Após a decisão do ministro Edson Fachin de anular as condenações do ex-presidente Lula, o que pode recolocar o petista no tabuleiro das eleições de 2022, foi imediata a repercussão no campo econômico.
A Coluna ouviu economistas cearenses para entender qual a dimensão destes efeitos no curto e médio prazos, caso Lula polarize a disputa nas urnas no próximo ano com Jair Bolsonaro.
Confira análise de economistas
Allisson Martins - Economista e coordenador do curso do Economia da Unifor
Com o retorno do ex-presidente ao tabuleiro do jogo eleitoral, a temperatura política vai esquentar, em razão da forte polarização, elevando ainda mais as incertezas.
Na ótica econômica, essas incertezas trazem atrasos em mudanças de que o país necessita, sobretudo quanto à necessidade de reformas econômicas estruturais, como a reforma administrativa e fiscal.
Nessa perspetiva, as variáveis macroeconômicas como dólar e juros, podem ser fortemente influenciadas com pressão de alta, impactando no custo de vida das pessoas, no custo do crédito e da produção para as empresas.
No mercado financeiro, as oscilações dos ativos devem se acentuar, fazendo com que os investidores embarquem na viagem “com emoção”, exigindo assim maior cautela na realização dos seus investimentos.
Ricardo Eleutério - Economista, professor de economia da Unifor e Conselheiro do Corecon-CE (Conselho Regional de Economia)
Sempre que acontece algum solavanco na política ou economia, o mercado reage com queda de Bolsa, aumento de dólar, aumento de risco país e elevação da taxa de juros na curva para o futuro.
Na possibilidade de uma eventual disputa entre Bolsonaro e Lula, pode ocorrer, até chegar lá, que o atual governo desenvolva uma política econômica mais populista, aumentando os gastos públicos e fazendo uma política fiscal expansionista. O atual presidente experimentou um ganho de popularidade quando saiu o primeiro programa de auxílio emergencial e teve uma queda de popularidade quando o programa cessou.
Os programas de renda na mão da população trazem um dividendo político e eleitoral. E o mercado financeiro sempre reage com a possibilidade de mais intervenção na economia, de mais estatização que, em princípio, estaria vinculado ao nome do ex-presidente Lula.
Temos um novo desafio político e econômico grande diante deste novo cenário.
Há a possibilidade também de essa possível polarização comprometer a nossa democracia. Estamos nesta exacerbação política há muito tempo e corremos o risco de, num confronto político extremado, pôr em risco nossa democracia. Este extremismo é uma preocupação de todos nós brasileiros.
Lauro Chaves - professor da UECE e Conselheiro Federal de Economia
Desde 2010 progressivamente o Brasil vem se polarizando em termos de política, o que impacta diretamente na economia. A partir de então, sempre tivemos, de um lado e do outro, posições cada vez mais extremas.
Quando isso contamina as questões jurídicas, incluindo todas as instâncias, e principalmente a Suprema Corte, tratamos de uma insegurança jurídica muito prejudicial à confiança necessária para o bom andamento da economia, pois a economia funciona de acordo com as expectativas, e na hora que você tem uma fragilidade na insegurança jurídica, você afeta as decisões de consumo e investimento dos agentes econômicos.
Desta forma, a insegurança jurídica deve ser um dos principais pilares a serem analisados com esse movimento atual que leva ao extremo da polarização política. E isso ajuda a fragilizar a economia brasileira.
Precisamos de vários projetos de nação, cada um apresentando corrente ideológica, mas estes são sempre postergados e o debate da polarização fica sempre focando em nomes que estão disputando e não em projetos alternativos que cada uma das correntes políticas apresenta para o nosso país.
Ricardo Coimbra - Presidente do Corecon-CE
No primeiro momento houve uma forte instabilidade no mercado financeiro em relação à decisão do ministro Fachin. Mas hoje já se observa certa movimentação no mercado a uma estabilidade, procurando entender esse processo e a tendência do que seria o processo eleitoral em 2022, em que muito provavelmente deve ocorrer polarização, e a grande disputa seria entre o antibolsonarismo e o antilulismo.
No Brasil se começa a observar tendência de maior crescimento do antibolsonarismo e reversão de queda do antilulismo. O mercado começa a visualizar o que seria talvez um processo de transição entre bolsonarismo e lulismo, talvez um governo de mais coalizão, de transição, na visão do mercado, de sair deste ostracismo que não se esperava do atual governo".
A depender de como será a composição de uma candidatura de Lula, se com aproximação com a centroesquerda ou ao próprio centro, isso poderia dar sustentáculo a um novo governo.
Haveria um impacto de aproximação de economias como Estados Unidos e China, e a própria composição na Europa, ou seja, aproximação maior dos mercados internacionais, o que pode gerar um processo de recuperação de maior credibilidade para a economia brasileira em relação à gestão de política econômica.