Naumi x Catanho: o que está em jogo no 2° turno da disputa pela Prefeitura de Caucaia

O retorno de um ex-prefeito ou a eleição inédita de um gestor do PT na segunda maior cidade Ceará podem mudar os rumos da política local

Decidido por apenas oito votos no último domingo (6), o segundo turno da eleição à Prefeitura de Caucaia promete ser acirrado. Ainda que estejam de lados opostos na cidade, Naumi Amorim (PSD) e Waldemir Catanho (PT) representam grupos políticos unidos a nível estadual, mas que contam com a vitória local para objetivos distintos no segundo maior colégio eleitoral do Ceará.

Não é para menos: Caucaia tem importante peso econômico e turístico no Estado, a considerar pela alocação de parte do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) e pelos aportes feitos nas duas últimas gestões na orla da cidade, lembra Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece). 

 

“Se uma cidade é importante do ponto de vista econômico, ela se torna também importante do ponto de vista político, como vitrine do governador e do presidente ter um prefeito aliado ali”, observa.

Marcos Paulo Campos, professor das universidades estaduais do Vale do Acaraú (UVA) e do Ceará (Uece), ainda lembra que esse crescimento econômico se reverte em alta da arrecadação de impostos por parte da Prefeitura, aumentando a importância na Região Metropolitana de Fortaleza.

Ocupar um cargo tão visado em um território que abriga mais de 240 mil eleitores ajuda a expandir sua influência pelo Estado, inclusive em eleições proporcionais. 

“Basta a gente dizer que, por mais de uma década, a família Arruda (com Zé Gerardo e Inês) governou Caucaia e manteve sempre uma cadeira na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal. Então é uma cidade que, de fato, guarda uma importância considerável no tabuleiro político do Estado”, lembra Emanuel. 

Retorno de Naumi

Essa relação Legislativo-Executivo também se reflete em Naumi, que deixou a Assembleia Legislativa após ser eleito prefeito de Caucaia em 2016, para seu primeiro mandato de gestão. Em 2018, elegeu a esposa, Érika Amorim (PSD), como deputada estadual. Ele chegou a buscar a reeleição, mas foi derrotado em segundo turno por Vitor Valim (à época, no Pros, mas, hoje, no PSB). 

A diferença entre os dois, em 2020, foi apertada: o candidato do PSD conquistou 80.045 votos (48,92%), enquanto o adversário recebeu 83.588 votos (51,08%). 

Já em 2022, ainda que existisse a expectativa de eleição de Camilo Santana (PT) como senador, devido à popularidade do ex-governador, Érika decidiu também se candidatar ao Senado e não tentar um novo mandato no Parlamento Estadual. Nas urnas, ela recebeu 193 mil votos e ficou em 3º lugar. 

Sem mandatos eletivos atualmente, o casal prepara o retorno de Naumi à Prefeitura. Para ele, a empreitada pode representar uma reconstrução política, após a derrota de 2020. Marcos Paulo lembra que uma vitória agora seria importante para Naumi porque, inclusive, em 2022, ele concorreu a deputado federal, mas acabou ficando na segunda suplência da sua bancada na Câmara Federal. 

Para Emanuel Freitas, um resultado exitoso em 27 de outubro representaria “uma vitória adiada em quatro anos”. “(Por outro lado), a derrota significaria para ele um certo comprometimento de seu capital político, uma vez que ele está disputando segundo turno com alguém que não tem história política em Caucaia, que é o Catanho, que veio de fora para disputar e mais ainda, seria até um referendo entre o governo de Naumi e o governo de Vitor Valim, que é um dos principais patronos da campanha do Catanho”, avalia.

Além disso, um resultado positivo em Caucaia ajudaria a reforçar o desempenho do PSD nacionalmente, já que o partido elegeu o maior número de prefeitos em primeiro turno, desbancando liderança carregada pelo MDB por anos. 

No Ceará, contudo, a legenda de Naumi elegeu menos gestores que em 2020, saindo de 28 para 15 vitoriosos nas urnas. O movimento já vinha se desenhando neste mandato, quando o partido perdeu quatro prefeitos para outras siglas da base do governo estadual, como PT e PSB. O próprio presidente do PSD Ceará, ex-vice-governador Domingos Filho, afirmou que Caucaia era “prioridade” para o partido em ocasiões anteriores, uma delas durante a convenção partidária que oficializou Naumi candidato.

