Próximo de Arthur Lira, deputado pode ter papel estratégico para os interesses do Ceará em Brasília

AJ Albuquerque é o parlamentar cearense mais próximo do novo presidente da Câmara e aposta nesta parceria para articular recursos; ele minimiza divergências entre Cid, Camilo e Lira

Legenda: Deputado cearense AJ Albuquerque é um dos interlocutores do Estado no Congresso

A agitada disputa pelo comando da Câmara dos Deputados, ocorrida no início do mês, trouxe uma série de dúvidas em relação ao futuro da articulação política cearense na Casa e na interlocução com o Governo Federal, tendo em vista que o grupo governista cearense faz oposição ao presidente Jair Bolsonaro.

Mais do que isso, a eleição do deputado alagoano Arthur Lira (PP) para o comando da Câmara pôs em xeque a influência estadual, pois lideranças cearenses como o governador Camilo Santana (PT) e o senador Cid Gomes (PDT) atuaram junto aos 22 deputados federais para tentar garantir votos para Baleia Rossi (MDB), opositor de Lira, que acabou derrotado. 

No cenário atual, diante das circunstâncias, ganhará evidência a atuação do deputado federal AJ Albuqurerque (PP), filho do secretário de Cidades de Camilo, Zezinho Albuquerque. Ele é o deputado cearense mais próximo de Lira e será importante na articulação cearense.

Bastidores

Deputado com atuação nos bastidores, AJ tem ganho proximidade com figurões do Progressistas em Brasília como o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do partido, e o próprio Arthur Lira, alçado ao posto máximo da Câmara dos Deputados. O parlamentar cearense diz já estar em campo com as demandas cearenses que, segundo ele, vão se concentrar mais na Saúde no orçamento deste ano.

Ele diz que as divergências do passado não irão interferir nas articulações em Brasília, e o foco agora é no Orçamento Federal, em que ele é membro da comissão indicado por Lira, e também nas reformas que estão paradas na Casa.

Fogo cruzado

No Ceará, o PP faz parte da base aliada do governador Camilo Santana. Nacionalmente, entretanto, o partido tem se aproximado do governo Bolsonaro a quem o grupo governista faz oposição. Além disso, há uma divergência aberta entre Lira e o senador Cid Gomes. Os dois, recentemente, chegaram a trocar críticas em Brasília. No meio do fogo cruzado, o deputado cearense precisará ter jogo de cintura para fazer a ponte entre os dois lados. AJ insiste que não há como ficar olhando para o retrovisor, quando o momento é de se agarrar com os problemas como a retomada do auxílio emergencial.

O PP tem papel estratégico dentro do governismo cearense. Mantém cinco deputados estaduais, uma das maiores bancadas da Assembleia e tem influência sob mais três, sob a liderança do deputado licenciado Zezinho Albuquerque. Tanto na Capital como no interior, o partido teve participação importante no último pleito, elegendo dez prefeitos. O raio de ação do partido, entretanto, é bem maior do que este número.

Confira a entrevista completa com o deputado AJ Albuquerque:

O senhor é, na bancada cearense, o parlamentar mais próximo do novo presidente Arthur Lira, que é do seu partido, inclusive. Essa proximidade ajudará o Ceará? 

Sem dúvida. Arthur foi meu líder nestes dois anos (de mandato) e sempre me ajudou muito. Consegui recursos extas sempre com o apoio dele. A grande ajuda que dei ao governo do Estado na Saúde foi através dele. Agora, na Presidência da Câmara, vai poder fazer uma interlocução ainda maior com os ministérios e com o Palácio do Planalto. Estamos mais fortes para trabalhar pelo Ceará. O que defendo muito é a pauta municipal. Sei das necessidades dos prefeitos, tenho uns 20 prefeitos que me apoiam, e a gente sabe das dificuldades. Arthur Lira será peça fundamental neste movimento.  

Aqui, o governador Camilo Santana defendeu votos na eleição da Mesa Diretora para o Baleia Rossi (MDB, candidato de Rodrigo Maia que acabou derrotado). Isso pode dificultar a articulação lá? 

