Familiares e amigos fazem protesto, no Interior do Ceará, contra Blaze após morte de vendedora

A mulher de 39 anos era usuária do ‘jogo do aviãozinho’ e fez dívidas, segundo a irmã, em torno de R$100 mil

"Minha mãe não pediu ajuda, mas deixou áudios para ajudar outras pessoas", essa era a frase escrita numa cartolina levada à manifestação, em Missão Velha, pela filha de 8 anos, um dos três órfãos de Ângela Maria Camila da Paz.

Ela tinha 39 anos quando foi encontrada morta no dia 12 de dezembro. Ao procurar entender o que tinha acontecido, a família descobriu que ela estava viciada em jogos eletrônicos. A cearense chegou a gravar áudio dizendo que cometeria suicídio por causa das dívidas e o publicou no grupo da Blaze

A irmã de Ângela, a nail designer, Jéssica Lobo, que morava em São Paulo, disse que tomou conhecimento da situação da irmã após a morte dela, quando teve acesso ao celular, fez as contas e conversou com amigos. “Eu tive acesso a esses áudios quando eu cheguei. Uns três dias depois do acontecido, eu fui mexer no telefone dela e tive acesso a esses áudios”, relatou.

A reportagem questionou a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) se havia uma investigação sobre a causa da morte de Ângela. Mas a pasta se limitou a dizer que, por se tratar de um caso de suicídio, “não se pronuncia em respeito à família e à ética profissional”. A família diz que a Polícia não investiga a morte de Ângela.

Conforme descobriu Jéssica, a irmã jogava compulsivamente o Blaze, popularmente chamado de jogo do aviãozinho. É uma plataforma eletrônica que consiste em guiar um avião em busca de dinheiro, mas é preciso evitar o "crashed", "caiu" em inglês, numa tradução livre.

Segundo familiares, a vendedora de roupas fez dívidas no próprio nome e também no da mãe, por meio de empréstimos, aposentada de quem cuidava das contas, e também no CPF de amigas. Como ela era responsável pelas finanças da aposentada, nenhum familiar desconfiou do rombo financeiro.  As amigas, acostumadas a emprestar quantias para Ângela e ter a dívida paga, também não se alertaram para o cenário. Em meio ao luto, a família calcula um prejuízo em torno de R$ 100 mil.

A família relaciona a morte de Ângela aos jogos eletrônicos. A Blaze foi procurada, por e-mail, pelo Diário do Nordeste para falar sobre o caso e sobre suas atividades. Até a publicação da matéria, nenhuma resposta foi enviada. Jéssica também diz que tentou contato no grupo de WhatsApp que a irmã participava, mas ficou com medo e apagou a mensagem. Sem dinheiro, ela diz que não conseguiu ainda contratar advogado para entrar judicialmente contra a empresa.

O programa Fantástico, da TV Globo, mostrou vítimas financeiras da atividade, que é considerada ilegal pela mesma lei que proíbe cassinos. Mas a tecnologia deixou ainda mais evidente o quão ultrapassada pode estar a legislação, que é de 1946. Hoje, ninguém mais precisa sair de casa para entrar num cassino. Ele está no celular. E as consequências são tão quão devastadoras.

Em um dos domingos, o Fantástico centrou o foco justamente na Blaze. E acabou por revelar outra situação que piscava nas nossas telas: o trabalho de influenciadores que se utilizam da fama para vender esse tipo de cassino eletrônico.

Conforme o programa, a Justiça quer bloquear mais de R$ 100 milhões da Blaze e tirar o site do ar, mas não consegue porque a empresa tem sede no Caribe. 

Decepção com influenciadores

Jéssica Lobo tem liderado esse movimento em nome da irmã, pedindo ajuda para pagar as dívidas e conscientizando sobre os males causados por esses jogos eletrônicos.

Ela afirma que desde a morte da Ângela, teve o perfil no Instagram visualizado por influenciadores famosos que divulgam jogos eletrônicos. Jéssica afirma que nenhum manifestou-se sobre o assunto.

"Eu me senti muito triste com os influenciadores porque não demonstram empatia pelo que aconteceu", diz Jéssica, que morava em São Paulo e agora veio no Cariri, onde deve ficar cuidando da mãe, cardiopata, enlutada e endividada".
Jéssica Lobo
Irmã de Ângela e nail designer

Sinais

Caso você esteja se sentindo sozinho, triste, angustiado, ansioso ou tendo sinais e sentimentos relacionados a suicídio, procure ajuda especializada em sua cidade. É possível encontrar apoio em instituições como o Centro de Valorização da Vida (CVV), os Centros de Atenção Psicossocial (Caps).

O CVV funciona 24 horas pelo telefone 188 e também atende por e-mail e chat (acesse www.cvv.org.br). Os Caps oferecem ajuda profissional. No Ceará, procure os Caps (veja a relação completa das unidades de Fortaleza) e o Hospital de Saúde Mental, telefone: (85) 3101.4348.

Onde buscar ajuda

• Postos de saúde: as unidades são portas de entrada para obter ajuda especializada, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

• Centro de Valorização da Vida – CVV
Atendimento 24h
Contatos: 188 ou chat pelo site https://www.cvv.org.br
 
• Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE)
Contato: 193
Endereço: Núcleo de Busca e Salvamento Av. Presidente Castelo Branco, 1000 – Moura Brasil – Fortaleza-CE
 
• Hospital de Saúde Mental de Messejana
Contatos: (85) 3101.4348 | www.hsmm.ce.gov.br 
Endereço: Rua Vicente Nobre Macêdo, s/n – Messejana – Fortaleza/CE
 
• Programa de Apoio à Vida – PRAVIDA/UFC
Contatos: (85) 3366.8149 / 98400.5672 | contato.pravida@gmail.com
Endereço: Rua Capitão Francisco Pedro, 1290 – Rodolfo Teófilo – Fortaleza/CE

 • Instituto Bia Dote
Contatos: (85) 3264.2992 / 99842.0403 | contato@institutobiadote.org.br / institutobiadote@gmail.com | www.institutobiadote.org.br
Endereço: Av. Barão de Studart, 2360 – Sala 1106 – Aldeota – Fortaleza/CE