Ainda no primeiro mandato, pelo menos oito políticos cearenses vão tentar novos cargos em 2022

Especialistas analisam que movimento é comum e serve para reforçar imagem de lideranças e ampliar bancadas

Deputados estaduais cearenses e vereadores de Fortaleza que são estreantes na vida pública, ou seja, cumprem o primeiro mandato, já se preparam para enfrentar mais uma campanha em 2022 em cargo diferente.

Mesmo exercendo o primeiro mandato eletivo, ao menos oito parlamentares, após acordos com líderes partidários, articulam as bases de apoio com o objetivo de fortalecer o capital político e ampliar bancadas. 

No caso dos membros da Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), o movimento se dá ao fim do mandato, uma vez que os deputados estaduais foram eleitos em 2018 e completam quatro anos no Parlamento.  

Para os vereadores de Fortaleza, no entanto, a investida ocorre apenas dois anos após a posse na Casa Legislativa da Capital. A lei eleitoral não prevê perda de mandato caso esse grupo não obtenha êxito nas urnas.  

Especialistas avaliam que, mesmo estreantes, é comum que parlamentares queiram dar um salto na carreira. Na analise de duas cientistas políticas, esse movimento é interessante na medida em que líderes estão de olho no fundo partidário, tempo de televisão e ampliação das bancadas. 

A estratégia passa também por ampliar a representatividade partidária nas Casas e renovação da bancada com políticos mais novos.  

Um levantamento do Diário do Nordeste mostra que entre os oito vereadores e deputados pré-candidatos nas Eleições 2022 a média de idade é de 37 anos.  

Os postulantes se dividem em cinco partidos que vão desde os mais conservadores, como o PL, passando por uma sigla de centro como o MDB até agremiações mais à esquerda como o Psol. Avante e PDT completam a lista.  

PL e bolsonaristas 

Mais jovem entre os pré-candidatos estreantes, o vereador Carmelo Neto (PL), aos 21 anos, tentará uma vaga na AL-CE. Nas redes, o parlamentar explora a proximidade com o presidente Jair Bolsonaro, de mesmo partido.  

“Acabo de assinar minha ficha de filiação ao Partido Liberal, abonada pelo presidente Jair Bolsonaro, para encarar mais um desafio: ser pré-candidato a Deputado Estadual pelo Ceará”, escreveu o vereador ainda em abril, ao postar um vídeo ao lado do chefe do Executivo.  

Também do PL, o vereador Inspetor Alberto, eleito em 2020 na esteira do bolsonarismo, se coloca como pré-candidato da sigla ao Senado Federal. A candidatura, no entanto, ainda não foi confirmada pela agremiação.  

Um dos parlamentares cearenses mais próximos de Bolsonaro, o deputado estadual André Fernandes tentará um assento na Câmara dos Deputados. Para a cientista política e professora universitária Carla Michele Quaresma, os pré-candidatos deverão utilizar a proximidade com o presidente como estratégia de campanha.

No caso das postulações dos vereadores, Quaresma atenta para o fato de que, mesmo em caso de derrota nas urnas, os parlamentares não perdem o mandato e, mesmo que não sejam eleitos, podem ganhar politicamente com a exposição midiática. 

"O vereador tem por necessidade se manter muito próximo de uma base eleitoral, ele não tem nada a perder com a candidatura, o mandato dele continua preservado e, caso não seja eleito, ele volta para a Câmara", diz a professora. 

Movimentos no Avante, PDT e MDB

Pela primeira vez atuando na vida pública, o vereador de Fortaleza Danilo Lopes (Avante) também irá disputar uma vaga como deputado estadual.  

Atuando como professor e dentista, Lopes afirma que teve votação orgânica e uma campanha simples, fatores que lhe estimularam a se candidatar mais uma vez.  

“Minha missão é levar a boa política para a Assembleia Legislativa”, publicou o parlamentar nas redes sociais no dia 14 de junho.  

Pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará (Lepem/UFC), Paula Vieira observa que a intenção dos parlamentares é a construção do capital político, o que reflete também na força dos partidos e bancadas.  

“É um processo natural. Porque as lideranças mais velhas têm algum desgaste em termos políticos, então pessoas de pouca idade tentam construir um capital político não só de imediato, mas como estratégia de futuro”, analisa a especialista.

A vereadora Enfermeira Ana Paula (PDT) é a única estreante do partido na Capital que fará campanha em 2022. A parlamentar disputará um assento na bancada federal.

Outro postulante ao Congresso Nacional, é o deputado estadual Nelinho Freitas (MDB). Eleito pela primeira vez em 2018, ele foi candidato a prefeito em Juazeiro do Norte nas últimas eleições. 

Psol vai lançar estreantes 

Com dois membros na bancada da Câmara de Fortaleza, o Psol prepara as campanhas da vereadora Adriana da Mandata Coletiva Nossa Cara para disputar vaga na AL-CE e Gabriel Aguiar tentará assento na Câmara dos Deputados, em Brasília.  

Ambos são parlamentares de primeira viagem desde o início de 2021. 

“A Assembleia Legislativa do Ceará, casa parlamentar marcada pela oligarquia, masculinidade e branquitude, demorou 140 anos para eleger a primeira mulher deputada estadual, e de lá pra cá o Ceará só elegeu 33 mulheres e nenhuma delas se autodeclarou negra”, escreveu Adriana Gerônimo ao anúnciar pré-campanha nas redes sociais.

Para Carla Michele, a estratégia do Psol passa por duas frentes que, principalmente em 2022, são vitais aos partidos. Uma delas é ampliar a bancada na Câmara e a outra é ampliar o número de mulheres no parlamento. 

"Colocar essas candidaturas é interessante para o partido, não é só o candidato que se beneficia; o partido acaba estimulando a participação do fundo eleitoral", completa.