PIB do Ceará deve manter crescimento acima do Brasil em 2023, puxado por serviços e novas cadeias

Economistas ressaltaram o peso dos resultados dos setores de serviços e agropecuária na última divulgação do PIB pelo Ipece, referente ao 2º Tri de 2022

O Ceará tem dado bons sinais referentes à recuperação econômica após as diversas crises desde o começo da pandemia de Covid-19, confirmado pelo novo relatório do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado divulgado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) nesta sexta-feira (30). Segundo economistas ouvidos pela coluna, os resultados registrados por setor, principalmente o de serviços, consolidam esse cenário, que deve se manter em evolução nos próximos ciclos. 

Segundo os dados do Ipece, a economia do Ceará registrou um crescimento de 3,38% no segundo trimestre deste ano, superando os 3,2% da média nacional na comparação com igual período de 2021. Analisando o segundo trimestre de 2022 com os três primeiros meses do ano, o Ceará teve alta de 2,39%, enquanto a do Brasil foi de 1,2%. 

No acumulado do ano (primeiro semestre de 2022), o Estado tem alta de 2,89%, e o Brasil, de 2,5%. 

Mas os destaques da economia local ficaram, considerando o segundo trimestre de 2022 ante igual período de 2021, para os setores da agropecuária (6,08%) e serviços (3,75%). A indústria, puxada pelo cenário macroeconômico nacional, acabou apresentando um cenário inverso, com queda de 1,61%. 

Para Silvana Parente, economista e presidente do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon-CE), o cenário é natural e não deverá impedir a consolidação da recuperação do Estado. 

"A perda relativa da indústria é um fenômeno nacional, e no caso do Ceará, a indústria de transformação tem sido afetada por esse ambiente macroeconômico negativo do aumento da taxa de juros e dos choques de oferta de insumos. Mas os outros setores da economia cearense, como serviços e comércio não dependem só da indústria, e têm crescido pelo turismo, a economia criativa, sendo beneficiados pela retomada da economia", disse.

Ajuste de cenário 

A perspectiva foi corroborada por Ricardo Coimbra, economista e membro do Corecon-CE, que destacou o resultado da indústria estadual como um ajuste após a evolução registrada entre 2021 e 2020, considerando os impactos da pandemia do novo coronavírus.  

"No setor industrial, tivemos a queda de alguns setores, e isso pode ser destacado pela indústria de transformação e os setores de energia, gás e água. Parte desse resultado é porque tivemos uma boa recuperação no último ciclo, visto que estávamos nesse movimento de saída do momento mais crítico da pandemia. Então quando comparamos o segundo trimestre de forma anual, e tivemos um crescimento muito grande no ciclo anterior, essa retração é um ajuste desse processo de recuperação e retomada", explicou Coimbra. 

Serviços e recuperação

Apesar do resultado negativo da indústria, o cenário para o setor de serviços, que representa 77,80% do PIB estadual, indica uma boa estruturação da recuperação econômica. Analisando os dados do Ipece, os destaques ficaram para os segmentos de alojamento e alimentação (alta de 24,36%), transportes (15,06%) e outros serviços (13,40%). 

"Nos serviços é importante observar que tivemos uma boa recuperação relacionada ao turismo e a parte de alojamento e alimentação estão voltando em um ritmo significativo, com alta de mais de 24%, o que demonstra a recuperação do segmento de serviços. E como temos esse setor como significativo na nossa economia, essa boa recuperação gera boas perspectivas para os próximos ciclos", comentou Coimbra.

Perspectivas para 2023

A presidente do Corecon-CE ainda ressaltou que esse cenário deverá ajudar a manter o Ceará com resultados acima da média nacional no próximo ano, mesmo durante um possível cenário de recessão global. Parente explicou que o trabalho de impulsão feito pelo Estado para novas cadeias produtivas deverá ter papel importante para a manutenção do cenário de crescimento no próximo ano. 

"A expectativa para o ano que vem é de um crescimento menor, pela conjuntura nacional, mas ainda assim, o Ceará deve crescer mais que o Brasil, até porque o Estado tem investido muito na escalada de cadeias produtivas emergentes, como a de energias renováveis, como eólica, hidrogênio verde, e o mercado da saúde. Então isso, e o adensamento de outras cadeias, deve ajudar a manter a produtividade no Ceará", projetou Silvana.