Em novembro deste ano, a coluna foi até a França conhecer a fábrica da Airbus, em Toulouse. Porém, nossa missão no exterior não acabaria ali. Precisávamos ir até Orlando, nos Estados Unidos, visitar as atrações dos parques Disney.
Assim, tivemos que cruzar o Atlântico em altíssimas latitudes (afastamento angular em relação à linha do Equador) para chegarmos à terra do Mickey.
Passamos sobre a Groenlândia e Islândia, regiões fronteiriças ao círculo polar ártico, polo Norte.
Viagens cruzando a América do Norte e a Europa certamente são rotineiras para milhões de europeus e americanos. Para brasileiros, não é uma experiência corriqueira. Daí a importância de contar sobre essa experiência.
A missão para os EUA se iniciou no Aeroporto Internacional de Toulouse. Nosso voo partia para Londres (Heathrow) às 6h da manhã (hora local). O tempo de voo era um pouco maior que 1h10min.
Cruzando o Canal da Mancha
O A320 da British Airways que nos levaria a cruzar o Canal da Mancha era uma versão menos moderna, um A320-200, porém, com um interior bem conservado. O tempo no sul da França era de chuva fina. Decolamos e curvamos à direita sentido norte da Europa.
Após 30min de voo, o Sol começava a nascer e consegui ter visões mais abrangentes do território francês.
Já sobre a Inglaterra, sabia que estava me aproximando do maior aeroporto da Europa com seus 80 milhões de passageiros/ano, o dobro de Guarulhos-SP, nosso maior aeroporto.
À medida que tocamos o solo e o avião foi desacelerando, era um sem-fim de terminais (existem 4 terminais, mas alguns possuem os saguões A, B e C) ao longo da pista. Do outro lado dos terminais, paralelo à nossa pista de pouso, já percebia aeronaves decolando à medida que íamos desacelerando.
Heathrow tem duas pistas paralelas, uma de 3600m e outra de 3900m e, pela boa distância entre elas, possuem movimentos totalmente independentes. Um aeroporto no Brasil que se assemelha a essa configuração de duas pistas é Brasília, que também opera pousos e decolagens independentes.
Quando pousamos, saímos da pista pela direita, pude ver quatro aeronaves uma atrás da outra na final para pouso. Da mesma forma, em solo, era um sem-fim de aeronaves, 80% delas, da British Airways.
Fomos até o fim do terminal, cabeceira contrária a que pousamos. Lá certamente é o terminal de aviação narrowbody (aeronaves de corredor único) da British, dado que havia vários A320. O terminal 5 fica conectado à malha viária que circunda o grande sítio aeroportuário.
Desembarcamos através de ônibus com as cores e nome da British Airways (BA), posição remota, e fomos levados ao grande terminal 5. Como viemos da França, passamos por procedimentos de segurança, mas não por controle de passaporte, dado que iríamos continuar viagem. Todos estavam muito atentos às instruções nos cartazes eletrônicos que proibiam frascos de líquido com mais de 100ml.
Busca por um café da manhã
Enquanto procurava um local para tomar café da manhã, tirei uma foto da enorme tela de embarques de Heathrow: em média, 40 decolagens por hora, 2 decolagens a cada 3minutos, segundo aplicativo FlightRadar24.
O terminal onde estávamos possuía grande número de pontos para alimentação: havia desde lojas físicas, quanto quiosques e barracas self-service.
Onde comemos, fizemos o pedido por aplicativo, pagamos e uma garçonete trouxe a comida.
Saída atrasada
Quando pegamos a escada rolante para descermos até nosso portão, percebemos que seria um embarque remoto através de ônibus. Nossa saída, porém, estava atrasada em quase 2h.
Mas por onde o ônibus iria até a aeronave, um Boeing 777-200?
Descobri que, paralelo às pistas do Heathrow havia enormes túneis, por onde os ônibus e demais veículos podiam alcançar qualquer trecho do gigante aeroporto.
Após uns 5minutos trafegando, voltamos a superfície e nos deparamos com o 777, chamado big foot (pé grande) por ter um trem de pouso principal com enorme quantidade de pneus.
A aeronave, birreatora (dois motores), também estava estacionada em posição remota, de forma que nosso ônibus parou bem aos pés do gigante. Quando saltei do ônibus, tratei logo de me aproximar do motor gigantesco do avião. É o maior turbofan do mundo, com mais de 3m de diâmetro.
O 777-200 é uma versão mais curta do 777-300, mas ainda assim, tem capacidade para mais de 300 passageiros, com uma configuração de classe econômica de (3-4-3) em dois largos corredores.
Quando me sentei, estava numa janela à direta, e contemplei uma asa igualmente gigante. Do nosso lado, havia um avião maior ainda, um A380, com o seu inconfundível double deck.
Início do voo
Nosso voo até Orlando teve mais de 9h de duração, bem próximo ao percurso entre Campinas e Lisboa.
Depois de um bom tempo de taxiamento, chegamos à cabeceira da pista 27R (27 da direita, aponta para oeste), paralela à pista que pousamos. Consegui ver ao redor da pista vários hotéis e hangares de manutenção de empresas como a própria BA e a Virgin Airways.
Alinhados, os pilotos iniciaram a despejar potência para os grandes motores Rolls Royce Trent 800.
