O avanço das facções criminosas no Ceará nos últimos anos é freado pela atuação da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), desde a sua criação, em 2016. Somente neste ano de 2023, a Delegacia Especializada já efetuou a prisão de 100 suspeitos de integrar facções no Estado.
A informação foi divulgada pelo titular da Draco, delegado Alisson Gomes, em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, na última quarta-feira (28). Segundo o investigador, dentre o total, 10 detidos ocupam papéis de liderança nas facções.
O foco da Draco, nos últimos meses, está no confronto entre uma facção criminosa carioca que atua no Ceará e um grupo criminoso dissidente. Antigos comparsas têm travado uma guerra, que já resultou em centenas de homicídios, em Fortaleza, Região Metropolitana e Interior.
"Para a gente entender essa disputa, é preciso fazer um histórico. No Estado do Ceará, existe uma facção criminosa carioca, e essa facção, no final de 2021 e início de 2022, teve um racha entre os seus líderes, muito em virtude do trabalho da Draco e da prisão de alguns líderes. Os remanescentes divergiram das ideias, houve um racha, e originou-se uma facção criminosa local", explicou Alisson Gomes.
Essas organizações criminosas passaram a disputar o domínio dos territórios, sobretudo pelo tráfico de drogas, que é o principal motor financeiro que abastece essas facções. A Draco buscou mapear essa movimentação, essa sucessão, quem ficou de um lado e do outro, para intensificar suas ações e arrefecer os crimes violentos."
Chefes de facções capturados
Entre os chefes de organizações criminosas presos em 2023 pela Draco, quatro homens têm relação direta com a guerra travada entre as facções de origem carioca e cearense.
O titular da Especializada da Polícia Civil destacou as prisões de três responsáveis por expulsões de famílias no Grande Jangurussu, em Fortaleza: Pedro Henrique Lima Bezerra, conhecido como 'Mossoró' ou 'Flamengo', detido em 18 de abril; Francisco Gabriel Teixeira Aprígio, o 'Mete Bala', em 23 de maio; e Michael Silvestre Azevedo, o 'MK', em 1º de junho.
"A Draco, apoiada pelos órgãos de Inteligência do Estado, conseguiu retirá-los de circulação. O que mostra que estamos atentos a essa movimentação (expulsões de famílias). Há uma investigação de forma permanente para que a gente possa frear esse expediente criminoso desses grupos criminosos organizados", afirmou Gomes.
O último líder criminoso capturado foi Danilo de Sousa Rios, o 'Ferrari', em Balneário Camboriú, Santa Catarina, em 15 de junho último. A esposa dele, Hadassa Irineu Alves, também foi presa, por suspeita de participar dos negócios criminosos da facção.
'Ferrari' teria deixado a facção carioca para ser uma das lideranças do novo grupo criminoso, em Itapipoca, no Interior do Estado. Segundo Alisson Gomes, o casal levava uma vida de luxo em Santa Catarina, morava em um apartamento avaliado em R$ 2 milhões e possuía um veículo da marca Jaguar, de R$ 300 mil, enquanto o suspeito ordenava execuções em Itapipoca e municípios vizinhos.
"Com a retirada dele de circulação, apesar de poucos dias, já é possível ver uma redução nos índices dos Crimes Violentos na região, o que demonstra que a estratégia adotada de mirar nas lideranças e também tirar de circulação os bens, as drogas, tem refletido em bons índices de Segurança Pública", revelou o delegado.