Semana na CPI da Covid teve defesa da cloroquina, bate-boca e convocação de governadores

Senadores ouviram depoimento da médica cearense Mayra Pinheiro e do diretor do Butantan, Dimas Covas

A quarta semana da CPI da Covid se encerra com destaque para a participação da primeira cearense como depoente, a médica e secretária do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, e novos episódios de impasse entre oposição e base aliada no Senado.

O foco das investigações continuou nas vacinas e na recomendação pelo Governo Federal do suposto tratamento precoce contra a Covid-19. Houve também um novo desfecho com a convocação de nove governadores para depor.  

Além da participação da médica Mayra Pinheiro, que precisou explicar a defesa que faz do uso preventivo de remédios como a cloroquina contra a doença, o senador cearense Eduardo Girão (Podemos), titular na CPI, também teve participações que repercutiram nacionalmente após protagonizar embate com o presidente da Comissão, senador Omar Aziz (MDB-AM). 

Outro destaque foi o depoimento do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, que levantou suposta omissão do Governo na compra de 100 milhões de doses de CoronaVac. 

Diário do Nordeste separou quatro momentos marcantes dos últimos três dias da CPI. Entre eles está também a aprovação de requerimentos para que nove governadores sejam convocados para a depor em nova fase das investigações.  

Mayra Pinheiro e uso da Cloroquina 

Apesar da pressão que sofreu por parte dos senadores em relação à defesa que faz do tratamento precoce, Mayra Pinheiro manteve firme a defesa aos medicamentos do "kit Covid" e se esquivou de perguntas que poderiam resultar em críticas diretas ao presidente Jair Bolsonaro. 

A crise do oxigênio em Manaus e o lançamento do aplicativo TrateCov também foram pontos fortes do depoimento, na terça (25). 

Sobre tratamento precoce, Mayra disse que o Ministério da Saúde não chegou a recomendar esse tipo de conduta, mas estabeleceu "doses seguras" para a utilização por médicos, que teriam autonomia para prescrever os medicamentos. 

“O Ministério da Saúde criou um documento juridicamente perfeito que é a Nota Orientativa nº 9, que depois se transformou na Nota Orientativa nº 17, onde nós estabelecemos doses seguras para que os médicos brasileiros [...] pudessem utilizar esses medicamentos com o consentimento dos seus pacientes e de acordo com o seu livre arbítrio", disse Mayra. 

Ela também foi questionada se visitou unidades básicas de saúde do Amazonas durante a crise de falta de oxigênio, para recomendar o uso do medicamento no tratamento precoce, mas negou.  

Acerca da falta de oxigênio em Manaus – que mobilizou inclusive a doação do gás por parte de países como a Venezuela -, Mayra chegou a mencionar que não havia sido informada da possibilidade de colapso.  

"Eu estive em Manaus até o dia 5, eu voltei. O Ministro teve conhecimento do desabastecimento de oxigênio em Manaus creio que no dia 8, e ele me perguntou: 'Mayra, por que você não relatou nenhum problema de escassez de oxigênio?'. Porque não me foi informado", disse a secretária.  

O lançamento do aplicativo TrateCov, que recomendava o tratamento precoce para a Covid-19 também foi questionado no depoimento.  

Mayra Pinheiro, no entanto, apresentou uma versão diferente sobre a plataforma ter entrado e saído do ar, em desencontro com o que disse ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na semana passada. 

Pazuello disse que o aplicativo foi "roubado" e teve os dados alterados, e Mayra afirmou que não houve alteração do que estava proposto originalmente no TrateCoV, e sim uma "extração indevida de dados". 

Governadores convocados  

Nove governadores, um ex-governador e uma vice-governadora deverão ser convocados para depor após aprovação dos requerimentos em votação na quarta (26). 

Foram convocados os seguintes governadores: 

  • Wilson Lima, do Amazonas 

  • Ibaneis Rocha, do Distrito Federal 

  • Waldez Góes, do Amapá 

  • Helder Barbalho, do Pará 

  • Marcos Rocha, de Rondônia 

  • Antônio Denarium, de Roraima 

  • Carlos Moisés, de Santa Catarina 

  • Mauro Carlesse, de Tocantins 

  • Wellington Dias, do Piauí 

A expectativa, no entanto, é de que uma ação protocolada no Supremo Tribunal Federal (STF) desobrigue os chefes de Executivo a comparecer no Senado.  

A estratégia é apresentar uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), questionando a competência do colegiado para convocar governadores. 

Embate entre Girão e Omar Aziz 

Foi justamente no escopo de novas convocações que ocorreu um embate entre o cearense Eduardo Girão (Podemos) e Omar Aziz (MDB-AM). 

 

Na quarta (26), enquanto eram votados os requerimentos de convocação de prefeitos e governadores, o senador do Podemos foi chamado de “oportunista” pelo presidente Omar Aziz.   

Nos bastidores, houve acordo entre parlamentares da base governista e da oposição. Girão pedia a inclusão de prefeitos de Capitais na lista, mas os gestores municipais acabaram ficando de fora, após o acordo. 

Ao questionar a presença de prefeitos, Girão ouviu do presidente que era um “oportunista pequeno”, e retrucou: “eu só quero a verdade”.  

Girão participou da reunião que teria gerado o consenso, mas negou que tivesse feito o acordo e cobrou em plenário, o que gerou a irritação de Aziz. 

Desde que a mobilização pela criação da CPI, Girão é um defensor da convocação de chefes dos Executivos estaduais e municipais para falarem sobre o que foi feito com a verba federal enviada para o combate à pandemia.    

“Toda a sociedade brasileira que tem inteligência sabe que vossa excelência está aqui com um único objetivo: pra que a gente não investigue por que não compramos vacinas”, acusou Omar Aziz.  
 

Por meio de nota, o senador cearense criticou "atitude agressiva do presidente". "Não respondi aos ataques pessoais por que considero que a população não merece de nós espetáculos degradantes provocados por senadores que tinham obrigação de dar bons exemplos à sociedade", acrescenta o texto. 

Dimas Covas e a CoronaVac

O diretor do Instituto Butantan prestou depoimento na quinta-feira (27) e desmentiu o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, ao dizer que uma declaração de Jair Bolsonaro acabou atrasando a compra da CoronaVac. 

A CoronaVac foi motivos de inúmeros embates entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo, João Dória (PSDB).  

Enquanto Dória foi um ferrenho defensor do imunizante produzido em parceria com a China, Bolsonaro implantou o discurso de que o imunizante não seria confiável.  

Covas alegou ainda que a demora do Governo impediu a chegada de 100 milhões de doses até maio. Segundo ele, esses "percalços" impediram o Brasil de ser o 1º país do mundo a iniciar a campanha. 

“O mundo começou a vacinar no dia 8 de dezembro. No final de dezembro, o mundo tinha aplicado mais de 4 milhões de doses, e tínhamos no Butantan 5,5 milhões, e mais 4 milhões em processamento. Sem contrato com o ministério. Nós podíamos ter começado antes? O Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a iniciar a vacinação se não fossem esses percalços, tanto contratuais como de regulamentação", afirmou Dimas Covas. 

Dimas Covas foi questionado pelo senador Eduardo Girão sobre a eficácia da CoronaVac, citando morte do sambista Nelson Sargento. No entanto, Covas relatou que nenhuma das vacinas é capaz de garantir proteção total contra o coronavírus.