'O Dia que te Conheci’ traz amor nos tempos do ‘corre’ em comédia romântica da classe trabalhadora

Entre ônibus quebrado e um primeiro encontro com uma colega de trabalho, longa acompanha um dia na vida de um bibliotecário

A partir de um mote tão simples e cotidiano quanto a dificuldade de um trabalhador para acordar cedo e encarar o trajeto de 1h30 até o trabalho, o longa mineiro “O Dia que te Conheci”, de André Novais Oliveira, apresenta um olhar sensível para temas como saúde mental, capitalismo e afeto.

O problema para levantar da cama acomete Zeca (Renato Novaes), que trabalha como bibliotecário em uma escola. O filme, que acompanha pouco mais de 24 horas da vida do protagonista, está em cartaz nos cinemas brasileiros.

O recorte temporal destacado pelo roteiro começa na noite anterior ao expediente de Zeca, acompanha um dia de trabalho do protagonista e segue até a manhã posterior.

Neste meio-tempo, desenrolam-se ações e perrengues de um cotidiano com o qual é fácil de se identificar — consumo de fritura pela manhã e ônibus quebrado no meio do caminho compõem o retrato das vivências do personagem retratadas no longa.

Ainda que a correria seja aspecto central para a trama, tanto como elemento narrativo quanto temático, a direção e a montagem de André Novais Oliveira — de “Temporada” (2018) e um dos nomes da produtora mineira Filmes de Plástico — não tomam para si um ritmo frenético. 

O zoom e a trilha instrumental orquestrada que acompanham as sequências em que o personagem literalmente corre, por exemplo, adicionam uma camada de leveza à situação. Ressalte-se, ainda, que a opção por suavidade não tira, de modo algum, a dureza das realidades de trabalhadores, mas, sim, evidencia elementos de humanização.

A escolha por definir o acompanhamento do personagem por um tempo específico e reduzido, inclusive, ajuda a enfatizar a relevância dos pequenos momentos, em especial os marcados por afeto e encontros.

O principal deles, decerto, é aquele entre Zeca e Luísa (Grace Passô), colega de trabalho do bibliotecário que trabalha na secretaria do mesmo colégio que ele. Separados no cotidiano pelas próprias funções, eles se aproximam no expediente justamente porque precisam ter uma conversa sobre as ausências de Zeca — em um mês, foram três faltas sem aviso prévio e cinco atrasos.

A conversa profissional se estende quando ela oferece a ele uma carona de volta. Assim, o encontro se reconfigura para pessoal na medida em que os dois passam a desvelar camadas mais aprofundadas e íntimas de si — da identificação mútua entre eles por serem duas das únicas pessoas negras no trabalho às trocas sobre doenças e receitas psiquiátricas.

“O Dia que te Conheci” se apresenta na divulgação como uma comédia romântica e, de fato, a obra se vale de determinados artifícios e elementos comuns ao gênero — o encontro fortuito entre dois desconhecidos por um dia ecoa, por exemplo, “Antes do Amanhecer” (1995) —, mas numa roupagem marcadamente trabalhadora, urbana e mais palpável.

Há um jogo astuto na composição do longa, que tanto foge de possíveis romantizações de questões concretas e relevantes — como as imposições do neoliberalismo aos trabalhadores —, quanto aposta na força do encontro como apoio para a conquista do bem viver — da cervejinha dividida pós-expediente até a ida à padaria pela manhã.

O Dia que te Conheci

  • Quando: sessões domingo, 29, às 19h30; terça, 1º, e quarta, 2, às 17h40
  • Onde: Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
  • Quanto: R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia); valor promocional às terças de R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
  • Mais informações: @cinemadodragao, @filmesdeplastico e @malutefilmes