Após quase uma dúzia de nomes ser cotada na chamada “terceira via”, a pré-candidata da vez é a senadora Simone Tebet (MDB). Escolhida, nesta semana, pela cúpula do MDB, do PSDB e do Cidadania, a candidatura da parlamentar tenta pacificar um grupo de partidos que se coloca como alternativa ao atual presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao ex-presidente Lula (PT).
Tebet, no entanto, tem obstáculos semelhantes aos encontrados por todos os outros políticos que se lançaram como terceira via. Ela enfrenta resistência dentro do próprio partido e de legendas aliadas, além de acumular resultados ruins em pesquisas eleitorais.
Outro elemento no “imbróglio da terceira via” envolve o ex-governador de São Paulo, João Dória (PSDB). O tucano foi eleito nas prévias do partido, mas vê os próprios correligionários trabalhando contra sua candidatura e articulando lançar outros quadros do partido – ou mesmo a senadora do MDB. Dória também acumula desempenho insatisfatório nas pesquisas.
No bloco de candidatos que tentam quebrar a polarização está ainda o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). O pedetista tem o melhor desempenho neste grupo, mas evita se colocar como terceira via e, ao menos até o momento, se distancia de uma aliança com as outras legendas, já que é irredutível sobre a decisão de liderar uma chapa.
A solução da vez
Na última quarta-feira (18), dirigentes do MDB, PSDB e Cidadania realizaram encontro em Brasília – em que Dória não compareceu – e escolheram o nome de Tebet para representar o grupo. A decisão tomou como base pesquisas encomendadas pelas legendas. Nos levantamentos divulgados até agora com todos os candidatos, a emedebista acumula entre 1% e 2% dos votos, mas o nome de Tebet enfrenta menos rejeição que a de outros quadros cotados para a terceira via, como o tucano.
“Eu serei pré-candidata pelo meu partido, independente de outros partidos se somarem conosco ou não"
Apesar do discurso, a candidatura de Tebet tem resistência de nomes de peso entre os emedebistas, como o ex-senador Eunício Oliveira (MDB), que diz estar decidido a apoiar a candidatura de Lula.
“Na candidatura nacional, estou definido (com apoio a Lula). Não adianta Dória, não adianta isso nem aquilo, eu e mais 13 diretórios do MDB estamos unidos e não vamos para qualquer aventura como em 2018. Na época, (Henrique) Meirelles disse que bancava a própria candidatura e terminou com 1%. A bancada, que tinha 57 parlamentares, terminou com 39. Então, quando o (candidato) presidente é ruim, não adianta ficar afobado, dar murro, xingar a mãe, não muda nada. A candidatura ruim joga o partido em uma situação ruim”
Consenso na terceira via
Entre os atuais presidentes do MDB, PSDB e Cidadania, o discurso, no entanto, é outro. "Temos consenso entre nós. Vamos ter que colocar para o partido para poder dizer esse candidato que vocês chamam de terceira via", declarou o presidente do Cidadania, Roberto Freire, após reunião com outras siglas.
"Até terça-feira que vem fica pública uma posição apresentada aos três partidos. Vamos aguardar para ver se os três partidos confirmam essa posição", disse o presidente do PSDB, Bruno Araújo.
"A partir daí, inicia-se um processo entre os dois candidatos postos no qual poderemos passar para a fase seguinte de começar a construir de forma sólida essa aliança, construindo aspectos regionais e demandas que possam fortalecer essa candidatura presidencial"
A cautela do dirigente do PSDB tem nome e sobrenome: João Dória. Desde o ano passado, o tucano trava uma guerra dentro da sigla para se viabilizar como candidato. Escolhido nas prévias partidárias ainda em novembro do ano passado, o ex-governador já viu o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), tentar arregimentar apoio para se lançar à Presidência mesmo derrotado nas prévias.
O ex-governador gaúcho viajou pelo Brasil, inclusive vindo ao Ceará. Em abril deste ano, durante passagem pelo Estado, o ex-mandatário foi recebido em clima de campanha. Sem sucesso em tentar “puxar o tapete" de Dória, os dirigentes tucanos agora tentam apoiar o nome de Tebet.
