Como conservar alimentos corretamente? Veja dicas de especialistas

Nutricionistas explicam como observar se os alimentos estão em bom estado e os problemas de consumi-los fora da validade

Em tempo de inflação e alta no preço dos alimentos, conservar os produtos de forma adequada tem se tornado cada vez mais essencial para garantir o consumo e haver menos desperdício. Pensando nisso, na coluna dessa semana trago dicas para auxiliar esse armazenamento. 

Para começar, vamos falar sobre como a data de validade de um alimento é definida. Segundo a nutricionista Débora Moura, especialista na área clínica e esportiva, este prazo é estabelecido pelo fabricante que considera os ingredientes da composição, as condições higiênico-sanitárias ao longo da produção, armazenamento, os métodos de processamento ou até o tipo de embalagem usada. 

“O responsável técnico é aquele que conhece todas as etapas de manipulação do produto. O termo shelf life ou vida de prateleira do alimento significa o tempo em que ele pode ser conservado sob determinadas condições, e é determinado através de análise laboratorial”, afirma Débora.

A nutricionista Juliana Nogueira, pós-graduada em Vigilância Sanitária de Alimentos e nutrição clínica, complementa que esses prazos de validade também são estabelecidos “através de diversos testes realizados que avaliam o potencial de crescimento microbiano no alimento frente a diversas condições de armazenamento”. 

O fabricante, conforme Juliana, deve atender a “determinação realizada por órgãos reguladores e fiscalizadores, como Ministério da Saúde e Ministério da Agricultura baseada em Resoluções normativas”. Débora diz também que as regras gerais de rotulagem para determinação do prazo de validade estão previstas na Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa – RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002. 

Nos rótulos, o fabricante precisa informar como os produtos devem ser acondicionados e identificados com, no mínimo, as seguintes informações: designação do produto, data de fracionamento e prazo de validade após a abertura ou retirada da embalagem original.  

Conservar na geladeira aumenta tempo de validade?  

Juliana Nogueira explica que o prazo de validade informado na embalagem deve sempre ser respeitado, até se o produto ainda não tiver sido aberto e mesmo que esteja conservado na geladeira.  

“O produto quando aberto, terá contato com o ar que muitas vezes leva microrganismos presentes no ambiente para o alimento. Então, não é seguro e nem recomendado consumir um produto com o prazo de validade vencida”. 
Juliana Nogueira
Nutricionista

No caso de alimentos como os pães, Débora Moura revela que este é um produto favorável ao desenvolvimento de microrganismos por possuir as condições favoráveis para isso. 

“A temperatura é um dos fatores de maior influência nesse processo e a maioria dos microrganismos se desenvolvem melhor quando em temperaturas ambientes, por volta de 20ºC a 40ºC. Na geladeira, o produto fica fora dessa faixa de risco quando conservado em temperaturas abaixo de 5ºC. Nessas condições, os microrganismos se desenvolvem mais lentamente, fazendo com que o produto demore mais tempo para estragar”, diz Débora. 

No caso de alimentos em que se congela a longo prazo, Débora afirma que eles tendem a ter a vida útil prolongada se armazenados corretamente. Porém, ela lembra: “mesmo congelados devem respeitar o seu prazo de validade”. 

Produto venceu, mas continua em bom estado   

O consumo de alimentos que estejam em bom estado, apesar de fora da data de validade, não é indicado pelas profissionais. Débora ressalta que após o prazo “alguns microrganismos podem alterar as características do alimento e liberarem substâncias que são imperceptíveis a olho nu, mas que podem causar danos à saúde”. 

Já Juliana reforça também que “o fabricante não terá nenhuma responsabilidade, pois existe sim o risco de adquirir uma DTA (doenças transmitidas por alimentos), como intoxicação alimentar e riscos à saúde”. 

Quais os riscos  de comer alimentos fora da validade? 

A ingestão de alimentos para além do prazo estipulado pelo fabricante traz riscos à saúde como intoxicações alimentares e infecções por microrganismos. “Dentre os danos mais comuns, podem causar diarreia, dores estomacais, náuseas, vômitos e em casos extremos, pode levar à morte”, diz Débora. 

