Após a CPI da Covid-19 apontar um suposto "ministério paralelo", que orienta Jair Bolsonaro na condução da pandemia sem critérios científicos, vídeos obtidos pelo jornal Metrópoles comprovam o aconselhamento recebido pelo presidente em reuniões ainda em setembro de 2020. (Assista ao vídeo abaixo)
As imagens revelam que a imunologista Nise Yamaguchi, o deputado Osmar Terra e o virologista Paulo Zanoto participam dos encontros no Palácio do Planalto, em Brasília. Nenhum deles usa máscara. “Uma honra trabalhar com o senhor neste período”, revela Nise.
“Não tem condição de qualquer vacina estar realisticamente na fase 3”, afirma Zanoto, que também pede "extremo cuidado" do presidente com os imunizantes anticovid.
O virologista segue na reunião com um discurso negacionista. “Com todo respeito, eu acho que a gente tem que ter vacina, ou talvez não”, diz. Neste momento, uma outra médica balança a cabeça de forma negativa.
Os registros divulgados pelo Metrópoles também mostram que Arthur Weintraub, ex-assessor especial da presidência, fazia a ponte entre Jair Bolsonaro e o "ministério paralelo".
Veto aos imunizantes
Assim como em inúmeros posicionamentos públicos, o presidente voltou a dizer durante a reunião ser contrário à estratégia de vacinação em massa da população. Bolsonaro cita que vetou um trecho da Medida Provisória (MP) que acelerava a aprovação de novos imunizantes pela Anvisa.
“O projeto foi aprovado na Câmara e eu vetei o dispositivo. O veto foi derrubado depois, o que dizia? O que chegasse aqui para combater o coronavírus, a Anvisa tinha 72 horas para liberar [na verdade, o prazo era de 5 dias]. Se não liberasse, haveria aprovação tácita. Eu perguntei: ‘Até vacina? Até vacina.’”, frisou.
Sem considerar os estudos de eficácia comprovada, Bolsonaro sustenta desconfiança sobre as vacinas aprovadas fora do Brasil.
"Mesmo tendo aprovação científica lá fora, tem umas etapas para serem cumpridas aqui. Você não pode injetar qualquer coisa nas pessoas, muito menos obrigar”, disse, enquanto uma médica reagia com as mãos aos céus e agradecia a Deus".
Ainda durante o "gabinete paralelo", o presidente é apresentado por Osmar Terra a um cardiologista que defende que a hidroxicloroquina não traz riscos ao coração. O medicamento, porém, não tem eficácia comprovada contra a Covid-19.
Bolsonaro, então, considera que as complicações do fármaco no tratamento da doença pandêmica são divulgadas por especialistas para causar medo nas pessoas. "Provavelmente por ser um remédio muito barato”, finaliza.