O sargento Francisco Amaury da Silva Araújo, da Polícia Militar do Ceará (PMCE), acusado de participar das mortes de uma advogada e da mãe dela, no Município de Morrinhos, no Interior do Ceará, também é suspeito de integrar uma quadrilha envolvida com o jogo do bicho. O Diário do Nordeste já noticiou que o PM é investigado por outros dois homicídios e um caso de extorsão.
O policial militar foi um dos alvos de uma operação da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), deflagrada no dia 25 de maio último. Um mandado de busca e apreensão foi cumprido contra ele em uma residência na Praia do Pacheco, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). No imóvel, foram apreendidos dois aparelhos celulares, um tablet e um veículo Fiat Mobi.
A Polícia Civil e o Ministério Público do Ceará (MPCE) pediram pela prisão do sargento Amaury, mas a Justiça Estadual negou. Entretanto, o militar segue preso desde o dia 25 de março deste ano, devido a suspeita de participar dos assassinatos da advogada Rafaela Vasconcelos de Maria, de 34 anos (esposa de um tenente-coronel da Polícia Militar do Ceará), e da mãe dela, Maria Socorro dos Vasconcelos, 78, em Morrinhos. Outro PM também está preso, pelo crime.
O único suspeito alvo de mandado de prisão preventiva, na Operação coordenada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), foi Francisco Rogério de Sousa Rocha, apontado como o chefe da organização criminosa, investigada por envolvimento com jogo do bicho, lavagem de dinheiro e extorsão.
Ao total, a PC-CE cumpriu 9 mandados de busca e apreensão, em Fortaleza e em Itapipoca, que resultaram na apreensão de munições de arma de fogo, 9 veículos (sendo 2 luxuosos), aparelhos celulares, notebooks, documentos, dezenas de maquinetas e dinheiro.
Nosso trabalho não é somente localizar e prender essas lideranças, mas também de promover uma asfixia financeira e tirar o patrimônio que eles angariaram com as atividades criminosas.”
A Draco pediu duas vezes à Justiça Estadual pela prisão de outros 8 suspeitos de integrar o grupo criminoso, inclusive o sargento PM Francisco Amaury. Mas, na decisão de 19 de abril deste ano, a Vara de Delitos de Organizações Criminosas considerou que "ao que pese a autoridade policial ter apresentado indícios de que os investigados integrariam o grupo criminoso chefiado por Francisco Rogério, o arcabouço probatório ora apresentado, é insuficiente para comprovar a periculosidade dos suspeitos e consequentemente fundamentar o decreto cautelar".
A reportagem entrou em contato com a defesa de Francisco Amaury da Silva Araújo, para comentar a investigação policial, mas o advogado não respondeu até a publicação desta matéria. Já a defesa de Francisco Rogério de Sousa Rocha informou que não gostaria de se manifestar neste momento.
Como funcionava o esquema criminoso
Conforme um relatório da Draco, a investigação sobre o grupo se iniciou com uma abordagem da Polícia Militar do Ceará a um veículo com quatro ocupantes, que foi apontado por uma vítima como um automóvel utilizado por criminosos para subtrair maquinetas de jogo do bicho, em Fortaleza, no dia 1º de agosto do ano passado. Um dos suspeitos era o sargento Francisco Amaury da Silva Araújo.
Três suspeitos permitiram aos investigadores o acesso dos seus aparelhos celulares, menos o PM. A extração dos dados "vislumbrou a existência de diversas infrações penais, tais como: organização criminosa, porte ilegal de arma de fogo, lavagem de dinheiro, homicídio, corrupção ativa e jogo do bicho", segundo o relatório.
Francisco Rogério é apontado pela investigação como o chefe da organização criminosa e proprietário de diversas bancas de apostas do jogo do bicho, com atuação tanto na região de Itapipoca e municípios vizinhos, no Interior do Ceará; como no bairro Granja Portugal e redondezas, em Fortaleza.
"Em outros diálogos, também foi possível encontrar indícios do crime de constituição de milícia privada para a prática de crimes com violência e grave ameaça a pessoa (roubos, homicídios e ameaças). Segundo Relatório Técnico apresentado, não restam dúvidas do envolvimento de Francisco Rogério na atividade de exploração de jogos de azar, sendo verificada circunstância de disputas de territórios pelo domínio dessa atividade, com a tomada de máquinas entre os responsáveis", descreve o relatório policial.
Francisco Amaury seria um dos responsáveis pela segurança de Rogério e de realizar as extorsões ordenadas pelo chefe, segundo as investigações, utilizando-se do conhecimento policial e até de consultas a sistemas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) para acessar informações do interesse do grupo criminoso.