refugiados na Grécia

Autoridades buscam soluções para oferecer abrigo alternativo aos milhares de refugiados

Milhares de migrantes precisaram fugir de uma série de incêndios na madrugada desta quarta-feira (9) em um campo de refugiados superlotado na ilha grega de Lesbos, na Grécia, mas não houve mortes.

O campo de Moria abriga mais de 12 mil pessoas e foi "99% incendiado", de acordo com o presidente do sindicato dos bombeiros de Lesbos, Yorgos Ntinos. Autoridades buscam soluções para oferecer abrigo alternativo aos milhares de refugiados.

A causa dos incêndios ainda é desconhecida, mas a hipótese de um ato criminoso não foi descartada. Atenas colocou Lesbos em estado de emergência e enviou agentes de segurança para ajudar a manter a ordem na ilha, que fica perto da Turquia.

Os incêndios começaram pouco depois da meia-noite (18h de terça, no horário de Brasília). Segundo a imprensa local, milhares de barracas e contêineres, escritórios administrativos e uma clínica dentro do acampamento foram atingidos pelas chamas.

"Não houve apenas um, mas muitos incêndios no campo. Migrantes atiraram pedras nos bombeiros que tentavam apagar o fogo. A causa está sendo investigada", disse Constantine Theophilopoulos, chefe do corpo de bombeiros do norte do Egeu, à emissora estatal ERT.

Formou-se uma grande operação de resgate, que mobilizou 25 bombeiros e 10 veículos. Algumas pessoas tiveram ferimentos leves e apresentaram problemas respiratórios provocados pela inalação de fumaça.

Quase 500 moradores do campo tentaram seguir até o porto de Mitilene, capital de Lesbos, mas foram impedidos pelas forças de segurança. Outros buscaram refúgio nas colinas próximas ao campo.

Na semana passada, as autoridades detectaram o primeiro caso de coronavírus no campo de Moria e colocaram o local em quarentena. Após 2.000 exames, 35 pessoas tiveram resultado positivo para Covid-19 na segunda-feira (7).

Os primeiros relatos sugerem que os incêndios começaram em diferentes locais no campo de Moria depois de uma tentativa de isolamento das pessoas infectadas. Durante o tumulto provocado pelo fogo, todos se misturaram novamente.

Os bombeiros afirmaram que alguns grupos de refugiados impediram a entrada das unidades e que a polícia teve que atuar para permitir a continuidade do resgate.

O governo adotou medidas de restrição no campo, que não foram eliminadas, apesar das críticas das ONGs de defesa dos direitos humanos, que consideram as medidas discriminatórias, porque o confinamento na Grécia chegou ao fim em maio.

Segundo os grupos humanitários, o acampamento está superlotado e abriga mais de quatro vezes sua capacidade declarada. Nessas condições, seria impossível implantar medidas básicas de higiene e distanciamento social.

Durante quatro meses, Lesbos foi colocada em estado de emergência por razões de saúde pública, o que permitia ao serviço de proteção civil mobilizar apoio à ilha e aos requerentes de asilo.

Segundo o prefeito de Mitilene, os migrantes devem ser movidos ou alojados em navios para evitar a disseminação do coronavírus. Um porta-voz do governo grego, entretanto, disse à ERT que os refugiados do campo de Moria não terão permissão para deixar a ilha devido à possibilidade de propagação da doença.

Um policial disse a outra emissora de TV que a situação está fora de controle, acrescentando que a polícia foi forçada a libertar cerca de 200 pessoas que deveria ser repatriadas para seus países de origem.

Nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, descreveu os incêndios como um "desastre humanitário" e disse que os Estados-membros da União Europeia (UE) deveriam estar prontos para receber alguns dos refugiados do campo.

"Devemos determinar o mais rápido possível como podemos apoiar a Grécia. Isso inclui uma distribuição entre os países da UE dispostos a hospedar [migrantes]", disse Maas, cujo país detém a presidência semestral do bloco.

Ylva Johansson, comissária de Assuntos Internos da UE, informou que o bloco concordou em financiar a transferência imediata de 400 crianças e adolescentes desacompanhados para o continente grego. "Deixar todos seguros e protegidos em Moria é uma prioridade", escreveu ela, em uma rede social.

A situação no campo de Moria destaca a urgência de se reformar a política de migração na UE, que durante anos se deparou com divisões europeias.

A Comissão Europeia pretende apresentar sua proposta -já rejeitada em várias ocasiões- de um "novo Pacto sobre Migração e Asilo" no final do mês.

O Executivo europeu também coordenou, durante vários meses, um programa de realocação em dez países da UE de cerca de 2.000 menores desacompanhados que chegaram a acampamentos de refugiados na Grécia.

Até agora, apenas cerca de 640 pessoas (crianças, adolescentes e famílias com crianças doentes) foram transferidas e distribuídas entre sete países: Bélgica, França, Luxemburgo, Alemanha, Irlanda, Portugal, Finlândia.