Qual histórico do Psol no Ceará, presidido por Alexandre Uchôa

A reportagem integra a série "Influências Partidárias", na qual o Diário do Nordeste traça o histórico dos partidos às vésperas das eleições de 2024

Com quase duas décadas de existência, o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) chega às eleições de 2024 com o desafio de aumentar as bancadas parlamentares em Fortaleza e nos municípios cearenses, além de fortalecer as candidaturas às prefeituras em um cenário de amadurecimento do partido — que se consolida como uma das principais agremiações da esquerda brasileira. 

Formado a partir de uma dissidência do Partido dos Trabalhadores (PT), em diálogo com outros setores e movimentos sociais ligados à esquerda, o Psol viveu um momento singular em 2022. O partido escolheu não apresentar candidatura nem para a presidência da República, nem para o Governo do Ceará — apoiando, em ambas as disputas, os candidatos petistas ao cargo. Foi a primeira vez que o partido não lançou candidaturas majoritárias desde a primeira eleição da qual participou, em 2006. 

Em Fortaleza, o partido também esteve presente em todas as disputas pelo Paço Municipal desde 2008. Para 2024, a possibilidade de candidatura própria ainda está em discussão interna, mas é defendida por diferentes alas do partido. 

Com dois mandatos na Câmara Municipal de Fortaleza — sendo um deles coletivo — e tendo eleito, pela primeira vez, um prefeito nas eleições de 2020 — que acabou deixando o partido para se filiar ao PT —, a preparação do Psol Ceará para a disputa eleitoral de outubro deve ser abordado na Live PontoPoder desta quinta-feira (11), que recebe o presidente estadual da sigla, Alexandre Uchôa. 

A entrevista integra o projeto "Influências Partidárias", que esmiúça como os partidos cearenses estão se preparando para o processo eleitoral de 2024. Nesta reportagem, que também faz parte da série, o Diário do Nordeste conta a história do Psol no Ceará. 

Partido de 'origem parlamentar'

O início do primeiro mandato do presidente Lula (PT), em 2003, marca o início das articulações para a criação do partido. "Nessa reflexão de qual seria o papel da esquerda brasileira e se o PT, governando o País, ainda permaneceria cumprindo a tarefa de ser o principal partido de esquerda", explica o presidente do Psol Ceará, Alexandre Uchôa. 

A divergência com o Governo Lula culminou na expulsão de parlamentares federais do PT por votarem contra a Reforma da Previdência encampada pela gestão petista em dezembro de 2003. Entre os parlamentares, estavam a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados João Batista Araújo, conhecido como Babá (PA), e Luciana Genro (RS). 

A discussão para a criação de um novo partido se consolidou e, em 2004, é iniciada a coleta de assinaturas para a criação do Psol. O registro oficial no Tribunal Superior Eleitoral, no entanto, saiu apenas em setembro de 2005. 

Secretária de Juventude do Ceará, Adelita Monteiro (Psol) destaca a "origem parlamentar" do partido, que inicia precisamente pela "discordância dos rumos dos governos petistas daquela época". "Diferente do PT, que tem uma origem do movimento de massas, o Psol tem uma origem parlamentar, mas com uma vocação muito grande para o debate popular das lutas dos direitos do povo, principalmente do povo mais pobre", explica. 

No Ceará, a criação do partido "acompanha a mesma dinâmica nacional", relembra o deputado estadual Renato Roseno (Psol), ao reunir "vários coletivos, organizações e pessoas que tiveram, naquele momento, a intenção de criar uma nova organização de esquerda no País". 

Entre os citados como figuras importantes neste processo de fundação do partido no Ceará, estão o escritor e militante político Gilvan Rocha, o advogado Mauro Gurgel e o Padre Haroldo. 

Neste início, existia um vínculo com grupos do PT, em especial com a corrente liderada pela então prefeita Luizianne Lins (PT), a Democracia Socialista (DS), lembra Alexandre Uchôa. Quadros vinculados ao Psol chegaram, inclusive, a compor o primeiro governo de Luizianne na Prefeitura de Fortaleza, iniciado em 2005. 

O registro oficial do Psol Ceará saiu em 2006, mesmo ano em que o partido concorreu nas eleições pela primeira vez. Naquele ano, Renato Roseno foi candidato ao Governo do Ceará, ficando na terceira colocação com 106,1 mil votos nas urnas. Contudo, o partido também perdeu a única cadeira de deputado federal, quando João Alfredo não conseguiu a reeleição. 

Ocupação de cargos eletivos

O partido voltou ao parlamento em 2008, com a eleição de João Alfredo como vereador de Fortaleza, sendo o candidato mais votado do pleito. Quatro anos depois, o Psol dobra a bancada na Câmara Municipal da capital cearense, com João Alfredo e Toinha Rocha. O partido ficou sem representação municipal após as eleições de 2016, mas em 2020 conseguiu ocupar duas cadeiras com Gabriel Aguiar (Psol) e o mandato coletivo Nossa Cara (Psol). 