Acredito que não. A eleição passou. Temos que olhar para frente. Na minha opinião, o governo (do Estado) não deveria ter interferido, já que lá era uma coisa independente. Mesmo assim, acho que o Lira teve maioria aqui no Ceará (a maior parte dos votos da bancada), mas isso passou. Estamos unidos, os 22 deputados federais. E eu vou estar lá à disposição do Estado do Ceará para o que for necessário. 

Recentemente, Cid Gomes e Arthur Lira discutiram no Congresso. O senhor é aliado dos dois, há impactos nas articulações institucionais? 

Não. Não tem impacto. Isso foi coisa que aconteceu, mas o próprio Lira disse que no passado já votou no Ciro (Gomes, irmão de Cid) para presidente. Ele não vai olhar para o retrovisor. O nosso trabalho agora é se agarrar com os problemas dos brasileiros. O que temos que focar é nas reformas e nos projetos importantes que estavam parados com independência e harmonia. Quem conhece o Lira sabe dos compromissos deles. É um cara que cumpre acordos e vai valorizar o parlamento e dará mais força aos deputados representarem os seus estados. 

Essa proximidade com Arthur Lira facilitou sua indicação à Comissão Mista do Orçamento (CMO)? 

Foi ele que me indicou. Ele que trabalhou para isso e eu, inclusive, agradeci muito a confiança dele e vamos trabalhar. Sou o único membro titular cearense na Comissão Mista do Orçamento [Eduardo Bismarck (PDT) será suplente]. Estamos inclusive fazendo história, a deputada Flávia Arruda (PL-DF) é a primeira deputada mulher a presidir uma CMO. Neste ano teremos duas comissões de orçamento para 2021 e 2022. Essa de 2021 será uma coisa mais rápida, cerca de 15 a 20 dias... Temos que tentar que seja a mais breve possível até porque está tudo parado. E depois será instalada a de 2022. 

Os deputados já foram procurados para tratar das emendas com o governador? 

Ainda não. Isso deve acontecer nos próximos dias. Estou dialogando mais com os prefeitos. Os prefeitos estão pedindo muita ajuda para o custeio da Saúde. Os prefeitos estão com muitos problemas neste financiamento da área e temos que atuar nisso. 

Isso fará com que a discussão do orçamento gire em torno de Saúde, mais do que nos anos anteriores? 

Com certeza. Neste ano será R$ 16 milhões nas emendas impositivas (para cada deputado), em que a gente já tem que colocar, obrigatoriamente, 50% na Saúde. Pelo que tenho conversado, será mais do que isso neste ano. Para os recursos extras é que será ainda mais importante o diálogo com o presidente Arthur Lira e com o partido, o Progressistas que está mais fortalecido, para garantir recursos extra para ajudar a população. 

Emendas de bancada, já tem a definição das prioridades? 

Ainda estamos começando as reuniões de bancada. Só ocorreram reuniões virtuais. Na próxima semana, passado o carnaval, vamos nos reunir em Brasília para tratar das emendas de bancada. Terá aí o Hospital Universitário que devemos mandar recursos, mas vamos discutir melhor ainda. 

Sobre a disputa pela coordenação de bancada, já há um consenso? 

Pelo que sei, o deputado Genecias Noronha (SD) está colhendo assinaturas e buscando apoio. Eu assinei um manifesto de apoio a ele. Acho que só ele está recolhendo assinaturas. Tem uma reunião marcada para quarta-feira (17). Não sei se eles já conversaram, mas o Eduardo Bismarck quer continuar. E tem que ver os próximos passos. 

Auxílio emergencial, neste novo momento, o que há de concreto sobre isso? 

É fundamental saber que a população brasileira, principalmente os nordestinos e cearenses, precisam desse auxílio. Isso é fato. Mas temos que buscar as fontes destes recursos. Tenho certeza que o governo federal será sensível também. Já ouvi o presidente falando sobre isso. O PP defende que a gente busque as alternativas. Uma das possibilidades é taxar serviços de streaming de internet como a Netflix que não pagam impostos. Essa é uma alternativa... Para que esse auxílio tenha um peso mais significativo para impactar na vida dessas famílias.