O que a agenda de Ciro Gomes em Fortaleza indica sobre as estratégias eleitorais no Ceará em 2022

O candidato a presidente participou de agendas neste domingo em Fortaleza

O ex-ministro e candidato a presidência da República, Ciro Gomes (PDT), esteve pela primeira vez cumprindo agenda oficial no Ceará após o início da campanha eleitoral de 2022. Acompanhado do candidato ao Governo do Estado, Roberto Cláudio (PDT), ele participou de atos em Fortaleza, incluindo a inauguração de comitês de campanha. 

Apesar de berço político, o Estado tem sido um ponto tenso da campanha de Ciro Gomes à presidência. Em 2022, o cenário de tensões e desgastes em alianças históricas tem reduzido as chances do pedetista de repetir os feitos das duas primeiras campanhas a presidente, quando obteve maioria de votos nos primeiros turnos. 

"Eu estou entregue ao povo cearense, a quem eu devo tudo. Espero que a população entenda e pense bastante no que seria melhor para o Brasil e para o Ceará. O Ceará não é um pedaço separado do Brasil e nós aqui também temos os padecimentos, aqui também assistimos às contradições brasileiras", disse.
Ciro Gomes
Candidato a presidente da República
 

A disputa pela sucessão ao Palácio da Abolição em 2022 provocou o rompimento de Ciro com antigos aliados e apadrinhados políticos - como o ex-governador Camilo Santana (PT) - além de rusgas com familiares, como é o caso do senador Cid Gomes (PDT) e do prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT). 

No caso de Cid, apesar de anunciar publicamente o apoio à candidatura do irmão ao Palácio do Planalto, através das redes sociais, ele tem se mantido distante da disputa estadual, enquanto Ivo afirmou que não irá fazer campanha por Roberto Cláudio em Sobral, berço político dos irmãos Ferreira Gomes. 

Sobre o assunto, neste domingo (21), Ciro preferiu não falar, afirmando que "dói no coração". Por outro lado, quem esteve ao lado do ex-ministro durante uma das agendas em Fortaleza foi o senador Tasso Jereissati (PSDB) - de quem se reaproximou nos últimos anos, após rompimento causado pelas eleições de 2010. 

O Diário do Nordeste separou quatro pontos da agenda de Ciro nessa largada oficial da campanha que demonstram focos da estratégia eleitoral dele no Estado.

Parceria com Tasso no Ceará

Um dos responsáveis por impulsionar o início da carreira política de Ciro Gomes, apoiando-o quando o hoje pedetista disputou a Prefeitura de Fortaleza e o Governo do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB) esteve ao lado do candidato à Presidência no lançamento do comitê de campanha do político no Estado, na noite de domingo.

No pleito deste ano, a parceria entre a dupla foi retomada oficialmente após mais de uma década de distanciamento. A aliança sólida entre eles durou 24 anos, desde quando o tucano era governador e Ciro era deputado estadual. Já o afastamento começou em 2010, quando Ciro e Cid apoiaram José Pimentel (PT) e Eunício Oliveira (MDB) para o Senado, À época, Tasso não conseguiu se reeleger.

A partir de 2019, no entanto, Tasso e Ciro começaram a dar sinais de uma reaproximação. Já nas eleições deste ano, Ciro voltou a receber publicamente apoio do tucano. A parceria se fortaleceu em meio a um momento turbulento enfrentado pelo PDT e pelo PSDB no Ceará. Ciro viu correligionários resistindo ao anúncio de Roberto Cláudio como candidato ao Governo. O político perdeu, inclusive, aliados de primeira ordem, como Camilo Santana.

Já Tasso viu o próprio partido recuar de uma decisão anunciada por ele. Sob comando do ex-senador Chiquinho Feitosa, a federação PSDB-Cidadania decidiu pela neutralidade no no pleito deste ano, contradizendo o anúncio de Tasso de que a sigla estaria no palanque de Roberto Cláudio.

Diante das crises internas, Ciro e Tasso se uniram em prol da candidatura de Roberto Cláudio. O tucano retomou a frente do PSDB Ceará, articulando a retirada de Chiquinho Feitosa do comando da legenda e liderando uma disputa na Justiça – sem sucesso – para reverter a posição de neutralidade da sigla.

Neste domingo, enquanto criticava ex-parceiros, Ciro exaltou a proximidade com o “irmão que a vida deu”, Tasso Jereissati, apesar de reconhecer que o PSDB apoia a candidatura de Simone Tebet (MDB) à Presidência.

Em entrevista e também no discurso, o pedetista mencionou por diversas vezes o tucano como responsável pelo início da “revolução” no Ceará. “Esse projeto aqui é um projeto coletivo, é um projeto que, volto a lembrar porque é uma homenagem que eu gosto de fazer, foi iniciado por Tasso Jereissati, que está aqui”, disse Ciro.