No legislativo estadual, a estreia do partido foi em 2014, com a eleição de Renato Roseno — reeleito em 2018 e 2022. Em cargos majoritários, o Psol elegeu, pela primeira vez, um prefeito no Ceará. Na cidade de Potengi, Edson Viriato foi eleito em 2020 pelo partido, mas acabou deixando o Psol e se filiou ao PT em janeiro de 2022. 

Co-vereadora do Nossa Cara, Adriana Gerônimo (Psol) aponta que esse crescimento do partido "é um reflexo de que o país também tem interesse nesse projeto de nação que a gente tem construído". "O Psol disputa narrativa, faz críticas qualificadas, tem uma bancada muito qualificada politicamente e tecnicamente", destaca. 

Para Roseno, o partido tem "crescido com calma", tanto no Ceará como no Brasil. "É um partido diverso. Ele cresce dialogando com uma demanda da sociedade de uma esquerda mais programática", reforça o parlamentar.

Demarcação de espaço

A apresentação deste programa partidário é, inclusive, um dos principais motivos para que o partido insista na apresentação de candidaturas majoritárias, tanto para a Prefeitura de Fortaleza como para o Governo do Ceará — a exceção foi a disputa eleitoral de 2022. 

"A tática de sempre lançar candidatura é para demarcar e expor o programa do partido, para que as propostas do Psol cheguem ao maior número de pessoas", ressalta Alexandre Uchôa. "Hoje, o Psol é o segundo maior partido nesse espectro da esquerda. Tem o PT e, na sequência, tem o Psol. Isso se dá principalmente porque o Psol martelou muito o seu programa, as suas ideias e o momento de candidaturas favoreceu isso".

Não apresentar candidatura majoritária seria, portanto, estar "se furtando de fazer aquilo que é o mais importante para o partido: apresentar as suas ideias para a sociedade", acrescenta Roseno. "A regra geral é apresentar candidatura para apresentar o programa (partidário). Nenhum partido cresce se não disputa a opinião da sociedade", diz. 

Uchôa aponta que este reforço do programa partidário por meio das candidaturas majoritárias acaba impactando nas disputas parlamentares. "O Psol é um partido que tem muito voto de legenda, que caracteriza a importância do partido", argumenta. 

As eleições de 2022 foram o ponto fora da curva nessa estratégia eleitoral adotada pelo partido, por entender a necessidade de um "movimento de unidade da esquerda no combate ao fascismo", explica Adelita Monteiro. 

"O que se percebeu é que o risco que nós tínhamos de continuar em um governo fascista ou de fortalecer esse movimento da extrema-direita no nosso estado, no nosso país. (...) Nós nunca tínhamos participado de uma frente ampla antes, mas que seria através dela que nós conseguiríamos vencer essa etapa de avanço da extrema-direita no estado do Ceará e no Brasil. E se mostrou acertada demais essa condução", explica. 

Desafios para 2024

A discussão sobre uma eventual candidatura própria para o Paço Municipal em 2024 ainda deve ser feita pelas diferentes correntes que integram o Psol — cada uma delas representando linhas de pensamento específicas. A representação na Executiva estadual, inclusive, respeita a proporcionalidade destes grupos dentro do partido. O Psol foi ainda o primeiro partido a estabelecer a paridade de gênero na direção partidária, além de contar com cotas de diversidade, racial e de juventude dentro dos órgãos partidários. 

Além dos diferentes grupos políticos dentro do partido, a estratégia eleitoral do Psol em 2024 também deve passar pela articulação com a Rede Sustentabilidade — os dois partidos estão federados desde a eleição de 2022. 

Como desafios para a disputa de 2024, está a manutenção e ampliação da bancada na Câmara Municipal de Fortaleza. "Nesse ano, a nossa proposta é que a gente consiga eleger três vereadores do Psol, para que a gente consiga fortalecer o partido na Câmara Municipal e também aumentar a nossa bancada de esquerda de maneira geral", aponta Adriana Geronimo. 
 
O crescimento no número de vereadores eleitos pelo partido é uma meta não apenas para a capital, aponta Roseno. "É fundamental aumentar a presença em câmaras municipais com mandatos de qualidade como são os de Fortaleza", ressalta. Para Alexandre Uchôa, o Psol ainda "carece de desenvolvimento no interior do Ceará". 

Ele afirma que, além da Capital, o partido tem forte presença de lideranças no Crajubar — Crato, Juazeiro e Barbalha —, mas que ainda é necessário aumentar a capilaridade do partido em outros municípios. 

Adelita Monteiro acrescenta a importância de lançar candidaturas que representam pautas fundamentais do partido, como de pessoas negras, de mulheres, da periferia e LGBTQIA+. "Candidaturas que muitas vezes são silenciadas durante esse processo eleitoral e de que o Psol tem sido um grande porta-voz dessas pautas, que não são pautas de minoria, pelo contrário, são pautas de maioria sociais", afirma.