Professores comentam questões das provas de Linguagens e Ciências Humanas do Enem 2024

Culturas tradicionais, questões raciais e mudanças climáticas foram assuntos da prova deste domingo (3)

As provas de Linguagens e Ciências Humanas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 foram aplicadas neste domingo (3). O Diário do Nordeste ouviu professores e especialistas que analisaram a prova e comentaram as principais questões.

As questões apresentaram desafios e reflexões que exigiram dos estudantes uma leitura aprofundada e crítica sobre temas culturais, históricos e sociais. Profissionais da educação destacaram a predominância de textos longos e a escassez de imagens em diversas questões. 

Vinícius Beltrão, coordenador de Ensino e Inovações do SAS Educação, pontuou que a prova de Linguagens do Enem 2024 abordou como tema central os povos tradicionais, com foco em culturas indígenas e africanas. O tema da redação, “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil,” se conectou a várias questões.

Pedro Lopes, supervisor de avaliações do SAS, comentou que a prova de Ciências Humanas abordou temas como enchentes e mudanças climáticas de forma teórica, sem mencionar casos recentes do Brasil.

A seguir, confira a análise detalhada das principais questões.

TEXTOS LONGOS

Paulo Fernandes, consultor pedagógico do SAS Educação, analisou o Enem 2024 e destacou que a prova contou com textos longos. "Foi uma prova com muito texto, eu até me lembrei bastante da prova de 2022", pontua.

Pedro Lopes, supervisor de Avaliações, acrescentou que, na parte de Ciências Humanas, apenas três imagens foram usadas: duas em Geografia e uma em História.

Na questão de História, o tema foi o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da Era Vargas, com imagens de uma revista que promovia a cultura brasileira. Entre as figuras retratadas estavam Carmen Miranda, uma pessoa montada a cavalo e três pessoas negras, o que, segundo Lopes, estimulava uma reflexão sobre os estereótipos do país.

"Também tinha uma questão de Geografia que apresentava duas imagens satélite comparando a paisagem de Dubai no ano de 2000 e de 2020. A gente tinha uma terceira questão, em Geografia também, que apresentava um gráfico sobre a relação entre o tempo de duração e a velocidade das inundações bruscas e graduais", pontua.

PROVAS DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

Joyce de Sousa, Especialista em Avaliações, analisou as provas de língua estrangeira e falou também sobre a presença de imagens.

Na prova de Inglês, três das cinco questões continham imagens, enquanto as demais eram apenas texto, incluindo um poema. Já a prova de Espanhol não trouxe nenhuma imagem, sendo composta exclusivamente por questões com textos escritos.

QUESTÕES RELACIONADAS AO TEMA DA REDAÇÃO

O tema da redação do Enem 2024, “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, se conectou com diversas questões da prova de Ciências Humanas. Segundo o supervisor Lopes, uma delas abordou a causa abolicionista, trazendo referências culturais do século XIX, como Chiquinha Gonzaga e Castro Alves, o que poderia enriquecer o contexto dos estudantes na construção do texto.

Questões sobre identidade e a realidade de povos tradicionais, como comunidades quilombolas, também apareceram, além de temas sobre preconceito identitário e a influência da globalização. "A gente teve uma ampla abordagem de temas ligados a questões identitárias", destaca.

O consultor pedagógico do SAS Educação Paulo Fernandes destaca que a prova explorou o uso da internet por populações indígenas e afro-brasileiras, abordando a inserção desses grupos no meio digital como uma forma de ganhar visibilidade.

Ele menciona uma questão sobre a invisibilidade de influenciadores negros nas redes sociais. "Uma influencer negra não tinha tanta veiculação do seu conteúdo negro, mas quando ela passa a colocar conteúdos de pessoas brancas, ela consegue ter", relembra a questão.

ESPORTES

Os esportes estiveram em alta durante o ano de 2024, devido aos Jogos Olímpicos de Paris. No Enem 2024, eles também foram destaque.

Vinicius Beltrão, coordenador de Ensino e Inovações, destacou uma questão sobre a trajetória de três atletas paraolímpicas, focada em aspectos biográficos. Outra questão citada por ele aborda a prática de artes marciais por mulheres.

"É engraçado que ela [a questão] até conversa ali, de certa maneira, com a obra Senhoras, falando sobre posições em que a mulher assumia na sociedade, mas não era muito comum, ou posições que a mulher passa a assumir, mas que ainda não estão bem resolvidas, precisavam ser naturalizadas", destaca.

Beltrão também mencionou uma questão que abordava impacto de novas modalidades olímpicas, como o surf e o breakdance, e as percepções sobre o lugar desses esportes nos Jogos Olímpicos.

O exame ainda abordou os impactos da pandemia de covid-19 na saúde mental e no acesso ao esporte. Uma das questões ressaltava que, durante a pandemia, enquanto as elites mantinham suas práticas esportivas, grupos em situação de vulnerabilidade social se tornaram mais sedentários, o que afetou diretamente sua saúde mental.

CULTURA NORTISTA

A cultura da região Norte do Brasil também esteve presente em algumas questões, destaca o consultor pedagógico Paulo Fernandes.

"Teve uma questão falando sobre os deslocamentos dentro da Amazônia, falando das culturas ribeirinhas e dessas utilizações", comenta. "A gente teve também uma questão falando sobre a importância cultural do Círio de Nazaré", relata.