Juliana complementa que “além de intoxicações alimentares, podem acarretar infecções causadas por bactérias, como a Escherichia Coli e Salmonella sp ou Clostridium Botulinum, é capaz de produzir neurotoxina, causando o botulismo, uma doença grave e fatal. Essa bactéria está geralmente presente em alimentos enlatados que foram recontaminados ou que sofreram processamento térmico inadequado”. 

Embalagem estufada representa problema? 

Segundo as profissionais, qualquer embalagem estufada pode indicar que o produto não está em bom estado para consumo e não são indicados.  

"Qualquer embalagem estufada (seja de iogurte, enlatados, ou outros) pode indicar multiplicação de micro-organismos termofílicos ou termotolerantes (que resistem a altas temperaturas), com produção de gás. Geralmente, os gases são gerados por bacilos ou clostridios produtores de esporos. Não é recomendado o seu consumo nesse estado", reforça Juliana.

Dicas para observar bom estado dos alimentos 

A nutricionista Juliana Nogueira deixou algumas dicas para observar se os alimentos estão em bom estado. No caso dos mais perecíveis ela destaca: "o cheiro, a cor e a textura dos alimentos também vão influenciar seu valor nutritivo. Tudo isso deve ser observado na hora da escolha".

Veja a seguir as dicas para 6 grupos:

Produtos embalados

Observar sempre o prazo de validade e outras informações presentes no rótulo que são importantes, como: ingredientes utilizados, composição nutricional, modo de conservação e de preparo.

Verificar se a embalagem está em perfeita condição: não pode estar estufada, enferrujada, amassada ou rasgada. O produto não deve estar com a cor, cheiro ou consistência alteradas.

Observe, também, se o local de armazenamento está em boas condições, se as prateleiras estão limpas, os refrigeradores e freezeres ligados e em temperatura adequada. Só compre produtos de origem animal com o selo de garantia do Serviço de Inspeção Federal (SIF), do Ministério da Agricultura.

O produtor e/ou indústria devem estar identificados no rótulo, assim como o número de registro do estabelecimento. Se houver qualquer dúvida sobre o uso e conservação do produto, consulte o serviço de orientação ao cliente (SAC) do local de venda e da indústria.

Carne bovina e de porco

Quando frescas, são compactas, apresentam gordura branca e firme, cor vermelho-brilhante e cheiro agradável. Não compre se a carne estiver escura ou esverdeada, o cheiro for desagradável e não houver origem determinada e carimbo de inspeção do Ministério da Agricultura, denominado Serviço de Inspeção Federal (SIF).

Caso opte por carne moída e esta já estiver sido processada, tenha a certeza de que a origem é segura e também inspecionada(SIF). Prefira a que já se encontra em embalagem e que contenha data de validade. O mesmo para Frango e aves, observar se estão bons quando a cor da pele variar do branco ao amarelo, a superfície for brilhante e firme ao tato. Verifique o carimbo de inspeção (SIF) e a validade.

Ovos

Para avaliar se estão novos, observe se apresentam a casca pouco porosa, bem limpa e sem rachaduras. Não consuma, caso a clara ou gema grudarem na casca, se tiver cheiro diferente, podridão ou sabor anormal.

Peixe, camarão e mariscos

Verificar se estão frescos observando a presença dos olhos arredondados, a guelra vermelha, o cheiro suave, a pele brilhante e as escamas firmes. Se você apertar a carne, ela deve voltar à posição rapidamente. O camarão precisa estar com a cabeça presa ao corpo, a carapaça firme, o olho brilhante e o cheiro agradável.

Embutidos: (salsicha, lingüiça, salame, mortadela, presunto)

A cor deve ser original, sem fungos ou corantes demais. Salsicha e lingüiça não podem ter bolhas de ar ou apresentar líquidos. Observe se o salame não tem bolor, está escuro demais ou endurecido pela perda de água.

Hortaliças e frutas

Evite as que possuem partes ou casca amolecidas, manchadas, mofadas ou de cor alterada. Polpa amolecida com mofo. Folhas, raízes e talos murchos, mofados ou estragados. Qualquer alteração na cor normal ou modificação no cheiro característico, consistência alterada, esponjosa, perfurações, enrugamento... devem ser avaliadas.