Judicialização da disputa
Aliados de Dória garantem que, caso o ex-governador seja inviabilizado na pré-campanha, irá à Justiça para garantir a candidatura. Recentemente, ele chegou a enviar uma carta ao presidente do PSDB, Bruno Araújo, alegando tentativa de “golpe” da sigla, sinalizando a intenção de judicializar o impasse.
Após a reunião que definiu o nome de Tebet, o ex-governador não falou sobre a própria candidatura. Nas redes sociais, ele disse apenas que “o momento é de diálogo”. “O projeto de construção política deve priorizar o Brasil e o povo brasileiro”, acrescentou.
Um dos focos do impasse no caso do PSDB, além dos planos de Dória de ser governador, é o destino dos R$ 379 milhões de fundo eleitoral a que a sigla tem direito. Tucanos adversários do ex-governador temem que o valor seja despejado em uma candidatura pouco competitiva.
O político não consegue decolar nas pesquisas, somando resultados que variam entre 2% e 4%. Além do desempenho insatisfatório, a postura do político tem causado indignação em lideranças tucanas.
Um exemplo disso ocorre justamente no diretório cearense, onde o presidente da sigla no Estado, Luiz Pontes, não poupa críticas ao correligionário.
“Ele ganhou as prévias, que não vou dizer quais artifícios usou para isso, mas a postura dele chateou muita gente, inclusive nós do Ceará. Infelizmente, ele não consegue decolar, é um desempenho pífio nas pesquisas, é uma candidatura que não existe”, atacou.
“Ele não conseguiu agregar nenhum partido, nenhuma liderança, ele não agrega. Dória tem que ter a grandeza de olhar o partido e lembrar do (Mário) Covas, do (Franco) Montoro, entre outros tantos”
Em terceiro lugar, mas "não uma terceira via"
Enquanto a disputa pela terceira via afunila em torno de Dória e Tebet, o pré-candidato que se consolida na terceira colocação na disputa é o ex-ministro Ciro Gomes. O pedetista até tem se aproximado de alguns partidos em busca de reforçar a aliança em torno do seu nome. No entanto, ele rejeita a ideia de ser uma “terceira via”, além de avaliar as alianças com tais partidos como improváveis.
Ciro tem mantido conversas com lideranças do PSD e do União Brasil. Esta sigla, porém, decidiu lançar o nome de Luciano Bivar (UB) na disputa, rifando a pré-candidatura do ex-juiz Sergio Moro (UB). Já com o PSD as tratativas seguem.
No início deste mês, Ciro usou as redes sociais para agradecer a um aceno de Kassab ao PDT. Em entrevista, o presidente do PSD disse que Ciro “seria uma extraordinária terceira via”.
“Muito bem preparado, tem experiência, saberá fazer um bom governo, conhece gestão, tem energia, tem boa saúde, tem todas as condições para ser um bom presidente da República”
“Obrigado meu amigo Kassab, por dizer em público o que você tem me dito, com muita franqueza, em particular. Digo aqui o que tenho sempre lhe dito: estamos crescendo e vamos surpreender. O Brasil precisa de nós para rompermos essa polarização odienta”, ressaltou.
Ciro tem acumulado resultados nas pesquisas que chegam a 9%, bem acima dos outros postulantes à "terceira via”, mas ainda distante de Bolsonaro e de Lula. Por outro lado, o pedetista costuma repetir que a “terceira via não existe”.
Ele aponta que o atual presidente da República e o ex-presidente petista compartilham do mesmo modelo político-econômico, assim como outros nomes na disputa, como João Dória. “Terceira via não existe, é o modelo que está aí ou outro”, resume.
“Eles estão fazendo o povo brigar para deixar tudo como está sob o ponto de vista econômico e político. Eu estou propondo uma mudança racial (...) Aí o que eu tenho a ver com o Dória? Não é questão de diálogo, eu dialogo com qualquer pessoa, mas ele defende exatamente o que eu combato”
"Você tem a imprensa misturando, o que é natural, a terceira via com meu movimento de aproximação com o PSD. Eu não sou da terceira via. A distinção: terceira via tem candidatos. MDB tem candidata, União Brasil agora tem candidato, PSDB tem candidato. Eles estão numa dinâmica, e eu, em outra", disse Ciro em entrevista ao Correio Braziliense.