Catanho e o PT

Waldemir Catanho chegou à disputa em Caucaia na esteira da desistência do atual prefeito de concorrer à reeleição e do conflito entre alas do PT Fortaleza, que levou à ausência da deputada federal Luizianne Lins na disputa na Capital durante o primeiro turno. 

Assim, a parlamentar decidiu apoiar um aliado antigo, secretário de governo por oito anos na sua gestão em Fortaleza e que, até a indicação a candidato em Caucaia, era o secretário de Articulação Política do Governo do Estado. A transferência de atenção ao município vizinho por Luizianne é vista nos bastidores como uma estratégia para reforçar sua presença em colégios significativos no Ceará, visando feitos maiores, como uma vaga no Senado em 2026. 

Aliado a isso, uma vitória em Caucaia naturalmente interessa lideranças como o ministro Camilo Santana (PT) e o governador, Elmano de Freitas (PT). Apesar de nutrirem boa relação com Naumi – Camilo apoiou o representante do PSD nas duas eleições que disputou à Prefeitura, e Elmano migrou para o lado de Naumi no segundo turno de 2020 –, é inegável que a prioridade é ter um petista na Prefeitura. 

“Até porque o PSD pode ter voo próprio nas eleições de 2026, então é mais importante que o Catanho ganhe do que o Naumi”, indica Emanuel Freitas.

Ainda que o partido e os outros componentes do bloco governista tenham elegido o segundo maior número de prefeitos no Ceará em primeiro turno, perdeu alguns dos principais colégios eleitorais para a oposição, como Juazeiro do Norte e Sobral, é o que lembra Marcos Paulo Campos. Devido a isso, a vitória em Fortaleza e em Caucaia “demonstraria a força do grupo estadual”, afirma.

“A candidatura do Catanho representaria uma ampliação de forças, principalmente para a Luizianne, que foi a liderança que mais se envolveu na campanha do Catanho, mas também uma certa base eleitoral para o PT, mais do que para o governador, porque o partido governaria pela primeira vez uma cidade importante como é a Caucaia”, observa, também, Emanuel Freitas. 

“Então seria um teste da influência de Luizianne, para além de Fortaleza, e também uma manutenção de um certo território eleitoral que seria favorável ao governo na campanha de reeleição daqui a dois anos”, completa.

O fator Emília

Naturalmente, o desempenho eleitoral de Emília Pessoa (PSDB) enche os olhos dos candidatos no segundo turno, que, inclusive, já afirmaram o interesse de levar a deputada estadual para o seu lado. Ela ficou em terceiro lugar na disputa por uma diferença de oito votos em relação a Catanho.

No sábado (12), a tucana decidiu declarar apoio à candidatura de Naumi Amorim. "Só quero pedir a cada um de vocês que a gente saia anunciando pra toda a nossa Caucaia que nós não vamos dobrar nem para o trem. Onde o Naumi estiver, nós estaremos", disse a ex-candidata. 

O quarto colocado na disputa, Coronel Aginaldo (PL) já havia declarado apoio à campanha de Naumi.

“Qualquer dos dois candidatos, se conseguir o apoio dela, terá um apoio fundamental. Ela sai grandiosa dessa eleição e permanecerá em evidência porque é deputada estadual, isso a cacifa ainda mais na reeleição para deputada estadual e mostrou, sim, a sua força política, que é igual à força política da máquina do Estado que estava aí presente na campanha do Catanho, então ela é aquele tipo de derrota que perde ganhando”, avalia Emanuel Freitas.

Além do reforço para uma futura eleição proporcional, os próximos passos de Emília interessam ao próprio partido, o PSDB. “É também importante ver que a Emília está no PSDB, que ensaia uma tentativa de se reconstruir no Ceará ou de não desaparecer por completo. Ela acaba sendo talvez um dos nomes mais importantes, certamente a mulher mais importante do PSDB nesse momento”, conclui Marcos Paulo.