Se a eleição presidencial de 2022 parecia repetir um fluxo esperado de vários candidatos no bloco da chamada terceira via e uma polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT) - como aconteceu em 2018, o terremoto político chegou nesta quinta-feira (31) pra lembrar que, já faz um tempo, a lógica é a do caos.
João Doria tem provocado uma série de impasses, nesta quinta, sobre deixar ou não o Governo de São Paulo e, por consequência, a presidência da República. Sérgio Moro deixou o Podemos para se filiar ao União Brasil desistiu da pré-candidatura a presidente pra disputar vaga na Câmara dos Deputados.
Ciro Gomes ainda não chacoalhou muita coisa, mas já tem nova rodada de conversas com o União Brasil na próxima semana e admite o discurso de "união" - olha só - da terceira via contra Lula e Bolsonaro.
Para ajudar a se situar no caos, a coluna ressalta três pontos de atenção nas atuais mudanças:
1) Eleição é fazer contas
O União Brasil tornou-se o maior partido do País, tem mais recurso de rádio e TV, mais dinheiro para a campanha, mais deputados federais e tem se fortalecido em todos os estados. Todo esse peso político-eleitoral parece estar sendo usado pelo presidente da sigla, Luciano Bivar, para fazer o que se dizia desejado, mas pouco possível: unir a terceira via.
Na últimas semanas, Bivar já teve conversa com Ciro, Moro, Doria, Simone Tebet (MDB) e Eduardo Leite (PSDB). Na pauta, um ponto em comum: a condição de que abandonem as pré-candidaturas para que trabalhem em um projeto em comum.
Ciro Gomes já deu declarações de que, após 2 de abril, voltará a se encontrar com as lideranças do União Brasil.
Mesmo com Lula e Bolsonaro à frente nas pesquisas, os nomes da terceira via somam milhões de votos e não passam despercebidos dos outros milhões de indecisos. Mas isso é um foco, não uma garantia. A preço de hoje, todos os nomes da terceira via somados não encostam no segundo colocado das pesquisas.
2) Impactos no Ceará
E se não há "paz" nas articulações nacionais, também não vai haver nas locais. No Ceará, quando a pré-campanha começou a tomar forma, o grupo de oposição liderado pelo deputado federal licenciado Capitão Wagner (antes no Pros, agora no União Brasil) e pelo senador Eduardo Girão (Podemos) parecia ter um destino certo: apoiar a reeleição de Bolsonaro.
Mas eis que Sérgio Moro se filia ao Podemos e anuncia pré-candidatura a presidente. A partir daí, os indicativos, tanto por parte do Podemos como do grupo de Wagner, foram de um palanque dividido, o que, claro, não era o melhor cenário para Bolsonaro.
Se, de fato, deslanchar a ideia de uma união na terceira via, com a costura do União Brasil, o palanque de Bolsonaro pode perder mais força no Estado por parte de Capitão Wagner. Não à toa, o PL se articula para garantir um palanque próprio.
Se a grande aliança contar com a presença de Ciro, o prejuízo pode respingar nos dois lados mais fortes da disputa, enfraquecendo também o palanque de Lula. Não à toa, uma ala do PT, liderada pela deputada federal Luizianne Lins, ainda insiste na tese de candidatura própria, e o Psol corre por fora oferecendo palanque na pré-candidatura de Adelita Monteiro ao Governo.
A desistência de Doria de disputar a presidência da República ainda atende aos anseios do senador Tasso Jereissati (PSDB), um dos principais fiadores da pré-campanha de Eduardo Leite. Uma possível escolha de Leite para ser cabeça de chapa ou vice também mexe nas estratégias do PSDB por aqui.
3) Quem leva a melhor?
Dos três nomes com melhor desempenho na ala da terceira via, Ciro Gomes é o que tem mantido o discurso, até agora, de que não vai desistir da pré-candidatura a presidente. Ele já até minimizou os atritos locais com o presidente do União Brasil, Capitão Wagner, num possível apoio do UB à sua campanha.
"Os problemas locais a gente tem que respeitar. (...) Não transformaremos as questões do Ceará em um questão que impeça um diálogo maior pelo Brasil", disse na última sexta-feira, 25, em evento em Fortaleza.
Há três meses pela frente até que os partidos tenham de protocolar as candidaturas e há, principalmente, muito mais a resolver para além do nome a unificar todos os outros.
O foco é atingir Bolsonaro ou Lula, pensando em um segundo turno? Seria melhor Ciro ou Moro? Eduardo Leite ou Simone Tebet - numa disputa, aliás, tão carente de mulheres? A terceria via vai conseguir atrair os indecisos? O problema é mesmo a polarização entre Lula e Bolsonaro, sempre tão atacada?
Se o fim da janela partidária e dos prazos de desincompatibilização davam uma esperança de um cenário começando a se desenhar, esse 31 de março veio mostrar que ainda há muito cálculo a ser feito e muita instabilidade nessa disputa eleitoral.
Campanha presidencial decide quem estará a frente de um país, não é passeio, é mobilização que tem impactos no rumo de toda uma nação. É preciso seriedade e compromisso nas decisões que se toma, decisões que começam bem antes de se assumir o cargo de fato. A ida às urnas é em outubro, mas a avaliação dos nomes já está em curso e não é só pelos dirigentes e aliados partidários.