Em reunião inédita com governadores e representantes dos Três Poderes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta segunda-feira (9) o governo do Distrito Federal na condução do enfrentamento aos atos terroristas desse domingo (8), em Brasília, e afirmou que as forças de segurança locais foram coniventes com os ataques antidemocráticos.
"A Polícia de Brasília negligenciou [o atentado]. A Inteligência de Brasília negligenciou", reforçou o presidente. Segundo ele, assustam os vídeos em que policiais aparecem conversando com os agressores enquanto eles invadem as sedes do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Havia uma conivência explícita da Polícia apoiando os manifestantes. Soldado do Exército Brasileiro conversando com as pessoas como se fossem aliados", continuou Lula. Contudo, segundo o chefe do Executivo nacional, a intervenção federal na gestão da segurança pública do DF conseguiu, por ora, "colocar ordem na casa".
Sobre os mais de 1,5 mil presos por envolvimento nos ataques terroristas, o presidente garantiu que as pessoas permanecerão detidas até que seja concluído o inquérito que apura os crimes cometidos contra a democracia.
Presentes à reunião, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e o Procurador-Geral da República (PGR), Augusto Aras, asseguraram que há uma força-tarefa para submeter os presos temporários a audiências de custódia. "Estão todos os colegas mobilizados", disse Aras. Ele garantiu, ainda, que serão aplicadas penas restritivas de liberdade "para todos que atacaram a democracia naquilo que é mais caro: o consenso social".
'Manifestantes' sem pautas
Lula também aproveitou o discurso para diferenciar manifestações de ataques terroristas.
De acordo com o presidente, os grupos que vandalizaram os prédios públicos dos Três Poderes não tinham "pautas", não pretendiam negociar. "Estavam na rua reivindicando o quê? Salário, construção de habitação, melhoria da produção agrícola? Não, estavam reivindicando golpe", afirmou o petista.
Além disso, Lula reforçou que a prioridade do Governo é identificar os financiadores dos atos golpistas. "Os mandantes certamente não vieram aqui. Nós queremos saber quem financiou, quem custeou [...] Não é possível um movimento durar o tempo que durou na frente dos quartéis sem um financiamento", disse, em referência aos acampamentos espalhados por todo o País, em frente a quartéis do Exército.
Ceará
O governador do Ceará, Elmano de Freitas, ressaltou o simbolismo do momento. “Foi um momento importante em que todos os governadores do Brasil, independente do partido, se colocaram solidários aos nossos poderes instituídos em defesa da democracia”, disse o petista.
Elmano reforçou que o Governo do Ceará cedeu 70 agentes do Batalhão de Choque da Polícia Militar para ajudar no restabelecimento da ordem na Capital Federal. “Eles ficarão os dias necessários para garantir o exercício dos poderes, que imagino que seja breve”, finalizou.
Com informações da repórter Flávia Rabelo, em Brasília