Nesta terça-feira (10), o Governo Federal lançou a nova etapa do Programa de Aceleração do Turismo Internacional 2025 (Pati), o que inclui uma estratégia para incentivar o lançamento de novos voos internacionais partindo da Região Nordeste.
A previsão é de que um edital será lançado em janeiro de 2025 com R$ 24 milhões em investimentos e a captação de, ao menos, 260 mil novos assentos no próximo ano.
Entretanto, esses novos assentos em um ano não chegam a revolucionar, mas são os sinais de boa política pública voltada para o Nordeste, que tem um potencial mal aproveitado de captação de turistas internacionais. Tanto porque chegam poucos turistas internacionais frente ao sudeste, quanto chegam ainda menos via voos diretos. Conforme já compartilhamos, apenas 4 entre 10 turistas estrangeiros chegam ao Nordeste por voos diretos.
Um voo internacional semanal com uma aeronave de aproximadamente 200 assentos significa 400 assentos semanais (ida e volta), algo como 20 mil assentos anuais. Assim, estamos falando de até 13 novas frequências semanais (de ida e volta) para o Nordeste.
Como temos 5 aeroportos de capitais regularmente atendidos com voos internacionais (Fortaleza, Salvador, Recife, Natal e Maceió), na média, poderíamos estar falando de pelo menos 2 novos voos para cada uma dessas 5 cidades, um hipotético e interessantíssimo reforço.
Importante também porque o valor de R$ 24 milhões é proporcionalmente mais baixo, porém, que valores de subvenção naturalmente pagos por estados como Ceará e Bahia para a Air France por ano. Esses dois estados chegam a pagar anualmente para a companhia francesa e a Latam até R$ 20 mil por 5 frequências semanais de ida e volta.
Assim, o Pati Nordeste deseja atrair mais voos com menos recursos envolvidos.
Os valores de orçamento aprovados para voos em 2024 chegaram até R$ 800 mil. O valor aprovado para a rota para o Nordeste (2024WP0096), mencionado pela Embratur, foi bem menor: R$ 228,8 mil, menos de metade do valor previamente solicitado, conforme dados da Embratur.
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Mais chance de retorno de companhias que já voaram ao Nordeste
O incentivo do Pati reforça a chance de retorno de companhias aéreas que já estariam mapeadas para voar ao Nordeste novamente em 2025, como o retorno da Air Europa para Recife e o retorno da Iberia a Fortaleza e Recife, após mais de 10 anos.
Lembramos que, em 2025, aeronaves com o dimensionamento mais adequado ao Nordeste, como o A321 XLR, estarão cada vez mais disponíveis, ou seja, menos assentos, feitos para mercados médios, como as capitais Natal e Maceió.
Redução na hiperconcentração de voos
Conforme já escrevemos, os voos internacionais são hiperconcentrados no Sudeste do Brasil. Só São Paulo, leva 70% dos assentos internacionais no Brasil.
No início do ano, a primeira rodada do Pati (não-regional) acabou em fogo amigo para o Nordeste, com 70 mil novos assentos internacionais para o Sudeste e para o estado do Paraná, 0 para a região.
Quando perguntamos se o programa não estaria induzindo mais concentração internacional, em 27 de agosto, a Embratur nos respondeu que editais regionais estariam sendo pensados: "Na conclusão da primeira rodada de voos apresentamos uma tabela com o status das propostas melhores ranqueadas, onde constavam duas propostas do NE (2024WP0096 e 2024WP0097), que não foram concretizadas pelos aeroportos proponentes devido à ausência de empresas aéreas interessadas nas rotas".
Nesta mesma apresentação, também mostramos que, diferente das propostas das regiões Sul e Sudeste, nas que foram recebidas para a região Nordeste houve maior predominância de proponentes "aeroportos", indicando a carência de um posicionamento mais sólido das companhias aéreas em manifestação de interesse de lançar novos voos para a região.
Ainda segundo a Embratur, "um dos objetivos centrais do Pati, expresso nos critérios de pontuação presentes no edital, é a necessidade de descentralização. Cientes dos resultados e aprendizados obtidos na edição piloto do programa, uma das alternativas que estamos avaliando para a continuidade desta iniciativa inédita em nosso país é a regionalização dos editais".
Daí, o Pati Nordeste é muito importante, dado que, como visto, companhias aéreas não se interessaram por voos a partir do Nordeste, mesmo incentivadas.
Pati Nordeste pode ser chance para novas capitais do Nordeste
Na ABAV Expo 2024, feira da Associação Brasileira de Agências de Viagens, ocorrida em setembro passado, conversei com uma fonte de um estado que buscava atrair voos internacionais.
Contou-me que se chegou a uma companhia aérea e compartilhara que o Estado buscaria dar isenção de ICMS ao querosene de aviação para atrair voos internacionais. Como resposta, a companhia aérea teria dito que além da isenção, o Estado deveria pagar, subvencionar a companhia, para ter o voo.
A fonte do setor do turismo compartilhara que o valor pedido, milionário, não cabia no seu orçamento anual de órgão público.
Uma informação dessa não me deixa surpreso, dado que o capitalismo de algumas aéreas é extremamente agressivo, mas me decepciona. Para que se quebre a hiper concentração de voos no Brasil, não é apenas necessário ter demanda. É preciso remar contra negociações leoninas muitas vezes, algo que vários estados não conseguem fazer.
O PATI Nordeste pode apoiar justamente na questão financeira, suportando estados com menos recursos, ajudando a surgir voos internacionais.