Winston Fritsch: economia do Ceará é um caso a ser estudado

Em mensagem à coluna, o economista -- um dos executores do Plano Real - disse em mensagem a esta coluna que fica impressionado com o empreendedorismo cearense. Como explicar isso?, ele pergunta

Um dos economistas que executaram o Plano Real – o mais exitoso e espetacular programa de combate à inflação e de estabilização monetária de que se tem notícia no mundo – Winston Fritsch foi impactado pela informação divulgada sábado, 12, por esta coluna, segundo a qual a empresa chilena Emcol Cal, uma gigante mundial desenvolvedora de variedades de Berries (mirtilo e morango, entre outros), celebrará Memorando de Entendimento com o Governo do Ceará para fazer pesquisas na Chapada da Ibiapaba para o cultivo de morango branco e fambroesa.

O solo, o clima e a altitude ibiapabanos são ideais para a produção de berries.

Este colunista tem estreita relação com Winston Fritsch, com quem, pelo menos uma vez a cada 15 dias, troca mensagens sobre temas da economia brasileira. Ontem, o economista, hoje um dos maios requisitados consultores empresariais do país, transmitiu à coluna, da qual é leitor, a seguinte opinião:

“Eu fico impressionado com o empreendedorismo do Ceara! Como explicar isso? É um modelo que tem de ser estudado.”

Ele tem razão. Reparem: têm sede no Ceará algumas das maiores empresas brasileiras da indústria e da agropecuária. Por exemplo: M Dias Branco é a líder do mercado nacional de massas e biscoitos, com fábricas em 7 estados, incluindo São Paulo; a Samaria, do empresário Cristiano Maia, é a maior produtora de camarão do Brasil; a Esmaltec, do Grupo Edson Queiroz, é a líder na fabricação de fogões, incluindo-se, ainda, entre as maiores fábricas de refrigeradores, freezers e bebedouros.

Na Chapada da Ibiapaba, cultivam-se e colhem-se pimentões coloridos, tomates de todas as variedades e flores – rosas, principalmente – que enfeitam as gôndolas das grandes de supermercados do país, e isto se faz por meio da cultura protegida, tecnologia que avança na velocidade da Space X também na região do Cariri, no Sul cearense.

A pecuária do Ceará, investindo na biotecnologia de ponta e na melhoria genética do seu rebanho,  não para de aumentar sua produção, inclusive nos anos de baixa pluviometria. Não é sem razão que a Alvoar -- fruto do casamento da cearense Betânia com a mineira Embaré -- é a quinta maior indústria de lacticínios do país e a primeira do Nordeste.

A indústria da construção civil do Ceará é, do ponto de vista da arquitetura e da qualidade dos seus produtos, é uma das mais inovadoras do país, e quem duvidar é só visitar Fortaleza, a Avenida Beira Mar e as ruas do seu entorno, coimo fez em setembro o mato grossense Blairo Maggi, que fez um vídeo e o distribuiu com seus amigos, convidando-os a vir aqui.

O Ceará tem um dos mais modernos portos marítimos do país -- o do Pecém -- ao lado do qual há um Complexo Industrial de que faz parte sua ZPE, a primeira e única em operação no Brasil, dentro da qual, além da usina siderúrgica da Arcelor Mittal, em funcionamento desde 2017, exportando 3 milhões de toneladas/ano de placas de aço para mais de 30 países.

Como e por que isto é possível? Resposta: porque o cearense é 100% empreendedor e 100% dedicado ao trabalho.

A mesma notícia que mereceu o comentário de Winston Fritsch causou, igualmente, manifestação positiva de Zuza de Oliveira, respeitado consultor em agropecuária. Ele disse: “Essa agenda de pesquisa com a Emcol Cal, organizada pelo secretário Silvio Carlos Ribeiro, é muito relevante para o objetivo de transformar a Ibiapaba na Almería do Ceará” (Almeria é a região da Espanha onde, usando a cultura protegida, mais tem crescido a produção da hortifruticultura europeia).

Zuza de Oliveira acrescenta: “Ali (na Ibiapaba) é para produzir hortifrutis nobres, pois toda a sua geografia tem um clima único no Nordeste – 3 graus de latitude e altitude de 500 a mais de 1 mil metros – com temperatura média anual de 19 graus, sonho dos floricultores e horticultores.”

Ele ainda diz: “Quem tem terra com água para irrigar não vende terra, mas hectare de clima.” Mas o fator limitante da Ibiapaba é água para irrigação – por insegurança hídrica, foram paralisadas as pesquisas para a produção de maçã, pera e caqui. “Nada garante o açude atual”, diz Zuza. O Jaburu, localizado no município de Tianguá, por falha de projeto, perde, por infiltração, boa parte de seu volume de água. Mas está pronto, aguardando licitação, o projeto de um novo açude, o Lontras, com capacidade de 347 milhões de m³, para atender a Ibiapaba e, também, parte dos sertões de Crateús. Todavia, para subir a Serra da Ibiapaba, as águas do Lontras, que será construído em Ipueiras, no sopé da serra, necessitarão de adutora e de potentes motobombas.

Kolowyskys Dantas, um cientista do agro cearense, também opinou sobre o mesmo tema abordado por Winston Fritsch. Ele mandou dizer à coluna: “Sim! A região da Ibiapaba, pelas condições edafoclimáticas, é muito favorável às mais diversas culturas, até mesmo as de clima temperado. Este nosso Ceará ainda vai dar o que falar.” Vai mesmo.

E para finalizar, o secretário Executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE), Silvio Carlos Ribeiro, informa: “Essas pesquisas com pera e maçã foram descontinuadas por causa da crise hídrica na Ibiapaba. Estive, recentemente, em Petrolina, onde me reuni com Paulo Roberto, pesquisador da Embrapa que coordenou aquela pesquisa. Ele acredita muito na produção de maçã e pera na Ibiapaba”.