A soma da movimentação de passageiros nos três maiores aeroportos do Nordeste (Fortaleza, Recife e Salvador) em 2023 remontou a quantidades processadas no ano de 2012, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Isso significa que o avanço de passageiros atingido entre 2012 e 2023 em nada relembra o grande crescimento de movimentações da década de 2000 a 2009, quando o crescimento superou 200%: do patamar de 7 milhões de passageiros para quantidade superior a 21 milhões.
Esse grande avanço no início do século XXI foi observado em todo Brasil e não se sustentou na década seguinte.
A pandemia então terminou por degradar como nunca as movimentações. Assim, 2023 foi o primeiro ano em que fluxo se mostrou mais condizente com a realidade, quando as três praças movimentaram 21.834.428 passageiros, monta 7% ainda menor que 2019.
Recife puxa para cima
Dos três aeroportos, apenas Recife já superou números pré-pandemia com recorde histórico.
O aeroporto dos Guararapes fechou 2023 superando a marca dos 9 milhões de passageiros. Em 2019, o aeroporto movimentara quantidade próxima de 8,8 milhões.
Em 2024, mais crescimento, segundo dados da AENA, concessionária, o janeiro-agosto dos Guararapes já é 5,5% mais intenso que igual período de 2023: novo recorde vem aí.
O aeroporto de Recife beneficia-se ano após ano do crescimento da Azul Linhas Aéreas. Entre 2019 e 2023, a companhia aérea movimenta quantidade superior a 1,1 milhão de passageiros a mais no aeroporto que está revitalizado e maior.
A Azul foi a responsável pelos Guararapes destronarem a liderança soteropolitana histórica de Salvador no Nordeste. Um problema é que Recife atinge uma marca em 2023 que Salvador já superava em 2012, ou seja, cresceu-se pouco.
Salvador puxa para baixo
Com queda de movimentação devido ao estabelecimento do hub Azul em Recife (em 2016) e da quebra da Avianca Brasil (maior player do aeroporto então), em 2019 Salvador movimentava 7,4 milhões de passageiros, involução que remontava a meados de 2009: 10 anos em passos para trás.
Em alguns meses de 2019, a movimentação mensal de Salvador sofreu; foi praticamente a mesma do aeroporto Pinto Martins de Fortaleza (falaremos já deste).
O aeroporto foi o grande afetado da década de 2010-2019, o responsável pelo crescimento baixo do podium nordestino.
Em números de 2023, Salvador ainda esteve abaixo dos níveis de 2019, quando movimentou praticamente 7,2 milhões de pessoas, 3% abaixo do nível pré-pandemia.
Em 2023, porém, o aeroporto emendou forte crescimento sobre 2022, superior a 10%, acompanhando também de crescimento proporcional em 2024 sobre 2023. Em outubro próximo, Salvador receberá nada menos que o início das operações da grande Air France que promete voos lotados juntamente ao seu poderoso hub Gol do Nordeste.
Que supere, em 2024, os níveis pré-pandêmicos.
E Fortaleza?
Se Fortaleza teve uma década de 2010-2019 razoável com crescimento relevante e nível recorde de passageiros, no pós-pandemia nosso aeroporto tem puxado também (muito) para baixo os números dos grandes como nunca.
Já falamos diversas vezes sobre os péssimos resultados de 2023, ano que foi pior que anterior, resultado da “saída” da Gol do Pinto Martins.
Quando achamos que o mercado se regularia e preencheria o hiato parcial da Gol, descobrimo-nos um aeroporto mais caro para operar: somos o mais distante de São Paulo, base das companhias. Recife e Salvador eram bem mais baratos de operar, grande infortúnio.
Ademais, faltava (falta) avião no mundo, não se conseguia incrementar voos em Fortaleza. Resultado foram passagens caríssimas, aeroporto gigante e ocioso.
Ao final de 2019, quando soubemos que bateríamos os 7 milhões de passageiros, tinha a certeza que cresceríamos forte em 2020: ledo engano. Crise do Max e pandemia nos boicotaram.
E hoje? Infelizmente 2024 ainda está pior em movimentação que em 2023. Apenas em junho passamos a movimentar mais que o respectivo mês do ano passado.
Assim, ainda há a chance de que 2024 não supere 2023, o que seria muito ruim. Por outro lado, o mês de julho foi bom (crescimento próximo a 5%) e no segundo semestre, teremos incremento já esperado de voos internacionais com a Air France. A distância, porém, para os números de 2019 é grande: da ordem de 20% abaixo.
Esperar-se-ia que a Gol incremente voos domésticos para alimentar melhor a parceira francesa, porém não conseguimos ver isso na prática até aqui. A companhia brasileira manterá menos que 15 partidas diárias por dia, melhor que 2023 entretanto.
Com essa quantidade de voos, de nada serve o incentivo a voos construído pelo Fraport, dado que o baseline (número mínimo de operações) é crescente no tempo, como já comentamos.
Para Fortaleza, porém, apenas janeiro de 2025 poderá ser um mês diferenciado da média, dado o grande crescimento que a Latam terá, porém, apenas em janeiro, o que é uma pena.
Crescimento econômico
Em 2024, como em anos anteriores, a média de crescimento da região Nordeste é maior que a do Brasil. Isso pode ser encorajador para que o movimento comercial aéreo cresça mais forte nesses aeroportos.
A análise que temos até aqui, porém, é que, quando um dos aeroportos cresceu mais que a média, este mais tirou passageiros dos aeroportos pares do que recebeu novos viajantes. Isso é verdade quando vemos que a mudança dos hubs das companhias brasileiras entre as cidades, possuiu uma componente de apenas mudar a cidade de conexão de viajantes.
Assim, penso que precisa haver mais crescimento orgânico das três praças, ou seja, viajantes mais frequentes e novos viajantes que voem pela primeira vez, como aconteceu entre 2000 e 2010.
Incremento de aeroportos comerciais no Brasil
No Nordeste, o crescimento menor da aviação comercial nos aeroportos de Recife, Salvador e Fortaleza podem ter ligação com o grande incremento de aeroportos com voos comerciais na região.
Em 2012, havia 20 aeroportos com voos comerciais regulares na região, movimentando mais de 34 milhões de passageiros movimentados. Já em 2023, foram 42 aeroportos comerciais (mais de 100%) de crescimento e mais de 35,4 milhões voando.
Essa maior quantidade de aeroportos acaba descentralizando (um pouco mais) os voos, e aí, quem voava por capitais, pode reduzir sua movimentação, já que aeroportos regionais podem suprir as necessidades de deslocamento.
Isso não é ruim, pelo contrário, porém, as capitais precisam ser indutores de crescimento para o interior dos estados. Algo que, como vimos, nem sempre acontece.