Crise na família

A inauguração do comitê de Ciro Gomes e Roberto Cláudio também chamou a atenção pelas ausências. Irmãos e correligionários do candidato à presidência, o senador Cid Gomes (PDT) e o prefeito de Sobral Ivo Gomes (PDT) não estiveram no local.

Cid, principal articulador do grupo Ferreira Gomes, está longe dos holofotes desde abril, quando parou de dar declarações públicas ou mesmo atender aliados. O sumiço do político ocorreu em paralelo ao acirramento da disputa interna no PDT entre aliados de Roberto Cláudio e da governadora Izolda Cela (sem partido) para decidir quem iria representar o grupo governista na chapa do partido.

Cid não apareceu nem mesmo quando a aliança histórica costurada por ele entre PT e PDT implodiu no Ceará. O político também não esteve na convenção do PDT e, até agora, não fez qualquer sinal de apoio a Roberto Cláudio, que nem sequer tem usado a imagem do pedetista na campanha.

Já Ivo tem dado declarações que vão de encontro a falas de Ciro. O prefeito de Sobral, inclusive, declarou apoio à candidatura de Camilo Santana ao Senado Federal. Para reforçar ainda mais os sinais de insatisfação entre os irmãos, Ivo disse que não irá fazer campanha para o PDT em Sobral.

Durante as definições das candidaturas, o prefeito, em entrevista ao Diário do Nordeste, atribuiu ao irmão Ciro e a Roberto Cláudio a responsabilidade pelo rompimento da aliança governista no Ceará. Ele disse que Cid Gomes foi “atropelado” no processo de escolha da candidatura. Ivo defendeu o nome de Izolda ao Governo e disse que Cid pensava da mesma forma.

No final de julho, na convenção do PDT em Fortaleza, Ciro tratou a declaração de Ivo como "fuxicalhada" e, à época, enfatizou que não iria falar de "problema de família" pelos jornais.

Já neste domingo, questionado sobre a postura adotada pelos irmãos, Ciro negou-se a comentar a ausência dos dois. “Eu peço que você compreenda, não tenho a menor vontade de comentar esse tipo de assunto, me faz mal, dói no meu coração”, declarou ao Diário do Nordeste.

Foco na Capital

Na primeira agenda no Ceará após a campanha começar, Ciro priorizou a Capital - da qual, inclusive, já foi prefeito. Ele participou de eventos ao lado de Roberto Cláudio, com grande presença de lideranças importantes da Capital. 

Um dos compromissos foi a inauguração do comitê do presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, Antônio Henrique (PDT) - que é também candidato a deputado estadual - no bairro Parque Santa Rosa. 

Ele também esteve no Conjunto Ceará, em evento organizado pelo vereador de Fortaleza Emanuel Acrízio (PP). Durante todos as agendas em Fortaleza, foi forte a presença de vereadores do município ao lado do candidato a presidente pelo PDT. 

Por outro lado, deputados estaduais e federais do partido estiveram ausentes. À noite, durante a inauguração do comitê central da campanha, acompanhavam a agenda apenas os deputados estaduais Queiroz Filho (PDT) e Sérgio Aguiar (PDT), além dos federais Mauro Filho (PDT), Leônidas Cristino (PDT), André Figueiredo (PDT) e Eduardo Bismarck (PDT). 

Uma das principais lideranças do partido, o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PDT), que chegou a ser cotado como candidato ao Governo, por exemplo, não participou de nenhum compromisso. 

Outros parlamentares da bancada pedetista na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legistiva também não participaram dos eventos de campanha de Ciro, estando em agendas no Interior do Estado. 

Por hora, Ciro focou ações na Capital, onde conta com a força dos aliados da gestão Sarto (PDT) na Prefeitura. Com o fim da aliança com  PT e o impacto da crise nas relações com parlamentares e prefeitos, a inserção no Interior tem sido um desafio para a campanha pedetista.

Apelo do discurso eleitoral

Durante a passagem pelo Ceará, Ciro destacou alguns assuntos que devem ser centrais no discurso eleitoral desta campanha. Um deles foi o crescimento da fome entre os brasileiros. Ele ressaltou a proposta de criação de um programa de renda mínima, no valor de R$ 1 mil por família. 

Ele também falou sobre a taxação das grandes fortunas no País, além de ter ressaltado a necessidade de geração de emprego e renda. "Nunca o Brasil viveu uma crise tão profunda, tão complexa", ressaltou. 

Ele aproveitou para criticar os principais adversários na disputa presidencial,  o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT) - que lideram as pesquisas de intenção de voto. 

Segundo ele, é necessário sair dessa "besteirada de paixão e ódio". Ele afirmou que o "Brasil" votou em Bolsonaro "magoado" por conta da crise econômica e da "roubalheira" dos governos do PT. "Agora, decepcionados com Bolsonaro, a gente vai voltar para quem produziu Bolsonaro", disse o candidato.