Pros mudou de palanque no Ceará, entre Capitão Wagner e Elmano de Freitas, cinco vezes desde junho

Partido vive disputa judicial nacional que tem se refletido nos rumos da legenda no Ceará

Se tem um partido no Ceará que, há anos, transita em opostos na disputa política é o Pros. Nas eleições de 2022, desde o mês de junho, o partido já mudou de coligação cinco vezes, quatro delas por decisão judicial.

A decisão mais recente é uma liminar do Tribunal Superior Eleitoral, na noite da quarta-feira (17), que autorizou o comando estadual do partido a voltar a compor o arco de aliança de Capitão Wagner, candidato do União Brasil ao Governo do Estado, ex-presidente do Pros.

No processo, o presidente estadual Adilson Pinho alega que "foi surpreendido com a inativação da comissão estadual que presidia (...) sem qualquer notificação ou oportunidade de contraditório ou ampla defesa, às vésperas do início da campanha eleitoral e após realização da convenção partidária".

A defesa afirma ainda que "destituição de ocupantes de cargos de direção estadual, sem a abertura de processo interno ou possibilidade de defesa", fere o estatuto do Pros.

O ministro Sérgio Silveira Banhos acatou os argumentos. "Verifica-se que o ato de destituição, implementado com eficácia retroativa, não foi precedido pela instauração de procedimento próprio com esse desiderato, razão pela qual se afigura plausível a argumentação no sentido da ofensa aos princípios do devido processo legal e da ampla defesa", afirma no texto.

Nesta quinta-feira, o candidato do PT ao Governo, Elmano de Freitas, comentou a perda: "Tarefa para os nossos advogados fazerem recurso e o que for possível, para nós é importante. Mas estamos satisfeitos com nossa aliança".

A saga do Pros

Quando foi criado, em 2013, o Pros ganhou força no Ceará ao receber a filiação do grupo político dos irmãos Cid e Ciro Gomes que, à época, deixaram o PSB por discordarem da decisão do partido de desistir do apoio à reeleição de Dilma Rousseff (PT).

Em 2015, o grupo migrou do Pros para o PDT e esvaziou o partido no Estado.

Em 2018, a oposição assumiu o partido, sob presidência de Capitão Wagner que, naquele ano, foi o deputado federal mais votado. Em 2020, Wagner disputou a Prefeitura de Fortaleza pela legenda. 

O casamento, no entanto, chegou ao fim em março deste ano, quando Capitão Wagner venceu a queda de braço pela presidência do União Brasil no Ceará.

Sem Wagner na presidência há alguns meses, o partido viu seus quadros migrarem para o novo partido. 

Com comissões provisórias tanto estadual como municipal, o destino político ficou incerto. Havia filiados a favor de o Pros retornar à base dos Ferreira Gomes, e grupo favoráveis à Wagner.

Em junho, em evento em Fortaleza, a presença de Capitão Wagner gerou impasses internos. Participantes ligados ao partido em Fortaleza deixaram o local com a chegada do deputado federal. Na ocasião, eles se apresentaram como lideranças do Diretório Municipal. 

Em nota enviada ao Diário do Nordeste, a presidência estadual do Pros disse que não havia diretório municipal instalado, portanto a manifestação contrária não teria representatividade oficial dentro da sigla.

Poucos dias depois, o partido anunciou apoio ao palanque de Wagner.

Briga na Justiça

A novela judicial sobre de que lado ficará o partido começou em agosto, quando disputa jurídica nacional devolveu a presidência do Pros para Eurípedes Júnior que, em consequência, modificou o comando estadual.

Após a decisão no dia 3, a presidência do Pros Ceará passou de Adilson Pinho para Otoni Lopes de Oliveira Neto, sobrinho do ex-senador Eunício Oliveira (MDB). O MDB integra a chapa de Elmano de Freitas, do PT, e levou o Pros para o grupo.

A liminar foi derrubada no dia seguinte, e o partido voltou para a base de Capitão Wagner.

No dia 5 de agosto, decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do TSE, determinou o retorno de Eurípedes Júnior à presidência nacional do Pros, e o partido voltou para a base do PT.

A decisão mais recente em favor do União Brasil ainda é liminar, e o partido pode ainda não ter encerrado essa questão.

Ao divulgar o tempo de TV e rádio dos candidatos no Horário Eleitoral Gratuito, nesta quinta-feira, o tempo do Pros não foi contabilizado em nenhuma chapa.

Entenda o impasse nacional

O processo na Justiça Eleitoral foi ajuizado por Eurípedes após ser substituído por Marcus de Holanda, em uma eleição interna realizada em julho.

Eurípedes é da ala que fechou acordo para apoiar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República, enquanto Marcus de Holanda defende o lançamento da candidatura do empresário e influencer Pablo Marçal pela sigla. 

Desde o início deste mês, o Pros tem passado por mudanças no comando, com o "vai-e-vém" de Eurípedes e Marcus Vinícius por meio de decisões judiciais - afetando diretamente os rumos da legenda no Ceará.