Jair Bolsonaro diz que CPI da Covid também deveria apurar conduta de governadores e prefeitos

Em conversa com o senador Jorge Kajuru, o presidente afirma que a comissão focada só no Governo Federal é para produzir "relatório sacana"

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu ao senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) para ampliar a CPI da Covid e apurar a conduta de governadores e prefeitos. O áudio da conversa entre os políticos foi divulgado pelo próprio Kajuru nas redes sociais neste domingo (11). 

Na gravação da ligação telefônica, que aconteceu no sábado (10), Bolsonaro diz que, se os senadores não mudarem o escopo da CPI, ampliando para investigar as ações dos governos estaduais e municipais também, será investigado apenas o Governo Federal. Segundo ele, a CPI vai ouvir "só gente nossa" para produzir "relatório sacana".

"Se não mudar a amplitude, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa, para fazer um relatório sacana. Tem que fazer do limão uma limonada. Por enquanto, é um limão que tá aí. Dá para ser uma limonada", disse ao senador.

Na conversa, o presidente deixa claro que é necessário que o Senado vá além do Governo Federal, para que assim a investigação seja útil para o País

"A CPI hoje é para investigar omissões do presidente Jair Bolsonaro, ponto final. Quer fazer uma investigação completa? Se não mudar o objetivo da CPI, ela vai vir só pra cima de mim. O que tem que fazer para ser uma CPI que realmente seja útil para o Brasil? Mudar a amplitude dela. Bota governadores e prefeitos. Presidente da República, governadores e prefeitos", afirmou.

Quando o Supremo Tribunal Federal determinou a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito, na última quinta-feira (8), Bolsonaro criticou a decisão e afirmou que o governo fez a sua parte.  

"Por que a CPI? É CPI para investigar as ações do Governo Federal. Por que não bota estadual e municipal? Nós fizemos a nossa parte. O Pazuello comprou vacinas no ano passado", disse Bolsonaro à emissora CNN.

Adiamento 

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) protocolou, no sábado, um pedido de aditamento da CPI da Covid para ampliar o escopo, com a intenção de incluir nas investigações atos praticados por agentes políticos e administrativos de estados e municípios no gerenciamento de recursos federais.

"Para não deixar margem de dúvida, já está apresentado, foi protocolado, e a gente vira esta página e o governo vai ter de inventar outra desculpa [para não apoiar a CPI]", disse. Após a instalação da CPI, o pedido precisa ser aprovado por maioria simples.

Determinação do STF

O ministro do STF, Luís Roberto Barroso, determinou na semana passada que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), instalasse a CPI da pandemia de Covid-19. A decisão do magistrado será julgada na quarta-feira (14) pelo plenário do Senado.

O presidente do Senado afirmou que vai cumprir a decisão do ministro Luís Roberto Barroso do STF e instalar comissão na Casa. 

Em coletiva de imprensa no Senado, Pacheco afirmou que a "decisão judicial se cumpre" e que vai respeitar a determinação de Barroso por "responsabilidade institucional e cívica", mas fez questão de criticar a decisão de Barroso.

Essa não é a primeira vez que o STF determina a instalação de CPIs a pedido da oposição. Em 2005, o Supremo mandou instaurar a dos Bingos, em 2007, a do Apagão Aéreo, e, em 2014, a da Petrobras.

Nesta terça-feira (13) o requerimento de instalação da CPI da Covid, solicitada por mais de um terço dos membros da Casa no início de fevereiro, deve ser lida por Pacheco. 

O objetivo dos senadores da minoria é apurar ações e omissões do governo Jair Bolsonaro na pandemia, como em relação ao colapso do sistema de saúde de Manaus, onde pacientes internados morreram por falta de oxigênio. O general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, já é investigado pelo caso.