Após um breve tempo de aceleração, iniciamos nossa corrida e, depois de alguns segundos, decolamos. Já consegui ver desde a decolagem o trabalho frenético do flaperon (superfície de controle usada em aviões Boeing) trabalhando forte para nos manter em trajetória linear.
O flaperon ou aileron de alta velocidade exerce ação de hipersustentador (flap) e aileron. Porém estes se posicionam mais próximo da fuselagem. Como a asa é muito comprida, grande envergadura, o flaperon minimiza as cargas estruturais na junção asa-fuselagem. O aileron é a superfície de controle que faz o avião rolar (dobrar) para esquerda e direita.
A fabricante Airbus não usa o flaperon em seus aviões.
Chegamos ao Oceano Atlântico passando sobre cidades como Manchester e Liverpool. Passamos por Irlanda e Escócia, até termos só oceano na nossa proa.
Nosso almoço foi servido aproximadamente 1h depois da decolagem. Tivemos peito de frango com purê de batatas e feijão. Salada crua de quinoa, pãozinho e crackers com manteiga e, de sobremesa, uma deliciosa geleia de blackberry.
Para acompanhar o almoço, foram servidas garrafinhas de vinho tinto seco, Cabernet Sauvignon.
À medida que as primeiras horas iam passando, já tínhamos visão eletrônica da Islândia, Groenlândia e do Ártico. Lá de cima, só víamos um grande território branco.
Perguntei a um comissário da BA se a rota costuma ser muito turbulenta. Ele respondeu que eram comuns “light bumps” ou pequenos pulinhos, advindos da esteira de motor de outras grandes aeronaves. Eu que fico ansioso em turbulências, mas que as encaro com sobriedade, fiquei mais tranquilo.
Outro ponto que trouxe mais conforto ao voo, certamente, foi o fato de que não havia passageiro ao meu lado, apenas no corredor: lembrando que estávamos na configuração 3-4-3.
O voo inteiro fora muito tranquilo.
Atingindo a América do Norte
Após aproximadas 6h de voo, deixamos o Atlântico para trás e atingimos o norte do Canadá. Com mais 1h, chegamos perto da fronteira Canadá-EUA. Faltavam menos de 2h para Orlando.
Por volta de uma hora antes do pouso, pausa para o jantar: sanduíche de frango com molho agridoce. Começamos o procedimento de descida com mais de 8,5h de voo. A tarde estava bastante ensolarada e conseguíamos ver tudo no estado da Flórida.
Interessante notar que, saímos de um fuso horário 4h a frente do Brasil (França) e chegaríamos num fuso 2h atrás de Brasília, um grande trajeto ocidental.
Descida
Percebi que entramos numa carta de aproximação para Orlando porque começamos a realizar muitas curvas.
Na final para pouso, vimos um gigante lago, até encontrarmos com o Aeroporto Internacional de Orlando, 9h e 20minutos após a decolagem.
Quando pousamos, percebi que havia várias pistas paralelas e espaçadas no aeroporto. São quatro pistas paralelas e há muitas operações independentes de pouso e decolagem.
O Aeroporto de Orlando movimentou aproximadamente 50 milhões de passageiros em 2019 - mais que Guarulhos. Pensar que a aproximadamente 300km dali, no mesmo estado, há um aeroporto de porte semelhante: Miami, com 35 milhões de passageiros.
Orlando possui três grandes terminais, A, B e C. Todos conectados por trenzinhos rápidos e modernos. A mudança ágil de terminais, que são bem distantes, não é um problema.
Pousamos por uma pista bem no extremo leste do aeroporto, a 35R (35 da direita). Passamos mais de 20 minutos para chegar até nosso terminal.
O terminal C, que concentra bastante movimentação internacional, foi recém-inaugurado e possui instalações muito amplas e modernas, foi onde o triplo sete da British estacionou, ao lado de um belíssimo 777 da Emirates.
Não havia grande fila de imigração, a passagem foi sem percalços. Do lado de fora, há guias bilíngues português/inglês. Logo, não falar inglês, no aeroporto, não será um problema.
Sumário da viagem
- Pontualidade: infelizmente, o voo atrasou mais de 1h, o que acaba cansando os passageiros. Nota 5.
- Conforto: frente ao fato de estarmos na econômica, não poderíamos esperar um excelente padrão de conforto. Nota 7.
- Sistema de entretenimento: nota 9.
- Alimentação: adorei muito o almoço e o vinho servido e repetido. Já o lanche da chegada à Orlando fora muito simples. Nota 8,5.
- Aeronave: adoro o 777-200. O gigante não se intimidou aos eventuais ventos fortes do polo norte. Muito estável e não ruidoso: nota 9,5.
- Comissários: o comissário que nos atendeu mais frequentemente era bastante simpático e nos deu vinho extra. Nota 10.
Feliz por compartilhar meu primeiro flight report. Espero que tenham gostado.
Globalização da Aviação
Nessa jornada de 7 dias, passamos por Portugal, França, Inglaterra e EUA. A grande lição é que a aviação comercial certamente é um dos itens mais globalizados do mundo. Tudo é muito parecido, padrão, desde o check-in, raio X, embarque, desembarque e etc.
*O colunista viajou para a França e Estados Unidos a convite da Azul